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Índia impulsiona preços da ureia e produtores brasileiros enfrentam custos maiores às vésperas da safrinha 2025/26
A produção global de alimentos precisará crescer de forma mais eficiente para enfrentar dois desafios simultâneos: combater a subnutrição e reduzir as emissões de gases de efeito estufa. É o que indica o novo relatório Perspectivas Agrícolas 2025-2034, publicado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Segundo o documento, países de renda média, em especial os de faixa inferior, devem puxar o crescimento no consumo de produtos de origem animal nos próximos dez anos. Nesses locais, o consumo per capita de calorias oriundas de carnes, peixes, ovos e leite tende a aumentar 24%. O ritmo é quase quatro vezes maior que a média mundial, projetada em 6%.
O avanço reflete melhoria de renda e alimentação mais nutritiva. Mas mantém uma lacuna gritante entre países. Em 2034, a média de ingestão diária de calorias desses produtos será de 364 kcal nos países de renda média-baixa. Já nos de baixa renda, ficará em apenas 143 kcal. A FAO adota 300 kcal como referência mínima para uma dieta saudável.
O relatório calcula que, até 2034, a produção global de alimentos e peixes aumentará 14%. O crescimento virá principalmente da elevação da produtividade, sobretudo nos países em desenvolvimento. A produção de carne, laticínios e ovos deve crescer 17%. Como consequência, os rebanhos globais de bovinos, suínos, ovinos e aves crescerão 7%.
Esses avanços terão impacto ambiental. A estimativa é que as emissões diretas do setor agrícola aumentem 6% no período. Porém, haverá redução na intensidade de carbono por unidade produzida, o que revela certo ganho de eficiência.
A produtividade agrícola tende a melhorar, pressionando os preços das commodities para baixo. Isso pode afetar pequenos produtores, mais vulneráveis à oscilação dos mercados e com menos acesso a tecnologias. O relatório recomenda que os governos ampliem programas de apoio localizados e facilitem o acesso dos agricultores aos mercados e inovações.
Uma simulação feita pela FAO e pela OCDE sugere que é possível erradicar a subnutrição e ainda reduzir em 7% as emissões agrícolas, desde que se combinem investimentos em tecnologias de baixo carbono e um salto de 15% na produtividade agrícola global.
Tecnologias já disponíveis podem ajudar nesse caminho. Entre elas, destacam-se agricultura de precisão, manejo aprimorado de nutrientes e água, melhorias na alimentação animal e práticas simples como rotação de culturas e consórcios agrícolas.
Acordos comerciais e cooperação multilateral seguem fundamentais. O relatório estima que, até 2034, cerca de 22% das calorias produzidas no mundo cruzarão fronteiras antes de chegar ao consumidor final. O comércio agrícola equilibrará déficits e excedentes alimentares, contribuirá para a estabilidade de preços e favorecerá a segurança alimentar global.
Entre os destaques regionais, a África Subsaariana concentra oportunidades e desafios. A região possui um rebanho bovino três vezes maior que o da América do Norte, mas a produtividade por animal equivale a apenas um décimo. A previsão é de crescimento de 15% nesse rebanho até 2034.
Cereais continuarão centrais na alimentação humana. Sua produção crescerá 1,1% ao ano, sustentada por ganhos de produtividade — a área colhida avançará apenas 0,14% ao ano, ritmo menor que o da década anterior. Em 2034, 40% dos cereais serão destinados ao consumo humano direto. Outros 33% servirão de ração animal, e o restante irá para biocombustíveis e usos industriais.
A demanda por biocombustíveis crescerá 0,9% ao ano, puxada por Brasil, Índia e Indonésia. Ao mesmo tempo, países ricos devem consumir menos gorduras e açúcares, em resposta a políticas públicas e preocupações de saúde.
O crescimento do consumo mundial de alimentos será puxado principalmente por Índia e Sudeste Asiático, com 39% do total até 2034 — avanço em relação aos 32% da década anterior. Já a participação da China cairá de 32% para 13% no mesmo intervalo.
O secretário-geral da OCDE, Mathias Cormann, afirmou que os países dispõem de ferramentas para acabar com a fome. Para ele, políticas bem coordenadas, combinadas a mercados abertos e maior produtividade, serão fundamentais. Já o diretor-geral da FAO, QU Dongyu, destacou que a melhoria nutricional é positiva, mas ainda insuficiente nos países mais pobres. Ambos ressaltaram o compromisso das entidades em apoiar governos com dados, análises e recomendações técnicas.
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