Soja e milho: como o mercado se comportou - 20/03/2023
Diante das condições logísticas e avanço da colheita, os prêmios tendem a sustentar as quedas, puxando os preços da soja no mercado físico brasileiro para baixo; para o milho, cotações brasileiras poderão continuar pressionadas
20.03.2023 | 13:47 (UTC -3)
Ruan Sene, Grão Direto
A semana que passou mostrou a volta da peste suína africana na China, o aumento do percentual de mistura de biodiesel no diesel e as chances de El Niño na Ásia. Nesta semana, o contrato com vencimento em março/23 se encerrou, passando a vigorar o contrato com vencimento em maio/23, que finalizou a semana sendo cotado a U$ 14,76 o bushel (-3,02%). Já o contrato com vencimento em julho/23, a U$ 14,61 o bushel (-2,21%).
A epidemia de peste suína africana na China já começou a apresentar para o mercado o mesmo sentimento de 2021, quando o país asiático teve que abater 40% de seu rebanho de suínos. Na época, a doença colaborou para uma queda expressiva nos prêmios da soja brasileira, e agora, em 2023, isso poderá acontecer novamente, agravando ainda mais as quedas atuais. O mercado de suinocultura é o maior demandante de farelo de soja no mundo, que é usado para alimentação do rebanho e, um novo abate expressivo, diminuiria significativamente a demanda pela soja brasileira.
Por outro lado, nesta semana, o governo brasileiro decidiu que a mistura de biodiesel no diesel passará de 10% para 12% a partir do próximo mês, pretendendo chegar em 15% até 2026. Isso impacta em aumento na demanda por soja no mercado interno, já que o derivado óleo de soja é uma das matérias primas para o biodiesel, abrindo assim, novas oportunidades de venda para o produtor brasileiro.
Conforme vamos nos aproximando do início da safra norte-americana, o mercado vai ficando mais cauteloso em relação ao clima. O fenômeno La Niña está enfraquecendo, indicando uma possibilidade da ocorrência do fenômeno El Niño. Normalmente, o fenômeno apresenta um inverno menos frio, com volumes maiores de chuvas para o sul do Brasil, enquanto que nos Estados Unidos, normalmente nota-se um volume de chuvas maior com temperaturas mais elevadas, principalmente nas regiões centrais do sul e sudeste. No mais, dependendo da intensidade e variações do fenômeno, ele poderá causar fortes secas com aumento no volume de furacões e tempestades na região Leste dos Estados Unidos.
O dólar teve uma semana de alta nas cotações, fechando a US$ 5,27 (+1,15%). Durante a semana, as atenções se voltaram para o Vale do Silício, onde o maior banco financiador das startups: Silicon Valley Bank (SVB), apresentou balanços negativos, vindo à falência. Esse cenário reacende o temor de uma possível recessão econômica nos EUA, impactando o mercado global. Diante disso, mesmo com a alta apresentada na cotação do câmbio, não foi suficiente para surtir efeitos positivos nos preços da soja no mercado físico.
O que esperar do mercado de soja?
Segundo Ruan Sene, analista de mercado da Grão Direto, para esta semana, o mercado ficará de olho na reunião do Banco Central dos Estados Unidos (FED), que deverá definir o rumo para as taxas de juros do país, logo após a quebra do SVB, tendo em vista que havia anunciado uma desaceleração nos aumentos das taxas de juros. Contudo, os temores de recessão, juntamente com as informações do Payroll, mostrando a economia aquecida, podem ser fatores determinantes para um possível aumento.
Além disso, o mercado manterá as atenções nas informações sobre o avanço da peste suína africana na China. O vírus tem um alto poder de contaminação e pode, rapidamente, se espalhar entre os suínos, causando a morte ou a necessidade de abate. Podemos ver uma fomentação no mercado interno de suínos, intensificando a demanda interna por farelo de soja, já que é utilizada para fabricação da ração para alimentação do animal.
Diante das condições logísticas e avanço da colheita, os prêmios tendem a sustentar as quedas, puxando os preços do mercado físico brasileiro para baixo. O cenário com uma diminuição da demanda chinesa, devido à peste suína, tende a fazer uma pressão de baixa nas cotações de Chicago para a próxima semana.
Como o mercado do milho se comportou na última semana?
A semana que passou foi marcada pela continuidade das negociações sobre o acordo do Mar Negro, plantio da 2ª Safra de milho e mais uma queda na expectativa da produção da Argentina. Diante disso, as cotações de Chicago finalizaram a semana sendo cotadas a U$ 6,35 o bushel (+1,28%) para o contrato com vencimento em maio/23.
As negociações do acordo de exportação de grãos do Mar Negro continuam e há um consenso de renovação. Porém, neste momento, ainda há um embate em relação à extensão do acordo, em que a Rússia defende uma renovação de 60 dias, enquanto as Nações Unidas, Turquia e Ucrânia, uma extensão de 120 dias. Um período de extensão mais curto aumenta, de forma significativa, os riscos envolvendo a logística para os navios, considerando que demora, em média, 40 dias para finalizar todo o processo de carregamento e liberação.
O plantio da safrinha 2023 continua progredindo, porém teve um ritmo mais lento na semana. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), houve evolução de 8,9% durante a semana, atingindo 72,5% a nível nacional. Apesar do avanço, ainda encontra-se com 14,9% de atraso em relação ao ano anterior. No geral, as lavouras seguem em bom desenvolvimento, mas ainda precisam da continuidade do clima favorável.
As exportações brasileiras continuam aquecidas, se comparadas ao ano anterior. De acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), em apenas 8 dias úteis do mês de março, o Brasil exportou em torno de 730 mil toneladas de milho, superando as 14 mil toneladas exportadas em todo mês do ano anterior. Isso reforça a continuidade da demanda internacional pelo milho brasileiro.
O que esperar do mercado de milho?
Para Ruan Sene, analista de mercado da Grão Direto, o clima continuará favorecendo o plantio no Brasil durante a semana, mas começa a apresentar algumas dúvidas em relação a chegada do outono no Brasil. O Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) aponta que essa estação é caracterizada pela transição entre o verão quente e úmido e o inverno frio e seco, principalmente no Brasil Central, em um cenário que poderá frustrar a expectativa de produção recorde.
Notícias sobre a renovação do acordo de exportação envolvendo Rússia e Ucrânia poderão provocar movimentação nas cotações, principalmente se houver algum tipo de resistência ou exigências adicionais de alguma das partes envolvidas. O mercado espera que o acordo seja renovado por mais 120 dias e a exportação de milho continue.
As cotações brasileiras poderão continuar pressionadas diante das projeções otimistas de produção no país, e dessa forma, ter uma semana de desvalorização em relação aos preços.
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