Técnicas para boa germinação das sementes de alface
Técnica utilizada nas sementes de alface, priming apresenta vantagens e limitações; resultado positivo depende de atenção quanto alguns fatores
13.08.2020 | 20:59 (UTC -3)
Cultivar Hortaliças e Frutas
O cultivo de alface é realizado durante o ano inteiro, em diferentes regiões brasileiras. Com o mercado crescente, as empresas sementeiras priorizam o desenvolvimento de variedades cada vez mais adaptadas para os diferentes climas, já que as sementes de alface apresentam alta sensibilidade às temperaturas elevadas, o que pode ocasionar problemas na germinação.
Em condições de altas temperaturas (acima de 30°C), durante a fase inicial da germinação de sementes de alface pode ocorrer a termoinibição, que consiste em um estado temporário onde a germinação é inibida, mas o processo poderá ocorrer, uma vez que a temperatura volte a um nível adequado. É, portanto, um fenômeno reversível. Contudo, caso a condição de temperatura elevada permaneça, a germinação será totalmente impedida, ocorrendo assim a termodormência. Este processo leva desde a irregularidade na germinação, resultando em estandes não uniformes, até a completa perda da produção no viveiro.
O processo de germinação de sementes é dividido em três fases. Inicia-se com a absorção de água (Fase I) e prossegue com a ativação de diversos processos metabólicos (Fase II), que possibilitam o crescimento da plântula (Fase III), evento observado através da emissão da radícula. A irregularidade na germinação de sementes foi observada desde o início da atividade agrícola e a hidratação antes da semeadura é uma técnica que já era utilizada por produtores na Roma Antiga.
Seguindo-se o conhecimento adquirido sobre a germinação de sementes e os fatores que afetam o processo, foi desenvolvida a técnica denominada priming. De maneira geral, consiste em induzir o processo de germinação, interrompendo-o antes da fase III, através da redução da umidade das sementes. O priming é utilizado há muito tempo por empresas de sementes e tem sido constantemente aprimorado com o desenvolvimento de técnicas específicas que, além de permitirem a germinação rápida e uniforme, aumentam o vigor e o desempenho das plantas, tanto na fase de produção de mudas como no campo. Companhias do setor desenvolvem processos específicos, de acordo com o objetivo do priming, como, por exemplo, ampliar a faixa de temperatura de germinação em alface. Estes processos são patenteados pelas empresas e, portanto, suas características e seus procedimentos não são divulgados. Durante o priming, podem ocorrer aumento do número de aquaporinas (poros que permitem a passagem da água), acúmulo de substâncias osmoticamente ativas (aumentam a pressão osmótica nos tecidos, gerando gradiente que promove a entrada de água) e surgimento de proteínas específicas de resposta ao estresse. Estes fatores podem facilitar a entrada de água na semente e favorecer a germinação futura. Além disso, alterações moleculares e nas estruturas internas das sementes também contribuem para o sucesso da germinação após o priming. Foi observado que sementes submetidas ao priming apresentaram antecipação dos processos de degradação do endosperma, em comparação às sementes não tratadas, sendo este um dos fatores envolvidos na resposta positiva das sementes ao tratamento.
O priming consiste em uma técnica, na qual a hidratação das sementes permite que processos metabólicos, comumente ativados na fase inicial da germinação, ocorram até um determinado momento em que a tolerância à dessecação ainda não seja perdida. Este pré-tratamento, denominado embebição controlada, ocorre na fase de beneficiamento das sementes e é realizado antes de processos como a peletização.
Existem diversas metodologias para a aplicação desta técnica, que deve ser adaptada de acordo com o objetivo, uma vez que um resultado positivo será dependente da espécie, do genótipo, do lote, do vigor e das características fisiológicas das sementes.
O priming tem como principal objetivo permitir uma emergência rápida e homogênea. No entanto, são relatadas a redução de índices da foto e termoinibição e maior amplitude tolerável da temperatura para a germinação, condições que levam a uma maior capacidade de competição com plantas daninhas e até mesmo certa tolerância a patógenos.
Hidro-priming, osmo-priming e termo-priming são as técnicas mais estudadas, de acordo com levantamentos da literatura científica. O hidro-priming consiste na imersão das sementes em água, que é seguida pela secagem. Essa embebição ocorre em faixas de temperaturas de até 20ºC e, em alguns casos, é aerada, um fator adicional que pode levar a um melhor estabelecimento das plantas, quando em condições de limitação hídrica. Para sementes cujas características físicas do tegumento permitem rápida hidratação, a imersão não é recomendada, pois leva à perda de nutrientes, o que inviabiliza o uso posterior. O tratamento alternativo para estes casos é a exposição das sementes a condições de alta umidade, onde a velocidade de hidratação será reduzida.
Osmo-priming consiste na imersão das sementes em soluções que apresentam um baixo potencial hídrico, como soluções de açúcares, que permitem um controle da velocidade de hidratação. Como o potencial hídrico da solução é baixo, não há completa hidratação. Assim, mesmo ocorrendo a indução dos eventos pré-germinativos, a limitação hídrica não permite a completa germinação. Podem ser utilizados na solução de priming: polietilenoglicol (PEG), glicerol, sorbitol ou manitol. Após o procedimento, as sementes são secas ao ar. Além da melhora de índices germinativos, o osmo-priming maximiza o desempenho, quando a plântula é exposta a estresse salino.
Termo-priming consiste em expor as sementes a faixas de temperaturas adequadas para a germinação da espécie durante a fase de hidratação. Esta técnica pode melhorar as condições germinativas, quando as sementes tratadas são expostas a condições de estresse ambiental, reduzindo, por exemplo, a termoinibição. Sementes de cultivares de alface termosensíveis apresentaram termoinibição sob temperatura de 36ºC, porém quando as sementes foram submetidas ao processo de termo-priming, a germinação foi elevada a níveis aceitáveis.
Além das técnicas já citadas, são mencionadas na literatura diversas outras de priming que promovem tolerância ou previnem certas condições, como ataque de micro-organismos (quimio-priming), e incluem o uso de micro-organismos benéficos (bio-priming) ou de reguladores de crescimento (hormo-priming). Estas técnicas diferenciam-se da inoculação, por exemplo, uma vez que nela os defensivos, micro-organismos e reguladores de crescimento são aplicados na superfície das sementes a seco, enquanto durante o priming estes aditivos encontram-se na solução de hidratação.
As diversas vantagens e ganhos da utilização de sementes tratadas com priming, como a sincronização da germinação, a aceleração do desenvolvimento, a melhor eficiência da utilização de nutrientes do solo, a resistência a estresses como o salino, térmico, hídrico e bióticos são amplamente reconhecidas. No entanto, existem algumas limitações para o uso do priming e neste sentido podem ser destacados alguns pontos como o fato de que o tratamento ótimo varia amplamente entre as espécies, cultivares e lotes. Assim, é requerido bastante tempo e investimentos para identificar quais os tratamentos de priming que atuam na superação de alguma condição específica. Outros riscos incluem ainda a contaminação por micro-organismos durante a embebição na solução e danos causados pela rápida dessecação para alcançar o status de hidratação da semente anterior ao priming. A maior limitação da técnica está no tempo de viabilidade das sementes que foram tratadas, que é significativamente reduzido quando comparado a sementes que não foram submetidas ao priming.
De acordo com informações oferecidas por empresas de sementes que atuam no Brasil, praticamente todas as sementes peletizadas que fazem parte do catálogo profissional de cultivares de alface foram submetidas a processos de priming. O avanço das técnicas de priming é importante, pois objetiva superar problemas que são comumente enfrentados na rotina do produtor de mudas.
A alface
A alface (Lactuca sativa L.) é a folhosa de maior importância econômica do Brasil. Segundo a Associação Brasileira do Comércio de Sementes e Mudas (ABCSem) é a terceira hortaliça em maior número de produção, sendo a folhosa mais consumida pelos brasileiros. A espécie, que é rica em vitaminas e auxilia no emagrecimento, é utilizada principalmente in natura, em saladas frescas. Nos últimos anos, a produção da alface no cenário nacional teve um aumento significativo para suprir seu consumo cada vez maior e a procura no mercado de minimamente processados e atender, principalmente, as redes de fast-food.
Michael Henriques Pereira, Rita de Kassia Guarnier da Silva e Cláudia Lopes Prins, Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF)
Cultivar Hortaliças e Frutas Julho 2019
A cada nova edição, a Cultivar Hortaliças e Frutas divulga uma série de conteúdos técnicos produzidos por pesquisadores renomados de todo o Brasil, que abordam as principais dificuldades e desafios encontrados no campo pelos produtores rurais. Através de pesquisas focadas no controle das principais pragas e doenças do cultivo de hortaliças e frutas, a Revista auxilia o agricultor na busca por soluções de manejo que incrementem sua rentabilidade.
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