Solos modificados pela ação do homem há séculos podem gerar novos fertilizantes orgânicos

Solos modificados pela ação do homem manejando resíduos orgânicos ou minerais há milhares anos se revelaram terras extremamente férteis.

23.02.2016 | 20:59 (UTC -3)
Carlos Eduardo Vasconcellos Dias

Solos modificados pela ação do homem manejando resíduos orgânicos ou minerais há milhares anos se revelaram terras extremamente férteis. Localizados em diferentes regiões do planeta eles fascinam os cientistas que buscam entender como eles se formaram e maneiras de replicá-los. O uso de resíduos orgânicos para a produção de fertilizantes é uma proposta inovadora, onde um problema ambiental pode virar uma solução agronômica Pesquisadores brasileiros e alemães se encontrarão na Embrapa Solos (Rio de Janeiro-RJ), entre 29 de fevereiro e 04 de março a fim de trocar experiências sobre o assunto.

Esses solos podem estar distantes, como as terras pretas europeias ou os solos criados pelos astecas no México (as chinampas); ou mais próximos, as Terras Pretas de Índio, na Amazônia e os sambaquis da Fazenda Campos Novos, em Cabo Frio (RJ) que, entre seus hóspedes ilustres, teve Dom Pedro II e Charles Darwin.

"Esse encontro vai alavancar as pesquisas na área. O estudo desses solos tem inspirado manejos inovadores, como o uso de resíduos carbonizados", conta um dos organizadores do encontro, o pesquisador da Embrapa Solos Wenceslau Teixeira. "Daremos um novo passo com o estudo dos sambaquis, um exemplo interessantíssimo da combinação de conchas e resíduos orgânicos. Eles podem estabilizar carbono e reter os nutrientes, um dos principais desafios no manejo dos solos tropicais, cuja eficiência da adubação é baixa", completa Teixeira.

Essa cooperação Brasil/Alemanha busca conhecer melhor os processos físico-químicos pelos quais o ser humano transformou solos pobres em nutrientes em solos férteis, podendo criar uma nova geração de fertilizantes orgânicos. Também é possível reabilitar solos empobrecidos e mitigar emissões de efeitos estufa buscando benefícios agronômicos e para o meio ambiente.

Convidados ilustres

O evento reunirá nomes consagrados mundialmente na pesquisa, como Wolgang Zech, da Universidade de Bayreuth (Alemanha). Ele foi um dos inovadores no uso de técnicas avançadas de caracterização da matéria orgânica no solo e também responsável por uma geração de pesquisadores. Grande parte das pesquisas de Terra Preta de Índio, no seu início, foi feita por seus orientados. Wolgang coordenou grandes projetos no Brasil (estudos do impacto humano na floresta e planícies inundáveis nos trópicos) No evento, vai apresentar resultados de pesquisas de solos antrópicos (solos modificados pelo homem) na Sibéria.

Também da Alemanha, da Universidade de Oldenburg, vem a professora Luise Gianni, uma das maiores especialistas nos solos antrópicos europeus. Ela estuda solos criados na idade média, que transformaram terras inférteis e arenosas em solos férteis e produtivos.

Madu Gaspar é arqueóloga do Museu Nacional do Rio de Janeiro, com longa carreira no estudo de sambaquis. É autora de inúmeros trabalhos sobre o tema e responsável pela formação de uma geração de novos arqueólogos.

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