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Em consequência às variações climáticas enfrentadas em 2024, a produção paulista de trigo deve encerrar o ano com números abaixo do esperado. O cenário foi debatido durante a Reunião da Câmara Setorial do Trigo, realizada na unidade da Castrolanda, em Itaberá (SP).
Segundo o presidente da Câmara, Nelson Montagna, a safra 2023/24 foi marcada por diferentes frustrações. “Nós estávamos com uma expectativa de produção entre 320 e 350 mil toneladas para este ano, mas, aparentemente, pelos números apresentados na reunião, não chegaremos nem a 300 mil. Essa é uma queda expressiva, resultante dos efeitos climáticos e do incentivo à produção de outras culturas em detrimento do plantio de trigo na região”, detalhou Montagna.
Durante a reunião, Montagna reforçou o potencial do estado e a possibilidade do incremento da produção de trigo em terras paulistas, com melhor qualidade. “Temos acompanhado de perto a evolução do grão no estado, que cresceu em qualidade nos últimos anos, o que anima o setor moageiro e auxilia na garantia de compra pela indústria”, reforça.
Em uma rápida apresentação, o presidente mostrou aos participantes dados de uma pesquisa promovida pelo Sindicato da Indústria do Trigo de São Paulo, que ouviu os 10 moinhos associados e contabilizou que juntos, entre setembro de 2023 e agosto de 2024, as empresas de São Paulo adquiriram 586,01 mil toneladas de trigo, um aumento de 27,9% em comparação com o mesmo período da safra anterior (2022/23).
“O número nos pareceu um pouco elevado, quando comparamos aos trazidos pela Câmara, mas mostra que o trigo de São Paulo tem mercado e ainda muito espaço para crescer”, enfatiza Montagna.
O cenário, segundo o representante da StoneX, Jonatan Pinheiro, é resultado direto da quebra sofrida pelos produtores brasileiros logo no início da safra, o que desencadeou inúmeras baixas e interferiu na qualidade do trigo em todo o país, prejudicando os produtores e a indústria como um todo. “No momento, com a colheita chegando ao fim, a expectativa é que a qualidade do trigo ainda seja superior à safra anterior, mesmo enfrentando a seca, principalmente na região Norte do país”, declarou Pinheiro.
Segundo ele, entre os principais fatores baixistas para o setor brasileiro, estão as melhorias climáticas nos Estados Unidos e na Rússia, a manutenção da exportação pelo Mar Negro e o ingresso da safra argentina, com produção e estoque disponíveis. Já os fatores altistas estão relacionados à maior demanda asiática por importação e consumo, ao menor estoque global, que resultará em uma crescente acessibilidade de mercados, e às restrições das exportações na Rússia, com maior imposto para exportação e preço mínimo acima do mercado.
Para 2025, as expectativas são positivas. De acordo com o presidente da Câmara, o trigo voltará a remunerar: “O mercado poderá observar preços mais firmes na safra 2024/25 e uma melhor qualidade do material produzido”, afirmou.
Na visão de Pinheiro, o ano também será positivo em precificação para o produtor, ponto que colabora diretamente para um melhor desenvolvimento da indústria. “Com a expectativa de melhor precificação, falamos, eventualmente, em ter menos dor de cabeça na hora de lidar com a farinha, que acessará um mercado melhor”, ponderou.
Ao analisar a produção global do trigo, o representante da StoneX, Jonatan Pinheiro, frisou a queda de 2,8 milhões de toneladas em comparação ao ano anterior. Segundo ele, o cenário é resultado das mudanças climáticas enfrentadas pelas principais regiões produtoras, como as Américas e a Europa. “Os Estados Unidos apresentaram uma pequena redução de estoque – nada preocupante, uma vez que o país segue com uma ótima safra, já colhida e consolidada. A Europa, por sua vez, sofreu ao longo de toda a safra em decorrência de chuvas intensas, com volumes elevados de água, e por isso hoje apresenta uma redução muito significativa em relação aos resultados comparados às colheitas anteriores”, exemplificou.
A Rússia, por sua vez, sofre com a queda de mais de um milhão de toneladas. “No processo de colheita, constatou-se que os resultados, também em decorrência das questões climáticas – como períodos de seca seguidos de elevados índices de chuva e geadas – não seriam tão positivos para o país. Já a Ucrânia, até o momento, apresenta o terceiro reajuste positivo, com nítido aumento de produção”, complementou.
Em relação à Ásia, Índia e China seguem estáveis, com índices positivos de produção, colheita e consumo, sem causar impacto ao cenário global. “No entanto, os estoques indianos estão muito abaixo do esperado, por isso não podemos descartar a possibilidade de a Índia comprar trigo no mercado internacional”, indicou.
Por fim, a Austrália contará com uma safra melhor do que no ano anterior, porém uma geada entre o final de setembro e o início de outubro pode afetar a consolidação da safra. Um cenário similar foi vivido pela Argentina, que em setembro enfrentou uma forte seca, o que pode interferir na produtividade local.
“Para 2025, olhando para o desenvolvimento argentino – com a expectativa de uma grande safra e estoques elevados – o mercado nacional tem apontado uma alta nas cotações. Por isso, imaginamos que haverá uma pressão de safra, fazendo com que o mercado ceda um pouco. Contudo, é um momento interessante de compra para as indústrias, o que também colabora para uma melhor precificação no mercado interno. Em resumo, todas as cadeias se beneficiarão de uma safra argentina positiva”, afirmou.
Representando o coordenador das Câmaras Setoriais da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, José Carlos de Faria Cardoso Júnior, a assessora de pesquisa da Secretaria do Estado de São Paulo, Raquel Nakazato, pontuou como o órgão tem trabalhado continuamente para potencializar o desenvolvimento do setor no estado.
Segundo a profissional, segue em andamento o programa estadual CPL – Cadeias Produtivas Locais. A iniciativa, que também beneficiará as cooperativas de trigo, tem como objetivo fomentar a cooperação entre empresas e entidades públicas/privadas, compartilhando recursos, promovendo a aquisição coletiva de insumos, a troca de experiências e a inovação.
“Outra iniciativa é o plano de irrigação, que no momento está em fase de estruturação da Câmara de Irrigação. Nas reuniões, iremos definir planos para identificar a utilização e reuso das águas. Por isso, pedimos e contamos com a importante participação do setor de trigo nesse debate”, convidou.
Raquel ainda destacou que a Secretaria do Estado se reunirá com o Ministério da Fazenda para discutir as solicitações sobre o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), levando em conta a realidade dos produtores e cooperativas do agronegócio estadual.
Na busca contínua por um produto eficiente e de qualidade elevada, o especialista em Qualidade da Cooperativa Castrolanda, Joany Anthony Simão, destacou como o ozônio pode ser uma peça-chave para os produtores de trigo. “Com o ozônio, é possível tratar altos volumes de trigo em até 72 horas, além de apresentar eficiência média de 30% a 70% na redução de micotoxinas, sem deixar resíduos, combatendo outros contaminantes, como bactérias e fungos”, detalhou.
O composto, como explica o especialista, é comumente gerado através da aplicação de alta tensão entre dois eletrodos. “O ambiente por onde passa o oxigênio recebe grandes descargas elétricas, de 15.000 volts ou mais, e o oxigênio que passa entre os dois eletrodos é quebrado e se reagrupam formando o ozônio”, contextualizou.
Na lida com o trigo, o tratamento com essa ferramenta funciona por meio da injeção instantânea, de forma multidirecional e com fluxo controlado, com concentrações variáveis, dependendo do tipo de microrganismo (de 30 a 160 ppm em um fluxo de 8.000 m³/h de injeção).
Além da apresentação de Simão, a reunião também contou com breves apresentações de associados que expuseram suas perspectivas sobre a safra 2023/24.
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