Resultados da iniciativa de pesquisa Colmeia Viva direciona implantação de plano nacional de boas práticas

Objetivo é possibilitar o diálogo entre agricultores, apicultores e aplicadores de defensivos agrícolas

21.08.2018 | 20:59 (UTC -3)
Viviane Rodrigues

O Colmeia Viva, uma realização do setor de defensivos agrícolas sob a governança do Sindicato Nacional das Indústrias de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), avança no cumprimento do Compromisso Público do setor, assinado em 2017, com  metas estabelecidas até 2020.

Diante dos resultados de três anos do Colmeia Viva MAP (Mapeamento de Abelhas Participativo) - iniciativa de pesquisa com a participação da Unesp e UFScar para o levantamento de dados sobre a mortalidade de abelhas, com um mapeamento inédito dos fatores que contribuem para a perda de colmeias e abelhas no Estado de São Paulo -  as prioridades de atuação do setor de defensivos agrícolas estão na implantação de um Plano Nacional de Boas Práticas Agricultura-Apicultura, via Plataforma Digital, que possibilite o diálogo, firmando parceria com pelo menos uma entidade representativa de agricultura, apicultura e aplicação de defensivos nas áreas-foco estabelecidas no Compromisso 2020.

O Colmeia Viva Plano Nacional de Boas Práticas é um plano de prevenção da mortalidade de abelhas e mitigação de incidentes, baseado na disseminação de boas práticas de uso de defensivos e na formalização do pasto apícola entre agricultores e apicultores. O plano tem como áreas-foco, até o final de 2018, os Estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul, e até o final de 2019, os estados de Mato Grosso, Minas Gerais, Bahia e Goiás.

Plano Nacional na prática

A implantação do Colmeia Viva Plano Nacional de Boas Práticas conta com o apoio de algumas iniciativas, tais como Colmeia Viva Assistência Técnica: uma linha direta que esclarece dúvidas e compartilha as boas práticas para a prevenção e mitigação da mortalidade de abelhas. Atende agricultores, criadores de abelhas, aplicadores de defensivos agrícolas, distribuidores, revendedores e equipes de vendas das empresas signatárias do Movimento Colmeia Viva. 0800 771 8000. O Colmeia Viva Boas Práticas Boas Práticas: Linha de treinamentos em campo e à distância sobre boas práticas para uma relação mais produtiva entre a Agricultura e a Apicultura. Os treinamentos são exclusivos para agricultores e criadores de abelhas, que podem ser realizados preventivamente ou na mitigação após constatação de incidentes com abelhas. Uma das ações desta iniciativa é o Manual de Boas Práticas Agricultura-Apicultura com mais de 70 práticas e dicas. Baixe o exemplar aqui.

Colmeia Viva App

Ambiente digital para facilitar o diálogo entre agricultores e criadores de abelhas. Agricultores podem identificar as áreas de sobreposição de atividades agrícolas e apícolas e avisar quando vão ocorrer as pulverizações (aplicadores de defensivos serão incluídos em uma segunda etapa). Criadores de abelhas podem receber os comunicados de aplicações e saber quais medidas de proteção devem tomar e o Colmeia Viva EAD: Plataforma digital de ensino à distância que centraliza todo o conteúdo sobre a interação Defensivos-Agricultura-Apicultura-Abelhas, permitindo mais abrangência, mobilidade e agilidade na chegada da informação ao campo.

Polinização na agricultura
Culturas dependentes da polinização animal (incluindo as abelhas) contribuem com 35% do volume de produção mundial de alimentos, representando 5% a 8% em valor da produção mundial. Esse dado faz parte do relatório de avaliação divulgado em 2016 pela Plataforma Intergovernamental de Serviços Ecossistêmicos e Biodiversidade (IPBES), uma organização independente aberta a todos os países membros das Nações Unidas para avaliar o estado da biodiversidade do planeta, seus ecossistemas e os serviços essenciais que prestam à sociedade sobre Polinizadores, Polinização e Produção de Alimentos.

O conceito de dependência de polinização na agricultura está ligado a quanto certo cultivo depende da polinização para alcançar todo o seu potencial produtivo, não só em quantidade, mas em qualidade também. Cultivos dependentes de polinização por abelhas, se não são polinizados, podem ter uma redução na produção de 40% a 100%. Cultivos beneficiados pela polinização podem perder entre 10% e 40%. Já os cultivos não dependentes de polinização, não são muito afetados pela visita de abelhas.

Resultados da iniciativa de pesquisa no Estado de São Paulo

Os resultados de três anos da iniciativa de pesquisa, com abrangência em 78 cidades do Estado de São Paulo no período de agosto/2014 a agosto/2017 permitem conclusões para um plano de ação nacional voltado às boas práticas de aplicação de defensivos agrícolas para uma relação mais produtiva entre agricultura e apicultura.

Foram 222 atendimentos voltados aos agricultores e criadores de abelhas, sendo 107 visitas ao campo, onde foram analisadas as práticas agrícolas (cultivos do entorno, taxa de dependência de polinização, estágio da cultura, histórico e modalidade da aplicação de defensivos agrícolas,  autorização e condições de uso para defensivos agrícolas) e práticas apícolas (alimentação suplementar, troca anual de rainha, quantidade de caixas por apiário, frequência de visitação, localização do apiário e pasto apícola).

Das 107 visitas realizadas, 88 possibilitaram coleta de abelha, com uma análise mais focada na relação da agricultura e apicultura e a aplicação de defensivos agrícolas. Deste total de coleta, 29 casos resultaram negativo para resíduos de produtos químicos e 59 casos positivo para resíduos de produtos químicos.

Foram atendimentos de mortalidade de abelhas. Não foram observados sinais da Síndrome do Desaparecimento das Abelhas (CCD) como os sintomas característicos de colmeia desorganizada, com sujeira e completamente abandonada ou declínio da população de abelhas com desaparecimento repentino das operárias e enfraquecimento das colônias sem a presença de abelhas mortas. Fenômeno registrado principalmente no hemisfério norte, somente com abelhas Apis mellifera.

Dos 59 casos positivos para resíduos químicos, 27 atendimentos dos registros de mortalidade de abelhas indicaram uso dos produtos sem relação direta com o controle de pragas indicado para as lavouras, com suspeita de uso não agrícola, como por exemplo: criação de gado, abelhas visitando a área de alimentação de bovinos (em busca de água ou alimento), controle de carrapatos em região de criação de cavalos ou mesmo controle de formigas e cupins pelo apicultor, através da aplicação de produtos químicos - tanto nas caixas como no entorno do apiário. Já em 21 atendimentos, houve uma relação direta de aplicação incorreta de defensivos nas lavouras.

Entre as práticas de uso incorreto de defensivos agrícolas que estão entre as causas que podem provocar a perda de abelhas destacam-se dosagens acima das recomendações indicadas em rótulo e bula; falta do cumprimento das exigências legais para a aplicação de defensivos agrícolas com vistas à proteção ao cultivo nas modalidades aprovadas (aérea ou terrestre); falta de formalização do pasto apícola; emprego incorreto da modalidade de aplicação sem a autorização ou registro de produtos para cultura agrícola.

Mesmo sem divulgação da iniciativa de pesquisa em outros estados, desde a fase piloto houve contatos de perdas de colmeias nos estados de Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rio de Janeiro e Goiás, considerados como indicativo para definição de áreas-foco de atenção no desenvolvimento do Plano Nacional.

O relatório completo aqui. 

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