Quebra de hastes e podridão de grãos seguem desafiando sojicultores

Pesquisas avançam, mas ainda faltam soluções consolidadas para os dois principais problemas fitossanitários recentes

20.06.2025 | 09:38 (UTC -3)
Revista Cultivar, a partir de informações de Lebna Landgraf
Fotos: Leila M Costamilan
Fotos: Leila M Costamilan

A lavoura estala. O caule cede ao menor toque. É o quebramento da haste, problema cada vez mais citado por produtores de soja. A poucos metros dali, vagens com grãos escurecidos, deformados, somam prejuízos. A podridão de grãos reaparece com força em regiões de clima quente e úmido. O cenário preocupa. As causas exatas ainda escapam à ciência. Mas avanços recentes começam a indicar os caminhos para enfrentamento.

A pesquisadora Cláudia Godoy, da Embrapa Soja, alerta: quebramento e podridão não são a mesma coisa. Embora tenham aparecido simultaneamente no norte do Mato Grosso, não compartilham origem. “Tem material que quebra e não apodrece. E tem o contrário também”, explica.

Quebramento da haste

O quebramento da haste ocorre em plantas com alta carga produtiva. Atinge cultivares mais sensíveis, especialmente quando semeadas sob alta precipitação e temperatura. O sintoma aparece geralmente no enchimento de grãos. A planta quebra ao leve toque, deixando o produtor sem reação. Relatos datam desde 1994. Reapareceram em 2006 no Paraná e, mais recentemente, em 2020 no Mato Grosso. Em 2023, voltaram a assustar sojicultores paranaenses.

A hipótese mais forte aponta causas abióticas, ligadas a interações entre genética e ambiente. Ainda não se comprovou relação com pragas ou doenças. Sem causa definida, não há controle químico indicado. O manejo possível? Escolha criteriosa de cultivares menos suscetíveis.

Podridão de grãos

Já a podridão de grãos tem história mais antiga. Descrita na literatura global há décadas, se intensificou em áreas do Meio Norte do Mato Grosso e Rondônia. Nessas regiões, o plantio antecipado, o uso de cultivares precoces e o regime de chuvas elevam a umidade durante a colheita. A combinação favorece o apodrecimento.

A doença resulta de um complexo de fungos. Entre os mais frequentes, estão Diaporthe longicolla, D. ueckeri e Fusarium spp.. A infecção compromete a germinação, eleva o percentual de grãos avariados e gera descontos na comercialização acima de 8% de podridão.

Para enfrentá-la, a Embrapa coordena redes de pesquisa. Testes com cultivares em diferentes épocas e locais já renderam resultados públicos, disponíveis no site da instituição. O foco está na genética. A seleção de materiais resistentes surge como solução de longo prazo.

Fungicidas também têm sido testados. Alguns demonstraram eficácia parcial. Não eliminam o problema, mas ajudam a reduzir a incidência. Segundo Cláudia Godoy, o controle químico deve ser complementar, especialmente em cultivares mais sensíveis.

Há outro fator complicador. Em anos com estresse climático – como chuvas irregulares e calor durante o enchimento dos grãos – os sintomas se confundem. Abortamento de vagens, sementes verdes, germinação precoce e apodrecimento podem ter origem fisiológica. Mas ao enviar amostras para diagnóstico, fungos oportunistas aparecem, confundindo a causa real.

“A presença de Diaporthe ou Fusarium não garante que eles sejam os culpados”, ressalta Cláudia. A análise laboratorial precisa ser acompanhada de avaliação de campo e histórico da área. Sem isso, há risco de erros de manejo.

Mudança no cenário

As pesquisas mais recentes reforçam a ideia de que o cenário mudou. Não tanto pelas doenças em si, mas pelas novas condições de cultivo. Colheitas em ambientes mais úmidos, cultivares diferentes, práticas que alteram o microclima da lavoura. “O patossistema segue o mesmo. O que mudou foi o sistema de produção”, resume a equipe da Embrapa Soja.

A safra mais recente trouxe alívio. A menor precipitação em parte do Cerrado reduziu os danos da podridão. Mas os especialistas alertam: o risco persiste. O uso contínuo de materiais sensíveis e o clima favorável podem reacender os surtos.

Para o próximo ciclo, a recomendação é clara. Escolher cultivares resistentes. Monitorar o clima. Usar fungicidas com critério. E, acima de tudo, diferenciar causas fisiológicas de fitopatológicas. A lavoura agradece. E o produtor também.

Mais informações sobre o assunto podem ser obtidas na revista Cultivar Grandes Culturas 308 (somente para assinantes)

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