Colhedoras de amendoim com tecnologia americana serão destaques da KBM na Agrishow 2015
Uma região seca, próxima ao deserto do Saara e à Península Arábica, será a referência para o Vale do Rio Pardo dar novo impulso nas ações para estimular a diversificação e a geração de mais renda na área rural. Os dados sobre a alta tecnologia em Isarel, especialmente na agricultura, põem por terra (ou por areia) as aparentes contradições quanto à obtenção de subsídios em um país com apenas 0,25% do território brasileiro, a mais de 11,5mil quilômetros de distância em linha reta de Santa Cruz do Sul. O grupo que participa da missão articulada pelo Conselho Regional de Desenvolvimento (Corede), Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Sicredi e Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) embarca no dia 25 de abril com uma agenda cheia de visitas técnicas a empreendimentos de ponta na área agrícola, além da participação na 19ª Feira Internacional de Tecnologia Agrícola (Agritech), em Tel Aviv.
A necessidade de criar tecnologias para superar as condições adversas tornaram Israel umas das nações com mais avançadas técnicas de produção agrícola, com exportação de produtos e conhecimentos, mesmo com a pequena extensão territorial, semelhante ao estado de Sergipe. "Vai ser um choque para o pessoal daí", afirma o presidente do Sindicato Rural de Caxias do Sul e chefe da divisão administrativa do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) no Estado, Walmir Susin, referindo-se ao nível tecnológico do país do Oriente Médio e com a experiência de ter organizado três missões àquele país. "Mas logo vão ver que não é tão difícil a adoção destas técnicas", completa. Apesar da região se caracterizar pelos solos desérticos e a escassez de água e estar cercada por constantes conflitos, plantações de tomates, berinjelas, pimentões e outras hortaliças com até três metros de altura estão entre as inovações, com as mais altas produtividades no mundo.
A Serra Gaúcha já colhe os frutos das visitas a Israel, com estufas para produção de hortaliças com técnicas adaptadas aos modelos do país do Oriente Médio. Susin explica que uma das estratégias desenvolvidas para obter até 80 toneladas de berinjela por hectare, por exemplo, são os pés com até três metros de altura cultivados em estufas e com fertirrigação. Observa que Israel consegue fazer uma plantação de tomate render durante um ano e vê a possibilidade de ampliar o tempo no Vale do Rio Pardo diante das condições climáticas favoráveis. "Entre aqueles que participaram daqui das viagens, praticamente todos mudaram a sua produção", explica Susin. "Até nas uvas de mesa, com irrigação", completa.
O presidente do Sindicato Rural destaca o trabalho com hidroponia em Israel, com o cultivo de 13 variedades de hortaliças e a obtenção de 13 safras por ano. Ressalta também a ampla mecanização, com subsídio de 40% do valor da compra de máquinas, incentivo concedido pelo governo diante da falta de mão de obra. Outro fato que chama a atenção, conforme Susin, é o trabalho de técnicos com alta especialização de universidades junto com os produtores. "Você chega lá e não distingue quem são os técnicos e quem são os produtores, pois todos trabalham juntos. A assistência técnica no campo é muito forte", observa.
A primeira missão com pouco mais de 20 produtores rurais, técnicos, jovens estudantes de Agronomia da Serra Gaúcha a Israel ocorreu em 2010 após a participação de uma representante do governo daquele País em evento na Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), em Porto Alegre. O interesse surgiu diante das informações sobre a produção de uvas com cobertura dos parreirais no Oriente Médio. Com a organização do Sindicato Rural de Caxias do Sul e da Federação Israelita no Estado, nova comitiva viajou dois anos depois com subsídio do Serviço Brasileiros das Pequenas e Micro Empresas (Sebrae), experiência que se repetiu em 2013. Há dois anos técnicos de Israel visitaram a Serra Gaúcha e proporcionaram cursos para produtores e técnicos na Universidade de Caxias do Sul (UCS), que também está instalando três sensores de nutrientes monitorados desde Israel. Susin afirma que a população é bastante acessível para compartilhar os conhecimentos.
Dos parreirais à paixão pelos tomates
Dois presidente da República (Lula e Dilma Rousseff) já saborearam as uvas dos parreirais da propriedade de 26 hectares de Charles Venturin, 40 anos, no Bairro Monte Bérico, a apenas 3 quilômetros do Centro de Caxias do Sul. Mesmo com o pioneirismo no sistema de cultivo com cobertura, a produção ganhou novo impulso tecnológico depois de duas visitas a Israel, em 2011 e 2013, em missões técnicas articuladas pelo Sindicato Rural. Venturin afirma que já tinha bastante conhecimento sobre estufas, mas embarcou na missão com planos de começar a trabalhar com tomates e aperfeiçoar o sistema de irrigação.
A visita ao país do Oriente Médio despertou uma verdadeira paixão pelo tomate em estufa e no final de 2011 Venturin começou a primeira safra. Inicialmente, ele implantou uma estufa de 500 metros quadrados e depois ampliou para 1.100 metros quadrados. Mesmo com alguns problemas com o excesso de calor, no ano passado a colheita atingiu 18 toneladas. Explica que com condições normais é possível obter 20 toneladas na plantação de 3 mil pés de diversas variedades. O cultivo ocorre no solo, mas na próxima safra Venturin pretende experimentar novo sistema, como o enxerto, por exemplo. O plantio ocorre em dezembro e a produção se estende até o mês de agosto, dependendo do rigor do inverno. Nos parreirais, onde já havia sistema de cobertura, a família modificou o modelo de irrigação. No ano passado, 60% das uvas da área de 7 hectares foram comercializadas diretamente aos consumidores na propriedade e o restante na Ceasa de Caxias do Sul.
Representantes buscarão subsídios para a diversificação nos sistemas com alta tecnologia aplicados na produção no país
OTTO TESCH
O tomate teve 98% da produção vendida na Ceasa. Mas Venturin afirma que a comercialização aumenta a cada ano na lojinha existente na propriedade. Ele também utiliza o aprendizado sobre o uso racional de água existente em Israel diante da escassez de chuvas e o clima seco na maior parte do ano naquele País. Assim, toda a água da chuva que cai sobre as estufas na propriedade em Caxias do Sul é canalizada por cerca de 400 metros para um açude para o aproveitamento na irrigação dos parreirais. O produtor ressalta que não dá para simplesmente implantar na região as mesmas técnicas usadas em Israel, pois as condições climáticas são diferentes, entre outros aspectos. "É preciso fazer a adaptação de acordo com as condições de cada área. Mas nas visitas a Israel já despontam ideias sobre melhorias tecnológicas possíveis aqui", afirma.
Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura