Produzindo Certo e Radicle fecham parceria para estruturar projetos de crédito de carbono para produtores rurais

Objetivo é contribuir para a preservação dos solos, das florestas nativas e para a geração de uma nova fonte de renda ao produtor

31.01.2022 | 09:45 (UTC -3)
Rafaela Conte

A Produzindo Certo e a Radicle, empresa especializada na estruturação de projetos de crédito de carbono, estão abrindo as porteiras do mercado global de carbono para os produtores rurais brasileiros. As duas empresas acabam de assinar um acordo de parceria para trabalhar em conjunto na identificação de propriedades elegíveis ao Programa Fazendas Vivas, lançado em 2021 pela Radicle com o objetivo de contribuir para a preservação dos solos agrícolas, das florestas nativas e para a geração de uma nova fonte de renda ao produtor através da geração desses créditos.

“Estamos oferecendo uma possibilidade real para o produtor ganhar com a preservação de excedentes florestais e com recuperação de áreas degradadas”, afirma Roberto Strumpf, CEO para o Brasil da Radicle, empresa de origem canadense que se tornou uma das mais ativas no mercado voluntário de crédito de carbono em todo o mundo. “Faremos isso mensurando emissões e remoções de carbono, com a visão de que carbono é um grande indicador de produtividade e sustentabilidade. E que veio pra ficar, dentro da tomada de decisão ou da prestação de contas das fazendas”.

Roberto Strumpf
Roberto Strumpf

Em um primeiro momento, a parceria vai buscar, dentro das mais de 3 mil propriedades cadastradas na Plataforma Produzindo Certo, fazendas que possuam excedente de reserva legal e estejam dispostas a se comprometer em não realizar desmatamentos. Em uma segunda fase, também serão avaliadas propriedades com potencial para, através de práticas que promovem o aumento de sequestro de carbono no solo, reduzir as emissões em sua operação. “O passo inicial consiste em mensurar o carbono sequestrado e fazer um balanço para avaliar a viabilidade delas para participarem do mercado”, afirma Charton Locks, diretor de Operações da Produzindo Certo.

Uma vez identificadas as propriedades, os parceiros vão propor a elas a participação nos projetos, que serão estruturados pela Radicle e posteriormente negociados no mercado voluntário de carbono, podendo gerar uma renda adicional aos produtores. O objetivo é assinar os primeiros contratos com produtores nos próximos meses, permitindo que já haja renda para eles, com a venda dos créditos, no início de 2023.

Desmatamento Evitado

O foco inicial em propriedades com excedente de reserva legal segue a lógica do mercado. Segundo Strumpf, projetos que evitam novos desmatamentos em fazendas que, por lei, ainda poderiam abrir novas áreas para a agropecuária, são menos complexos na sua mensuração e estruturação e já possuem grande aceitação no mercado voluntário.

A Produzindo Certo já iniciou a busca por fazendas com esse perfil e, em breve, deve começar a contatá-las para apresentar a oportunidade. Segundo Charton Locks, a ideia é reunir um grupo de propriedades em um único projeto, de forma a diluir os custos envolvidos na sua estruturação e, assim, potencializar os ganhos para os envolvidos. “Queremos demonstrar aos produtores que manter a floresta em pé pode ser uma boa opção do ponto de vista financeiro”, diz.

Charton Locks
Charton Locks

Strumpf acrescenta: “Queremos acabar com a percepção de que a floresta não é uma área produtiva. Muito pelo contrário, o hectare com floresta nativa talvez seja a mais produtiva em qualquer fazenda, com maior diversidade de produtos. Queremos garantir que isso seja pago de maneira justa para o guardião daquela área”.

Os produtores que aderirem ao projeto terão suas propriedades incluídas no Programa Fazendas Vivas, da Radicle, que visa a viabilizar esse pagamento pelo serviço ambiental prestado através do potencial do mercado internacional de carbono. No caso dos projetos baseados em desmatamentos evitados, a Radicle assume o risco e banca todo o custo da estruturação do projeto, em troca de uma participação futura nos créditos negociados. Nessa modalidade, a mensuração da quantidade de créditos de carbono é feita inicialmente de forma remota, através da análise de imagens de satélite.

Numa segunda etapa, de certificação, é feita uma verificação presencial na propriedade. É um processo caro e que leva tempo, segundo Strumpf, e que leva a uma relação de longo prazo. Em geral as propostas compreendem o pagamento pelos serviços ambientais pelo prazo de 30 anos. “É como um casamento”, compara. “Por isso é muito importante que o produtor nos conheça, saiba quem somos e tenha confiança no nosso trabalho”.

Um dos desafios da parceria é justamente convencer os fazendeiros a trocarem uma possibilidade de ganho a curto prazo, principalmente em um momento em que commodities como a soja ou o boi gordo estão com cotações em alta, por um projeto com grande potencial futuro. “O projeto de crédito de carbono é como um investimento de renda fixa de 30 anos, mas que também gera benefícios para a produtividade na propriedade. A presença de uma floresta favorece o microclima local, a fertilidade do solo, a presença e a dispersão de polinizadores, a proteção contra pragas, ventos intensos e até incêndios”.

A parceria foi costurada ao longo de cerca de um ano de conversas entre a Produzindo Certo e a Radicle. “Acompanho e admiro bastante o trabalho pioneiro que eles fizeram em torno das questões socioambientais das fazendas”, afirma Strumpf, referindo-se à Produzindo Certo. “Verificamos que o indicador carbono ainda não fazia parte do processo de análise deles e que, por isso, podíamos ser complementares. De um lado, eles têm uma jornada de muitos anos e uma rede de fazendas bem interessante. De outro, Radicle vem fazendo balanço de carbono para propriedades há alguns anos no Brasil”. Embora tenha chegado ao país apenas em 2020, a empresa canadense incorporou a Pangea, fundada por Strumpf, que já atuava nessa área.

“O acordo com a Radicle é do tipo ganha-ganha-ganha”, afirma Charton. “A Produzindo Certo aproxima a Radicle de produtores qualificados e a Radicle nos permite oferecer a eles uma oportunidade real de ganhar com o mercado de carbono, que é algo de que ouvem falar há anos mas não conseguiam acessar. E, no final, quem mais sai ganhando com essa relação é o fazendeiro” diz.

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