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A colheita de trigo no Rio Grande do Sul começa na segunda quinzena do mês de outubro, com expectativa de El Ninõ trazendo chuva na fase decisiva para a qualidade dos grãos. Neste ano, foram semeados 865 mil hectares no Estado.
A primeira área a ser colhida está na Região das Missões, que concentra 60% do trigo gaúcho, onde um grupo de cooperativas busca na união a melhor forma de resolver o problema.
Na última terça-feira, dia 29/09, foi realizado em Santa Rosa, RS, o quarto encontro para avaliação do trigo nas Missões e no Noroeste do RS. A região apresenta um histórico de dificuldades para escoamento da safra, principalmente em função de intempéries climáticas. “De cada 10 anos de cultivo, 7 safras apresentam problemas com clima. Buscamos reunir as cooperativas da região, instituições bancárias e sindicatos para discutir alternativas que viabilizem o trigo”, explica o gerente técnico da Coopermil, Sérgio Schneider. No ano de 2008, o principal problema do trigo na região foi o excesso de chuvas, que ocasionou a germinação do trigo na lavoura, classificação comercial que deixou mais de 50% da produção fora dos padrões exigidos pela indústria. Na safra que se aproxima, o risco é de novamente a ocorrência de excessos de chuvas na colheita, resultando no popular “trigo chuvado”, que perde a qualidade e vira ração. “No ano passado, os testes apontaram baixo número de queda, também conhecido como Falling Number, antes mesmo do trigo mostrar sinais de germinação na espiga”, lembra o gerente comercial da Coopermil, Sérgio Oliveira, reclamando que as cooperativas da região ainda guardam cerca de 500 mil sacas de trigo da safra 2008, sem comercialização.
O grupo, que contou com a participação de técnicos e áreas comerciais das cooperativas Cotrimaio, Cotrisa, Cooperoque, Cotap, Cotrirosa, e Coopermil, cerealistas, agências bancárias, sindicatos rurais e assistência técnica, realiza reuniões periódicas para desenvolver estratégias a longo prazo, capazes de sustentar a produção de trigo nas regiões em questão. O primeiro encontro tratou do nivelamento de informações e conhecimentos sobre a questão, o segundo encontro tratou de levantar as dificuldades na produção; o terceiro discutiu opções de cultivares mais adaptadas à região; e o quarto avaliou quesitos de qualidade no trigo. Em cada encontro, participam profissionais da pesquisa para esclarecer dúvidas e embasar a discussão dos temas. “Se a liquidez já é difícil no resto do Estado, o escoamento da safra das regiões é ainda mais complicado, mesmo chegando primeiro ao mercado gaúcho. Precisamos avaliar como melhorar a situação, seja buscando qualidade ou mesmo reduzindo a área para evitar produção excedente”, afirma Sérgio Oliveira.
Qualidade
De acordo com a pesquisadora da Embrapa Trigo Eliana Guarienti, a definição da classe comercial de uma cultivar serve apenas para parâmetro da indústria, enquanto o que determina o resultado na lavoura é o ambiente. Dessa forma, uma cultivar que resulta em trigo pão na Região do Planalto, pode resultar em trigo brando nas Missões. A recomendação da pesquisa é acompanhar os dias de campo que apresentam as cultivares na região ou mesmo testar uma amostra no local antes de instalar a lavoura. “O trigo é muito dependente do clima. Muita radiação solar afeta a força de glúten, enquanto que o excesso de chuva prejudica o PH. Então, por melhor que seja o clima, ele vai alterar alguma característica da cultivar”, explica Guarienti.
A pesquisadora sugere buscar alternativas para amenizar a liquidez, como separar trigo germinado do grão sadio no momento da colheita; estruturar um melhor aproveitamento da área, associando outros cultivos, ou criação animal (trigo de duplo propósito); industrialização local para inserção na merenda escolar e consumo de baixa renda. “Investir na produção de alimentos de baixo custo, como massas e pães de cor mais escura, que podem ser elaborados com um trigo de menor qualidade, tem grande aceitação nos pequenos mercados”, avalia Eliana, finalizando: “está na hora de vender o milho e ficar com o trigo para a ração. É preciso quebrar paradigmas para sobreviver no mercado”.
Fugindo do problema
Para o pesquisador Eduardo Caierão, o produtor deveria escolher cultivares mais resistentes à germinação na espiga e a doenças relacionadas ao clima, além de escalonar o plantio. Mas a recomendação só é válida na implantação da lavoura, agora que a colheira se aproxima, resta apenas buscar estratégias para minimizar o problema. “A antecipação da colheita, levando em consideração os aspectos fisiológicos da planta, é uma das estratégias. Por vezes, vale a pena colher o trigo com maior umidade ao invés da lavoura ficar sujeita a mais chuvas na maturação. Entretanto, é preciso considerar as questões práticas da colheita, como a debulha mecânica, e os custos da secagem dos grãos. O produtor deve avaliar em faixas de lavoura se o trigo já pode realmente ser colhido e considerar a relação custo/benefício da antecipação”, alerta Eduardo Caierão.
Nas demais regiões do RS, onde o trigo ainda entra no espigamento, como no Planalto (60% em espigamento), os produtores estão aproveitando as rápidas aparições do sol para aplicar fungicida, tentando escapar da giberela. Nas áreas onde o trigo ainda está desenvolvimento vegetativo – afilhamento e elongação – como no Planalto Médio, ainda é possível repor o nitrogênio que a chuva levou: “Várias lavouras estão apresentando deficiência de N, sendo necessário reposição ainda no desenvolvimento vegetativo”, orienta o técnico da Emater/RS, Ataídes Jacobsen. Segundo ele, este é o momento de monitorar a lavoura para evitar danos maiores que a chuva, ressaltando que ainda vale a pena investir na cultura: “O preço da saca de trigo fechou em R$ 21,50 nesta semana, com a desvalorização do dólar em 23%, o que favorece as importações. Como o preço do trigo no mercado internacional tem caído em função da oferta no hemisfério norte, acredito que o preço mínimo de garantia da safra 2009 – cotado trigo brando tipo 1 a R$ 26,46 e trigo pão tipo 1 a R$ 31,80 – ainda será o melhor preço do mercado”, afirma Jacobsen, lembrando que o governo deverá acionar logo no começo da safra seus instrumentos de apoio à comercialização para distribuir o trigo no território nacional.
Joseani M. Antunes
Embrapa Trigo
(54)3316.5800 /
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