Soja e milho: como o mercado se comportou - 03/04/2023

Leve valorização nas cotações brasileiras da soja, em relação à semana anterior; para o milho, o desenvolvimento satisfatório das lavouras vem apresentando uma forte pressão de queda nas cotações da bolsa brasileira

03.04.2023 | 17:06 (UTC -3)
Ruan Sene, Grão Direto
Leve valorização nas cotações brasileiras da soja, em relação à semana anterior; para o milho, o desenvolvimento satisfatório das lavouras vem apresentando uma forte pressão de queda nas cotações da bolsa brasileira; Foto: Wenderson Araujo/CNA
Leve valorização nas cotações brasileiras da soja, em relação à semana anterior; para o milho, o desenvolvimento satisfatório das lavouras vem apresentando uma forte pressão de queda nas cotações da bolsa brasileira; Foto: Wenderson Araujo/CNA

A semana anterior foi marcada pela atualização dos números de intenção de plantio e estoques trimestrais norte-americanos, altas nos derivados de óleo e farelo de soja e arcabouço fiscal. Diante disso, o contrato com vencimento em maio/23 finalizou a semana sendo cotado a U$ 15,05 o bushel (+5,32%) e o contrato com vencimento em julho/23 encerrou a U$ 14,75 o bushel (+4,83%).

No relatório de intenção de plantio e volume dos estoques trimestrais dos EUA, divulgado na sexta-feira (31/03), foi informado que a área plantada de soja será de 34,41 milhões de hectares, a mesma área da safra anterior e abaixo do esperado pelo mercado. O estoque trimestral de soja foi de 45,8 milhões de toneladas, também abaixo do esperado pelo mercado, resultando em um impacto positivo nos preços em Chicago.

O óleo e o farelo de soja tiveram uma semana positiva, ajudando as cotações da soja em Chicago. O óleo subiu 4,17%, acompanhando a alta do petróleo e sua correlação com o biodiesel. O farelo, por sua vez, subiu 4,70% por conta do baixo volume de exportação da Argentina, maior exportador mundial, devido à quebra de safra já concretizada.

De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), aproximadamente 70% da safra de soja do Brasil já foi colhida, o que representa cerca de 105 milhões de toneladas colhidas em uma estimativa total de 150 milhões de toneladas. Os preços da soja caíram com o aumento da oferta devido ao avanço da colheita, mas estabilizaram na semana anterior.

Segundo o analista de mercado da Grão Direto, Ruan Sene, isso ocorreu porque os compradores precisavam garantir a originação da soja e muitos produtores optaram por armazenar o grão.

Na última semana, o dólar sofreu uma queda expressiva, refletindo o novo arcabouço fiscal apresentado pelo governo federal. Ao encerrar a sexta-feira, a moeda americana estava cotada a R$ 5,07 com uma desvalorização de -3,43%. Embora a proposta de controle dos gastos públicos ainda precise ser aprovada no Congresso, o mercado reagiu positivamente à medida, tendo em vista a manutenção da inflação em patamares elevados.

Ruan Sene acredita que apesar da queda significativa do dólar, a alta de Chicago prevaleceu, apresentando leves valorizações para as cotações brasileiras, em relação à semana anterior.

O que esperar do mercado para soja?

Durante esta semana, o mercado continuará a analisar os novos números divulgados pelo USDA. Além disso, a ausência da China no mercado entre segunda e quarta-feira devido ao "Festival de Ching Ming" provavelmente resultará em uma redução no volume de negócios e terá um efeito negativo em Chicago, já que a China é uma grande compradora de produtos agrícolas dos EUA. Na sexta-feira, muitos países, incluindo o Brasil e os Estados Unidos, terão o feriado referente à "Sexta-feira Santa".

O sindicato de inspetores de grãos da Argentina (URGARA), anunciou paralisação nacional a partir da meia-noite do dia 31/03/2023, reivindicando reajuste salarial. A paralisação pode atrasar o carregamento das 600 mil toneladas que estão nomeadas para exportação. Para o Brasil, caso a Argentina atrase seus embarques de farelo de soja, o mercado pode recorrer ao farelo brasileiro, o que pode acarretar um prolongamento na estabilidade dos prêmios ou até uma melhora nas ofertas de compra.

Para o dólar, a semana poderá ser marcada pela continuidade da desvalorização da moeda em relação à moeda brasileira. Na quinta-feira, haverá a divulgação dos dados de emprego nos EUA, que vão indicar a saúde da economia norte-americana e, consequentemente, afetar o valor do dólar em relação a outras moedas, incluindo o real.

Segundo o analista de mercado da Grão Direto, Ruan Sene, os cenários descritos, poderão resultar numa leve valorização nas cotações brasileiras, em relação à semana anterior.

Como o mercado do milho se comportou na última semana?

A semana anterior foi marcada pela atualização dos números de intenção de plantio e estoques trimestrais norte-americanos, início da colheita na Argentina e exportações brasileiras. Diante disso, as cotações de Chicago finalizaram a semana sendo cotadas a U$ 6,58 o bushel (+2,17%) para o contrato com vencimento em maio/23. O mercado físico brasileiro teve uma semana de leve valorização.

Durante a semana, o mercado ficou atento às atualizações divulgadas pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). O relatório mostrou que o estoque trimestral norte-americano foi de 187,98 milhões de toneladas, cerca de 1 milhão abaixo das expectativas do mercado. No entanto, o relatório de intenção de plantio da safra 2023/24 indicou uma área de 37,23 milhões de hectares, 1,4% acima do esperado pelo mercado. Neste cenário, o produtor estadunidense está optando por plantar mais milho em detrimento da soja, devido à melhor rentabilidade.

A colheita da safra argentina de milho começou, e os primeiros números apresentados pela Bolsa de Cereais de Buenos Aires indicam uma produção de 36 milhões de toneladas, o que representa uma queda de 30% em relação à projeção inicial. Esse cenário reforça a redução na oferta mundial de milho e aumenta a atenção sobre o desenvolvimento da 2ª safra no Brasil e nos EUA.

Apesar do movimento de queda nos volumes de exportação, se comparado aos meses anteriores, o Brasil ainda vem mantendo destaque no contexto histórico. Segundo a Secretaria de Exportação (Secex), as compras do Japão, Coreia do Sul e Colômbia estão compensando a ausência da China. A Secex também prevê que o volume de exportação em março deve ultrapassar 1,3 milhão de toneladas, o que representa o maior volume dos últimos 7 anos.

O que esperar do mercado para o milho?

As condições climáticas vão continuar sendo acompanhadas de perto pelo mercado, diante do desenvolvimento do milho 2ª safra. De acordo com a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA), esta semana terá chuvas significativas na região Centro-Norte do Brasil, mantendo a expectativa de alta produção brasileira.

É provável que a procura pelo milho produzido nos Estados Unidos permaneça elevada, uma vez que o país tem disponível, neste momento, volumes suficientes e acessíveis (em comparação com a Ucrânia e Brasil) para negociação. Porém, deve ser reduzida nesta semana por conta da ausência da China e feriados pelo mundo.

O desenvolvimento satisfatório das lavouras de milho vem apresentando uma forte pressão de queda nas cotações da bolsa brasileira (BM&FBovespa). Por outro lado, o mercado interno ainda se encontra aquecido e deve segurar os preços no mercado físico, aliviando um pouco do viés negativo. Mas, a semana ainda poderá ser marcada por continuidade de queda.

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