Agricultura familiar e Governo de Minas avaliam propostas para desenvolvimento rural sustentável
Entre os diversos temas discutidos pelos participantes do 13º Siconbiol, o Manejo Integrado de Pragas (MIP) da Soja foi um dos assuntos debatidos no último dia do evento, 18 de setembro, em Bonito, MS. A mesa-redonda sobre o tema tem coordenação da consultora da Embrapa Soja, a pesquisadora Beatriz Corrêa-Ferreira.
Confira os temas debatidos nessa mesa: "Controle biológico aplicado de lagartas e percevejos", ministrado pelo pesquisador Alexandre de Sene Pinto (Instituição Universitária Moura Lacerda); "Utilização da lagarta-da-soja no programa de MIP no Brasil", por Bráulio Santos (UFPR); e "Controle Biológico no MIP-Soja - passado, presente e futuro", ministrado pela própria Beatriz Corrêa-Ferreira.
Em entrevista, Beatriz fala sobre a importância do MIP-Soja, qual a forma correta de se realizar o manejo, quais as principais pragas e como fazer o controle biológico, entre outras informações. Confira a entrevista.
1 - Qual a importância dos produtores realizarem o manejo integrado de pragas da soja?
O Manejo Integrado de Pragas da Soja (MIP-Soja) é a principal ferramenta para a racionalização do uso de inseticidas, com redução de custos de produção, sem riscos à produtividade. Sendo o Mip-Soja um conjunto de estratégias que auxiliam os produtores na melhor condução de sua lavoura, ao fazerem o MIP eles estarão monitorando suas áreas e assim realizando o controle das pragas quando estas realmente atingirem os níveis de ação.
Ao fazerem o MIP, a tomada de decisão sobre a aplicação de inseticidas será sempre baseada na amostragem das pragas e demais critérios técnicos que determinam se existe ou não necessidade de utilização de inseticidas. Quando necessário, sempre que possível a escolha deve ser por inseticidas seletivos, com menor impacto sobre os inimigos naturais. Assim, os produtores estarão preservando os inimigos naturais nas suas lavouras e permitindo que eles desempenhem seu verdadeiro papel como agentes benéficos, evitando ressurgência de pragas ou mesmo surtos de pragas secundárias.
2 - Qual a forma correta de se realizar o MIP da soja?
Fazer o monitoramento periódico das pragas, utilizando amostragens realizadas com o pano-de-batida em 1m de fileira, durante todo o ciclo de desenvolvimento das plantas e tomar a decisão de controle respeitando os níveis de ação, ou seja, para as lagartas desfolhadoras sempre que atingir o nível de 20 lagartas maiores que 1,5cm/m ou 30% de desfolha no período vegetativo ou 20 lagartas/m e 15% de desfolha no período reprodutivo. Para os percevejos sugadores de sementes ou grãos sempre que a população atingir 1 percevejo/m em lavoura para produção de sementes ou 2 percevejos/m em lavouras comerciais destinadas à produção de grãos no período de início do desenvolvimento de vagens (fase de canivetinho) até o início de maturação das plantas.
Para o tamanduá-da-soja (Sternechus subsignatus), o controle é necessário quando a população atingir 1 adulto/m com plantas até o estádio V3 ou 2 adultos/m para plantas em V4 a V6. Para a broca-da-axilas (Crocidosema aporema), indica-se controle a partir de 25% a 30% de plantas com ponteiros atacados. Para algumas pragas emergentes ou de importância regional os níveis de ação estão em estudos.
3 - Existem diferenças de acordo com a região do Brasil na hora de realizar o MIP?
Não, em qualquer região do Brasil o MIP-Soja, sempre será realizado durante o ciclo de desenvolvimento da soja ou mesmo antes, no momento da escolha dos produtos que o produtor irá utilizar em sua lavoura. O que vai variar de uma região para outra é a época da semeadura da lavoura, a ocorrência das pragas, as espécies e as densidades que cada praga ocorre e assim, o momento da aplicação de inseticida para o controle das pragas poderá ser diferente.
4 - Com quem o produtor pode tirar suas dúvidas? Agentes técnicos e/ou instituições de pesquisa? (existe algum link do Ministério da Agricultura com os produtos que são utilizados no MIP da soja?)
O produtor deve sempre buscar a orientação do técnico da Assistência Técnica de sua região ou mesmo procurar instituições de pesquisa para os esclarecimentos. O Ministério da Agricultura tem a relação de todos os produtos registrados para as diferentes culturas e diferentes pragas (http://agrofit.agricultura.gov.br), entretanto, é importante destacar que os produtos indicados para uso em programas de MIP-Soja além do registro e da sua eficiência devem ser mais seletivos, e estes constam de publicações sobre as Tecnologias de Produção de Soja para a Região Central e para a Região Sul do Brasil.
5 - Quais lagartas e percevejos mais atacam a soja?
Embora possam variar de região para região, durante o período vegetativo, as principais lagartas desfolhadoras que atacam a soja são a lagarta-da-soja Anticarsia gemmatalis e a falsa-medideira Chrysodeixis (=Pseudoplusia) includens. Esta última ocorre também no período reprodutivo da soja quando dependendo da intensidade poderá ser mais prejudicial às plantas.
Outras lagartas podem estar presentes na soja em maior ou menor densidade, dependendo da região, como as lagartas do gênero Spodoptera, lagarta das vagens que além das vagens podem também atacar as folhas causando desfolhas na soja e as lagartas do grupo Heliothini, onde as espécies Heliothis virescens e Helicoverpa zea já ocorriam na soja e nesta última safra a Helicoverpa armigera foi detectada em várias regiões do Brasil, sendo um problema bastante sério na Bahia, atacando além da soja também outras culturas.
Quanto aos percevejos sugadores de semente e grãos, embora possam estar presentes nas lavouras desde o período vegetativo é no período reprodutivo que causam prejuízos, alimentando-se das vagens atingem diretamente os grãos de soja. Na soja ocorre um complexo de espécies de percevejos, mas é o percevejo marrom Euschistus heros a espécie mais comum e predominante de norte ao sul do Brasil. Outras espécies como o percevejo-verde-pequeno Piezodorus guildinii, o percevejo verde Nezara viridula e o percevejo-barriga-verde Dichelops spp. podem estar presentes em diferentes densidades populacionais, conforme a região.
6 - Qual a principal forma de controle biológico dessas lagartas e percevejos?
Aqui podemos falar em controle biológico natural e o controle biológico aplicado que dependendo do manejo adotado pelo produtor, preservando ou eliminando esses inimigos naturais a sua importância será maior ou menor em cada lavoura. Em geral as lagartas apresentam um número grande de parasitoides, vespinhas ou moscas, que naturalmente ocorrem nas lavouras, além dos fungos entomopatogênicos e insetos predadores, estes, embora não sendo específicos, tem um papel importante como agentes benéficos na regulação dos níveis populacionais dessas pragas. Ainda no controle biológico natural, em condições favoráveis de alta umidade e temperaturas elevadas, o fungo Nomuraea rileyi, causador da doença branca é um excelente inimigo natural, dizimando totalmente as populações de lagartas.
Quanto ao controle biológico aplicado, destaca-se a bactéria Bacillus thuringiensis que tem ação sobre várias espécies de lagartas e o baculovirus Anticarsia, um vírus de poliedrose nuclear que é específico para o controle da lagarta-da-soja. Outros vírus como o vírus para C. includens , estão em fase de testes e o vírus para H. armigera, comercialmente já produzido em outros países, teve recentemente seu registro emergencial aprovado para uso no Brasil.
Para os percevejos, também existem naturalmente microhimenopteros que atacam os ovos desses sugadores, como os parasitoides Telenomus podisi e Trissolcus basalis e outros que atacam os adultos, como por exemplo, Hexacladia smithii em E. heros e a mosca Trichopoda nitens parasitando N. viridula.
As espécies T.podisi e T.basalis foram, no passado, multiplicados em laboratório e liberados em campo em programas de controle biológico aplicado, visando aumentar a quantidade desses parasitóides nas lavouras e assim manter as populações de percevejos sob controle.
7 - Qual o vírus mais utilizado no controle da lagarta-da-soja?
É o vírus de poliedrose nuclear de Anticarsia gemmatalis, que no passado chegou a ser usado numa área de 2 milhões de hectares de soja.
8 - Qual a diferença do MIP no passado e presente e o que nos aguarda no futuro?
No passado, com a implementação de programas de MIP-Soja conseguiu-se excelentes resultados, o número médio de aplicações foi reduzido, passando de 5 para 2 aplicações de inseticida por safra. No presente destaca-se um abandono geral das táticas de manejo, lavouras não são monitoradas, os níveis de ação para as principais pragas não são seguidos e muitas aplicações de inseticidas são realizadas sem critério técnico, seguem o calendário, sendo muitas vezes realizadas de forma preventiva. Essas práticas tem levado a lavouras totalmente desequilibradas com densidades populacionais elevadas e problemas ainda maiores com pragas. Para o futuro fica a necessidade de mudança e a retomada urgente das ações de MIP na cultura da soja, buscando produzir mas com sustentabilidade.
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