Tecnologia de aplicação diminuiu volume de calda nos tratamentos de pomares e manteve a citricultura viável no país

Pesquisa aponta que citricultura paulista reduz, em duas décadas, consumo de água suficiente para abastecer por um dia 200 milhões de pessoas

29.03.2021 | 20:59 (UTC -3)
Fernanda Campos

No início da década de 2000, a tecnologia empregada no tratamento do ácaro da leprose dos citros, então principal praga da cultura, demandava consumo médio de 10 mil litros até 12 mil litros de água por hectare, para uma população em torno de 200 plantas por hectare. O controle do inseto era feito através da aplicação de acaricidas misturados a água, com emprego de pulverizadores do tipo “pistola”, conforme relata o pesquisador científico Hamilton Ramos.

Ramos é hoje o coordenador da Unidade de Referência em Tecnologia e Segurança na Aplicação de Defensivos Agrícolas, iniciativa que une o setor privado ao Centro de Engenharia e Automação (CEA), do Instituto Agronômico (IAC). Sediado na paulista Jundiaí, o órgão pertence à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. O pesquisador enfatiza que se o consumo de água demandado nos pomares vinte anos atrás não caísse, a citricultura teria se convertido numa atividade economicamente inviável.

Conforme Ramos, após uma série de estudos, realizados durante 12 anos, em uma parceria estratégica do CEA/IAC com o Fundecitrus – Fundo de Defesa da Citricultura, a média de consumo de água nas aplicações de defensivos agrícolas nos pomares caiu, nos dias de hoje, para 2 mil a 4 mil litros por hectare. “O recuo na demanda de água, altamente representativo, soma-se também ao aumento da cobertura da população de plantas tratadas, que saltou de 200 por hectare para 600 por hectare”, explica Ramos.

De acordo com o pesquisador, a redução do consumo de água obtida nessas áreas equivale, atualmente, ao volume necessário para suprir, por um dia, cerca de 200 milhões de pessoas.  “A manutenção da média de consumo demandada nos pomares em 2000 tornaria a citricultura economicamente inviável”, reforça Ramos. “A cultura passou por períodos difíceis, com o advento de doenças como CVC e greening. Isto elevou as pulverizações de plantas de 3 a 4 para cerca de 20 pulverizações anuais”, exemplifica.

Turbopulverizadores em campo 

O desafio da redução do consumo de água nos pomares paulistas envolveu Hamilton Ramos e os também pesquisadores Renato Beozzo Bassanezi e Marcel Bellato Spósito, do Fundecitrus. Obteve ainda apoio das empresas Cambuhy, Citrosuco, Cutrale, Herbicat e Jacto.

Conforme assinala Ramos, em torno de 20 campos experimentais foram montados a partir do ano 2000. O grupo analisou o desempenho dos chamados turbopulverizadores no processo de tratamento fitossanitário de pomares, frente a pragas e doenças. “Inicialmente, havia restrições quanto ao emprego desses equipamentos, pois na visão dos produtores os ‘turbo’ entregavam pouca eficácia ao controle do ácaro da leprose”, recorda Ramos.

Os turbopulverizadores, conta ele, tiveram aperfeiçoados recursos como cortina de ar, número de bicos, tamanho de gotas e velocidade de deslocamento. Os testes abrangeram diferentes modelos e marcas. “Os parâmetros de avaliação iniciais focavam na cobertura da área-alvo pela pulverização e na quantidade de ingrediente ativo de agroquímico presente nas plantas, nos pontos altos e baixos e na profundidade da copa. Passamos ainda a medir o volume de copa das plantas, para relacionar à eficácia de controle.”

Ramos salienta a nova tecnologia de aplicação resultante dos campos permitiu ao setor citrícola deixar de lado o parâmetro “litros de água por planta ou hectare”, nas pulverizações, para a medida “mililitros de água por m3 de copa”. Com base no aprimoramento constante dessa inovadora tecnologia de aplicação, informa ele, estabeleceram-se volumes de água entre 40 ml/m³ para alvos ‘externos’, como a doença pinta-preta e 100 ml/m³ para internos, como o ácaro da leprose.

“Esta técnica segue avançando em estudos a cargo do Fundecitrus, com trabalhos coordenados pelo pesquisador Marcelo Scapim. Resultados para diversas pragas e doenças já estão disponíveis”, revela Hamilton Ramos. “O modelo também faz parte dos treinamentos da Unidade de Referência em Tecnologia e Segurança na Aplicação de Agroquímicos”, finaliza.

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