Tecnologia emite alertas do avanço de doenças do algodão e da soja
Sistema vai monitorar ocorrências, no oeste baiano, de problemas importantes como a mancha de ramulária e a ferrugem asiática
31.01.2022 | 13:39 (UTC -3)
Embrapa
A Embrapa e a Associação
Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa) desenvolveram o Monitora Oeste, um sistema digital
que envia ao celular alertas sobre o avanço de doenças como a ferrugem asiática
e a mancha de ramulária, que atacam lavouras de algodão e soja, nas
propriedades rurais do oeste baiano. Agressivas, as enfermidades impactam a
produtividade das propriedades agrícolas provocando perdas estimadas em 30%, na
cotonicultura, e de até 80%, na sojicultura. Desenvolvida ao longo
de dois anos, a tecnologia está disponível para navegação gratuita em smartphone (Android e IOS) e em plataforma web. Ao cadastrar-se, o
usuário passa a receber informações sobre os focos e as condições climáticas
favoráveis para a proliferação das doenças e para a dispersão dos esporos na região.
Dentro do aplicativo,
o usuário encontrará sete funcionalidades: ocorrências e alertas; gráfico de
ocorrências; mapa de ocorrências; armadilhas; mapa de armadilhas;
favorabilidade e agrometeorologia. A tecnologia possibilita a aplicação de
filtros, como espécie (doença), municípios, núcleos regionais e safra. A versão
para Web traz ainda mais recursos, como o tipo de área em que a ocorrência foi
registrada, a sobreposição de camadas e a geração e exportação de mapas em alta
resolução.
Para o pesquisador da
Embrapa Territorial Julio Bogiani, líder da equipe que
desenvolveu o produto, o Monitora Oeste permitirá elevar a
eficiência de controle das doenças, com a possibilidade de redução de custos e
de impacto ambiental pelo menor número de aplicações de defensivos agrícolas.
Ele explica que, atualmente, as aplicações dos fungicidas são calendarizadas. Em
cada safra, são realizadas de oito a dez aplicações, com intervalos de 15 dias,
período de duração residual do fungicida. “O sistema dá aos produtores as
melhores condições para a tomada de decisão de abrir mão ou de utilizar os
defensivos agrícolas na época certa e na dose correta. Com o direcionamento dos
seus gastos, eles alcançarão uma economia muito boa”, afirma o cientista.
A Abapa levará a
tecnologia aos seus associados. Na visão de Luiz Carlos Bergamaschi, presidente
da associação, o Monitora Oeste possui os elementos necessários para o
incremento da produtividade do agricultor baiano. “A mancha de ramulária e a
ferrugem da soja são potencialmente devastadoras, quando fora de controle, e de
rápida disseminação. Ter a informação precisa e atualizada permite traçar
estratégias mais eficazes de controle, com sustentabilidade. Isso traz maior
rentabilidade e se alinha à nossa busca diária por sustentabilidade econômica,
ambiental e social”, disse.
O app e o WebGIS
No WebGIS o usuário
encontrará mais filtros de pesquisa, como estádio (fase de vida da planta) e
tipo de área onde se levantou o dado (área comercial, de experimento, de
pesquisa ou manejadas por empresas ou por instituições de pesquisa). Poderá
ainda identificar se os dados provêm da coleta de plantas voluntárias (que
nascem sem o manejo humano, seja no meio da estrada ou na lavoura). Pela
plataforma Web, também há a possibilidade de baixar as imagens em alta
resolução e realizar a sobreposição de camadas.
Alertas
Os alertas emitidos
pelo Monitora Oeste estão organizados em três níveis: ocorrências de doenças,
condições climáticas favoráveis para as ocorrências e condições climáticas
favoráveis para a dispersão de esporos no ar.
O primeiro nível
mostra onde foram identificadas plantas infectadas. Os dados são expressos em
mapas e gráficos. O levantamento das informações em campo segue o método
tradicional de observação, com o monitoramento realizado por uma rede de
colaboradores já atuante na região. As equipes são formadas por produtores locais,
técnicos da Abapa, da Embrapa e de parceiros, que percorrem as lavouras dos
municípios e dos núcleos regionais do oeste baiano, e verificam se há a
presença de doenças nas plantas.
Os núcleos regionais
foram criados pela Abapa em seu programa fitossanitário. São zonas produtivas
delimitadas com o intuito de facilitar o trabalho de monitoramento das
lavouras, tendo em vista a vasta extensão dos municípios do oeste baiano. Cada
um dos 16 núcleos possui uma equipe própria responsável por rondar as propriedades
agrícolas. Ao identificar focos das doenças, eles fazem o registro e lançam no
sistema, chegando ao celular do usuário instantaneamente.
Essa celeridade é um
dos diferenciais do Monitora Oeste, ressalta Antônio Carlos, responsável pelo
programa fitossanitário da Abapa. “O produtor precisa ser informado acerca dos
problemas que ocorrem nas suas propriedades, em tempo hábil, seja no caso de
ocorrência de pragas, doenças ou incidência de plantas daninhas resistentes aos
herbicidas, entre outros eventos percebidos na lavoura”, afirma.
Como observa Bogiani,
um número significativo de notificações de ocorrências nas proximidades das
plantações são sinais da iminência de um enfrentamento. De posse dessas
informações, os agricultores do núcleo regional podem planejar ações
sincronizadas de defesa.
Além da Abapa e da
Embrapa, a rede de colaboradores é formada por profissionais da Agência de
Defesa Agropecuária da Bahia (Adab), da Fundação Bahia, da Associação de
Agricultores Irrigantes da Bahia (Aiba) e de algumas
consultorias. A cada ano, a equipe receberá capacitações pela Embrapa no uso do
sistema.
Os outros alertas
Outro nível de alerta
enviado pelo Monitora Oeste aponta se as condições climáticas estão favoráveis
para o surgimento e para o desenvolvimento das doenças. O filtro
“favorabilidade” mostra sobre o mapa se existe alto ou baixo risco de
proliferação dos agentes causadores da mancha de ramulária e da ferrugem
asiática pelas plantações de acordo com as condições do clima. Para esse nível
de alerta, o aplicativo utiliza o banco de dados das estações meteorológicas do
Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), com atualização diária e em tempo
real.
O fitopatologista da Embrapa Algodão Fabiano Perina explica que há dois
fatores ambientais relevantes para a infecção dos fungos: umidade e molhamento
das folhas. Mas, ele ressalta, para que os esporos obtenham sucesso na
dispersão pela região, é necessário haver tempo seco. Ele destaca que essas
condições climáticas são encontradas no Cerrado baiano, com dias mais secos e
noites úmidas.
O sistema também
reúne dados da presença de esporos na região a partir de 44 armadilhas
georreferenciadas, distribuídas pelos núcleos regionais. Quanto mais pontos de
coletas, maior a precisão das informações, explica Perina.
Semanalmente, uma
equipe coleta as lâminas das armadilhas e levam-nas ao laboratório para
análise. Perina classifica como proativo esse monitoramento e destaca a
relevância dessa informação para o produtor. “Essas partículas caem na lavoura
e, se houver condições favoráveis, elas podem germinar e infectar a planta”,
explica.
Dentro do sistema, os
mapas das armadilhas são sobrepostos ao mapa da favorabilidade climática,
facilitando ao usuário compreender o risco de disseminação.
Índices
agrometeorológicos
Além dos dados de
alerta, o Monitora Oeste traz vários índices agrometeorológicos da região:
albedo, biomassa, NDVI, evapotranspiração e produtividade da água. O produtor
poderá fazer cruzamentos de camadas para obter informações estratégicas de seu
talhão. Essas buscas podem ser salvas na ferramenta, gerar um banco de dados
capaz de revelar a dinâmica temporal da produtividade do terreno ao longo das
safras. “São funcionalidades que terão uma rica informação agregada
futuramente”, acredita Bogiani. O sistema também poderá incluir futuramente
informações complementares, como vazio sanitário da cultura, dados do consórcio
de ferrugem, eficiência de fungicidas, entre outros.
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