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Participaram do evento Ronald Weber, Henry Sako, Cassio Greghi, Guilherme Carvalho e Suellen Drumond
A crescente demanda mundial por restauração de ecossistemas degradados ganha contornos desafiadores nesta década. De um déficit de 21 milhões de hectares, o Brasil tem o compromisso de restaurar pelo menos 12,5 milhões de hectares com sementes florestais até 2030, conforme o Acordo de Paris, documento da ONU que estabeleceu metas para barrar o aquecimento global.
Entretanto, para atingir a meta de restauração um dos principais gargalos está na coleta e produção de sementes florestais em quantidade e qualidade. Estudos indicam que o Brasil precisa produzir entre 3,6 mil a 15,6 mil toneladas de sementes nativas para cumprir a meta.
A produção de semente de qualidade norteou os debates no 11º Simpósio Brasileiro de Tecnologia de Sementes Florestais, colocando às claras as necessidades do setor produtivo, bem como expôs desafios e mostrou o trabalho feito pelas redes de coletas de sementes. O simpósio foi parte da programação do XII Congresso Brasileiro de Sementes, ocorrido em Curitiba, na semana passada, que reuniu 1200 participantes.
De acordo com a doutora Juliana Müller Freire, Coordenadora do Comitê Técnico de Sementes Florestais, o evento mostrou pontos que precisam ser trabalhados para atender a demanda. “É preciso organizar o setor produtivo de sementes florestais, buscando solucionar os gargalos técnicos e legais para atender esta demanda. Há uma procura cada vez maior de sementes por setores relacionados à recuperação e reposição florestal”, acrescenta Juliana.
Num dos painéis, os palestrantes confrontaram a legislação vigente com o que é praticado no campo. Para atender a legislação, um dos pontos cruciais seria a ampliação de laboratórios e normas. De cerca de 200 laboratórios existentes no País, apenas 5 são credenciados para espécies florestais.
“Se pensarmos que temos uma diversidade de espécies muito maior do que o setor agrícola, por exemplo, haveria necessidade de se fazer uma revisão dessa infraestrutura e das normas de qualidade”, pondera a pesquisadora, acrescentando que no Brasil são mais de 8 mil espécies nativas para serem usadas na restauração. Dessas, 500 já possuem normas e análises definidas de validação.
Para que a meta do governo se torne realidade, as redes comunitárias de sementes florestais estão sendo criadas e hoje são o principal mecanismo produtor de sementes. O papel das redes é a formação de coletores, promoção de trocas, atendimento de encomendas e comercialização de sementes de árvores nativas e outras plantas de interesse ecológico ou econômico, unindo agricultores familiares, produtores rurais, governos, organizações da sociedade civil e comunidades tradicionais ou indígenas.
Dentro da programação, o pesquisador Aurélio Padovezi, do World Resources Institute (WRI), proferiu a palestra “Inovação social na produção de sementes em Redes de Sementes”. Ele desenvolve pesquisa sobre o tema na Universidade de Pádua, na Itália.
O pesquisador destacou o trabalho das redes brasileiras de coletas de sementes, as quais fornecem sementes para produtores e agricultores interessados em restauração e plantio florestal. Entre elas, cita as redes Arboretum (BA), Xingu (AM), Comunidades Geraizeiras (MG), entre outras espalhadas pelo Brasil. “A semente florestal tem esse papel importante de inclusão social e também de gerar renda”, complementa a doutora Juliana Freire.
“Reconhecemos como uma inovação social a crescente criação de redes de colaboração entre organizações e pessoas. Essa troca de informações e conhecimento gera novas ideias, novas práticas e novas oportunidades de negócios”, observa Padovezi, acrescentando que isso tem impactado o mercado de sementes nativas no Brasil.
“As redes começam a se conectar e transformar esse solo seco, num solo úmido e fértil para uma nova forma de se coletar e produzir sementes, além de trazer bem-estar, qualidade de vida dentro do sistema de produção de sementes florestais”, acrescenta Padovezi.
Ao contrário de 20 anos atrás, onde a produção de sementes dependia basicamente de subsídios públicos, hoje o trabalho vem sendo dominado principalmente por povos indígenas. “Um dos principais pontos da pesquisa que tenho conduzido, é olhar para os produtores não somente como produtores de sementes, mas como um grupo de pessoas que está trazendo novas formas de gerenciar desafios, num mercado incipiente onde a demanda não está bem conectada com a oferta”, afirma.
Complementando o conceito de redes, a doutora Fátima Pinã Rodrigues, professora da Universidade Federal de São Carlos (SP), que também palestrou no evento, abordou o processo de avaliação de sementes florestais e a necessidade de melhorar a qualidade do que está sendo comercializado. “Estamos na década da restauração e o primeiro grande desafio é produzir sementes para as metas que o Brasil precisa atender. O segundo passo é produzir com qualidade”, afirma.
Em relação a outros países, Fátima observa que o Brasil está em pé de igualdade com a Austrália e a Malásia. “Podemos dizer que estamos até com um pezinho na frente, porque nossas redes são imensas, nossas diversidades e espécies são grandes e temos desafios monstruosos em relação a países muitos menores”, analisa.
A participação de todas as instituições, técnicos e representantes do MAPA foi bastante positiva, na avaliação da coordenadora do simpósio, Juliana Müller Freire. “Lançamos algumas questões e estamos confiantes de que possa haver desdobramentos favoráveis para organizarmos melhor o setor e atender o mercado de sementes em quantidade e qualidade”, afirma ela.
No final do debate houve o lançamento do livro "Sementes Florestais da Mata Atlântica", um guia para manejo de espécies da Hileia Baiana, do Programa Arboretum.
Participaram do debate os representantes do MAPA, Virgínia Ferreira Carpi e Ernesto Viegas e ainda Danilo Urzedo (CSIRO – Austrália), Simone Pedrini (Universidade de Curtin – Austrália), Marian Chau (Terraformation – Hawai), Riina Jalonen (CGIAR – Malásia), Paul Gibson (Universidade do Oeste de Sydney - Austrália), Bárbara França Dantas (Embrapa Semi-árido), Eduardo Malta (ISA – Instituto Socioambiental), Denise Santana (Universidade Federal de Uberlândia), Elisa Vieira (Embrapa Florestas) e Manuel Vieira Lima Júnior (Universidade Federal do Amazonas).
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