Bons volumes de chuva em setembro favorecem cultivos de inverno
Dados espectrais mostram que as condições têm sido favoráveis nas principais regiões produtoras de trigo
A safra brasileira de soja 2025/26 se projeta como mais um marco na consolidação do país como maior produtor e exportador mundial do grão. Segundo projeções do USDA, a produção pode alcançar 175 milhões de toneladas, com a possibilidade de ser superado caso as condições climáticas favoreçam o desenvolvimento das lavouras.
De acordo com a Biond Agro, a expectativa elevada se sustenta em ganhos de produtividade, mas o cenário exige cautela devido aos custos de insumos, oscilações cambiais, gargalos logísticos e riscos meteorológicos, que podem influenciar significativamente o resultado final.
As projeções indicam que o aumento de área plantada deve ser limitado a cerca de 2%, somando aproximadamente 48,3 milhões de hectares. Com isso, o recorde projetado depende principalmente de um "cenário perfeito" de clima, aliado ao bom manejo das lavouras.
"É uma safra que carrega grande potencial, mas ainda muito condicionada a fatores externos. O Brasil consolidou sua liderança global, mas os desafios permanecem, especialmente frente às mudanças climáticas e à pressão de custos", analisa Yedda Monteiro (na foto), analista de inteligência e estratégia da consultoria.
A alternância entre os fenômenos naturais El Niño e La Niña tem histórico de impacto decisivo nos ciclos de colheita. Enquanto o primeiro favorece mais o Sul do país com chuvas, por outro lado, prejudica o Centro-Norte com períodos prolongados de seca. Já o segundo, inverte o padrão, aumentando o risco de estiagens no Rio Grande do Sul e beneficiando regiões como o Matopiba.
“Esses efeitos ficaram claros na safra 2023/24, quando o Rio Grande do Sul sofreu com enchentes ao mesmo tempo em que parte do Centro-Oeste enfrentava seca. Não houve uma quebra generalizada, mas o potencial produtivo foi reduzido”, destaca Yedda.
A especialista ainda pondera que, o ponto-chave não está apenas no volume de chuvas, mas na sua distribuição ao longo do ciclo. “A produtividade brasileira depende da regularidade das precipitações em fases críticas como plantio, floração e enchimento dos grãos. Essa variável segue sendo o maior risco e o fator determinante para o desempenho da safra 2025/26”, completa.
A pressão de custos, especialmente sobre fertilizantes, defensivos e frete, reduziu o ritmo de expansão da área cultivada. Além disso, tem levado produtores a rever investimentos em sementes de maior valor agregado ou adubação de manutenção, o que pode limitar ganhos de produtividade.
"Quando o custo dos insumos cresce em ritmo mais acelerado que o valor da soja, o produtor se torna mais conservador. Isso se traduz em menor investimento por hectare e até mesmo em atrasos no plantio em algumas regiões", avalia.
O fluxo internacional da soja brasileira segue favorecido pela guerra comercial entre China e EUA, que tem direcionado recordes de exportações brasileiras para o mercado asiático. "Mesmo em cenário de grande oferta, os estoques globais permanecem relativamente apertados, o que coloca o desenvolvimento da safra brasileira como ponto de atenção do mercado internacional. Isso reforça a volatilidade das cotações e amplia a sensibilidade a qualquer revés climático", destaca.
Mais do que números recordes, a safra 2025/26 simboliza a consolidação do Brasil como fornecedor indispensável de soja ao mercado global. No entanto, para sustentar esse patamar nos próximos anos, será necessário enfrentar riscos climáticos, ambientais e de mercado, além de acelerar investimentos em infraestrutura.
"A intensificação sustentável, aliada ao uso de biotecnologia e agricultura de precisão, será o caminho para mantermos a produtividade em alta sem depender apenas da expansão de área. O Brasil precisa avançar em logística, armazenagem e inovação para transformar a liderança atual em uma posição sólida no longo prazo", conclui Yedda.
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