Comissão avalia tendências de produção da cana na safra 25/26
Palestra de especialista aponta para uma queda de produtividade e do ATR da cana no novo ciclo
Pesquisadores da Universidade de Illinois demonstraram que a deriva de dicamba, mesmo em concentrações ínfimas — 1/10.000 da dose recomendada — altera a resposta espectral da copa da soja. Seu estudo analisou essas alterações por meio de sensores multiespectrais embarcados em veículos aéreos não tripulados (VANTs). Os resultados indicam que, a partir de oito dias após a exposição ao herbicida, índices como o “excess red” (ExR), o “green leaf index” (GLI) e o canal “red-edge” (RE) já captam sinais da injúria.
A pesquisa utilizou soja não tolerante ao dicamba (variedade CZ3750GTLL) como cultura sentinela para mensurar a extensão e intensidade dos danos provocados pela deriva do herbicida. A injúria foliar — caracterizada por encarquilhamento, crescimento desproporcional e necrose marginal — foi registrada em campo por escala de sintomas e correlacionada com imagens obtidas por sensores RedEdge-MX Dual e Altum, em duas safras consecutivas (2022 e 2023).
As simulações de deriva foram feitas com cinco taxas subletais do herbicida diglicolamina de dicamba, variando de 1/10.000 a 1/300 da dose recomendada (0,056 a 1,87 g a.e. / ha). Em todas as concentrações, as plantas sensíveis apresentaram alterações morfológicas e espectrais, com maior severidade aos 29 dias após a aplicação.
A cupping (encurvamento) das folhas superiores reduziu a área foliar exposta, revelando tecidos do dossel inferior. Essa reorganização morfológica da copa provocou mudanças na reflexão da luz, detectadas especialmente nas bandas verde, red-edge e infravermelho próximo (NIR).
O estudo revelou que o canal RE é o mais sensível para detectar injúria por deriva de dicamba. A partir das análises espectrais, os pesquisadores observaram que os índices ExR, GLI e GCC (green chromatic coordinate) apresentaram correlações superiores a 0,75 com as escalas visuais de dano.
Entre as três áreas experimentais, a que apresentou maior resposta espectral foi o sítio F500 na safra de 2023. Segundo os autores, esse comportamento se deve ao déficit hídrico, que atrasou a recuperação das plantas. As precipitações no período ficaram abaixo da média dos últimos 30 anos.
O delineamento experimental foi em blocos casualizados, com três repetições por tratamento, e as imagens foram obtidas a 20 metros de altura com sobreposição de 80%. Os dados foram processados com softwares especializados para gerar ortomosaicos espectrais de alta resolução (1,2 a 1,3 cm por pixel).
As análises estatísticas incluíram regressão não linear e correlação de Pearson entre os índices espectrais e os sintomas de dano. O modelo log-inibidor de quatro parâmetros permitiu estimar a resposta espectral relativa (RSR) em função da dose de dicamba.
O experimento também destacou a importância de se considerar o fundo não vegetal (solo, palha) na análise espectral em escala de campo. O uso de sensores multiespectrais com canais separados, como o RE e o NIR, permitiu maior precisão na separação entre dossel danificado e vegetação saudável.
Segundo os pesquisadores, os resultados comprovam que a soja é sensível a deriva de dicamba mesmo em níveis equivalentes a 0,028 g a.e. / ha — ou 1/20.000 da dose recomendada. Estudos anteriores já demonstraram que essa concentração pode ocorrer por deposição atmosférica em áreas a quilômetros da aplicação original.
Desde a introdução comercial da soja tolerante ao dicamba, os relatos de injúrias por deriva aumentaram. Só no estado de Illinois, o Departamento de Agricultura recebeu 2.600 queixas entre 2017 e 2022 — 1.500 relacionadas diretamente ao dicamba.
A pressão para o uso do herbicida intensificou-se com a disseminação de plantas daninhas resistentes ao glifosato, como o caruru-palmeri, buva, e ambrósia. Em 2018, 46% da área de soja em Illinois foi plantada com variedades DT (dicamba-tolerantes), e 36% das lavouras receberam aplicações OTT (over-the-top) de dicamba. Isso representou mais de 848 mil quilos do princípio ativo pulverizado no estado em apenas um ciclo.
Embora considerado ferramenta essencial no manejo de daninhas resistentes, o dicamba apresenta alta volatilidade: sua pressão de vapor é cinco vezes maior que a do glifosato. Essa característica favorece a deriva na forma de vapor, com potencial para atingir culturas vizinhas dias após a aplicação.
Os autores sugerem que plataformas de sensoriamento remoto por satélite — como Landsat 8/9 e Sentinel-2 A/B — podem ser utilizadas para detectar padrões espectrais similares em larga escala. Esses satélites possuem canais visíveis, red-edge e infravermelho próximo, semelhantes aos usados nos VANTs.
A integração de dados espectrais com algoritmos de aprendizado de máquina pode permitir o mapeamento automático de áreas afetadas, auxiliando órgãos reguladores e produtores na detecção e mitigação de danos.
O estudo também aponta que o índice ExR pode distinguir vegetação de fundo não vegetal, contribuindo para identificar danos com maior precisão mesmo em campos com cobertura parcial do solo.
Embora a soja tenha sido o foco da pesquisa, os autores destacam que outras culturas também apresentam sensibilidade a dicamba — entre elas: tomate, pepino, melancia, uva, pêssego, feijão-vagem e nogueira-pecã.
Outras informações em doi.org/10.1002/ps.8954
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