Tecnologia transforma Norte de Minas em polo do cacau

Pesquisas com irrigação, clones adaptados e visão computacional impulsionam expansão da cultura

03.11.2025 | 15:11 (UTC -3)
Agência Minas, edição Revista Cultivar
Fotos: Letícia Fagundes
Fotos: Letícia Fagundes

Pesquisas apoiadas pelo Governo de Minas indicam que o Norte do estado pode se tornar um novo polo de produção de cacau. Com clima semiárido, altas temperaturas e baixa pluviosidade, a região antes considerada pouco favorável à cultura agora desponta como promissora graças a avanços tecnológicos e novas práticas de cultivo.

Os estudos são conduzidos pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) e contam com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). À frente dos trabalhos está o engenheiro agrônomo e especialista em fitotecnia Victor Martins Maia, coordenador do Centro Tecnológico para Cacauicultura em Regiões Não Tradicionais (CTCRNT).

Segundo o pesquisador, o estado já soma cerca de 480 hectares cultivados com cacau, número que deve crescer significativamente nos próximos anos. “A expectativa é que, até 2026, essa área alcance cerca de três mil hectares”, afirma Maia. O centro recebeu R$ 3,5 milhões em investimentos da Fapemig para estudos sobre irrigação, nutrição, mudas e manejo da cultura.

Além de testar novas tecnologias para o cultivo, a equipe também utiliza visão computacional na estimativa da produção e desenvolve sistemas agroflorestais que integram o cacau com culturas como macadâmia e abacaxi. “A indústria mundial busca regiões capazes de produzir cacau de forma estável e com alta produtividade. O Brasil tem potencial para atender essa demanda com base em tecnologia e sustentabilidade”, ressalta o pesquisador.

Plantio consorciado com banana amplia rentabilidade

O avanço da cacauicultura no Norte de Minas é viabilizado por uma técnica de plantio a pleno sol, desenvolvida pela equipe da Unimontes, que associa o cacau a lavouras tradicionais de banana — já estruturadas com irrigação.

O método contrasta com o sistema “cabruca”, típico da Bahia, no qual o cacau cresce sob a sombra da Mata Atlântica. No consórcio com banana, os clones mais resistentes são cultivados à sombra das bananeiras durante dois anos, passando por podas regulares até se adaptarem ao sol pleno.

A estratégia traz ganhos diretos para os produtores locais. “Do ponto de vista econômico, o modelo é vantajoso: enquanto o cacau se desenvolve, o produtor mantém a renda com a banana”, explica Maia.

Década de pesquisa e adaptação

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Os primeiros experimentos com cacau no semiárido mineiro começaram em 2011, em Janaúba. Na época, o grupo testou clones da Bahia, mas as plantas não resistiram a uma sequência de anos secos. A partir daí, os pesquisadores concentraram esforços em selecionar materiais genéticos mais adaptados e aprimorar as técnicas de manejo.

Em 2017, o projeto ganhou novo fôlego com o apoio da Fapemig, que permitiu a retomada dos testes em campo e a realização de eventos técnicos de extensão para difundir o conhecimento entre os produtores da região. Desde então, esses encontros ocorrem a cada dois anos, reunindo agricultores, técnicos e pesquisadores interessados em expandir a produção.

Perspectivas e identidade regional

Hoje, o Centro Tecnológico da Unimontes desenvolve uma série de projetos voltados à qualidade do cacau produzido no semiárido. Um dos estudos, em parceria com a Universidade Federal de Lavras (Ufla), investiga o processo de fermentação dos frutos para produção de chocolate de origem.

A expectativa é criar um “terroir do Sertão”, com cacaus que expressem características únicas do Norte de Minas — como aroma e sabor diferenciados. “Estamos apenas no começo de uma nova fronteira produtiva para o estado”, conclui Maia.

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