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Há anos, o produtor rural Luis Carlos Hübner, de Teixeira Soares, no Centro-Sul do Paraná, já incorporou um processo à sua rotina dentro da porteira. Ele separa as embalagens vazias de agroquímicos usados na sua lavoura para a destinação correta. Para facilitar ainda mais para o agricultor, a entrega é feita de forma itinerante, junto às equipes das centrais do Sistema Campo Limpo, que se deslocam para locais determinados previamente, para descomplicar a devolução por parte dos produtores de municípios mais distantes.
“Fazemos a entrega no sistema itinerante da Assocampos [Associação dos Revendedores de Insumos Agropecuários dos Campos Gerais]. Eles têm três datas e locais durante o ano, e duas ficam mais próximas da propriedade. Esse modelo é excelente e muito bem-organizado, e ajuda bastante os produtores que não têm um veículo apropriado ou que, por algum motivo, têm dificuldade para levar nas unidades”, conta.
Hübner faz parte de um universo de milhares de agricultores paranaenses que, desde 2021, já destinaram corretamente mais de 7 mil toneladas de embalagens vazias de defensivos agrícolas, segundo o Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV). Isso representa 13% do volume total do Brasil, o que coloca o Estado na segunda posição do ranking de adesão ao Sistema Campo Limpo. A devolução das embalagens é uma obrigação legal do produtor rural, assim como guardar a nota fiscal da compra.
Desde o início das operações, em 2002, o Sistema Campo Limpo vem sendo ampliado em todo o território brasileiro, consolidando o país como referência mundial na logística reversa de embalagens vazias e sobras pós-consumo de agroquímicos. Nesse período, o programa já recebeu mais de 670 mil toneladas de recipientes, o que corresponde a 94% das embalagens plásticas primárias colocadas no mercado. Ou seja, a cada 100 embalagens utilizadas no agronegócio brasileiro, 94 são descartadas de forma ambientalmente correta. Deste volume, 93% são enviadas para a reciclagem – apenas 7% são incineradas.
No Paraná, o índice de reciclagem é superior à média nacional. De 100 embalagens vendidas, 99 retornam ao ciclo produtivo como matéria-prima de outros produtos, sejam novos recipientes para agroquímicos ou artefatos para outras indústrias, como automotiva e energética. Se elevarmos a comparação a outros países, o agricultor paranaense também sai na frente. De acordo com levantamento do inpEV, na França, o índice de reaproveitamento é de 77%; no Canadá e na Alemanha, de 73%; no Japão, de 50%, e nos Estados Unidos, esse índice é de apenas 33%.
O Programa Terra Limpa, iniciativa do governo estadual na gestão do ex-governador Jaime Lerner, colocou o Paraná na vanguarda em recolhimento, armazenamento e reciclagem de embalagens de agroquímicos. Segundo Fabio Macul, coordenador regional de operações do inpEV, esse pode ser considerado o pontapé inicial para um sistema de logística reversa. “O Terra Limpa, no entanto, esbarrava no fato de não dar destino adequado às embalagens. Com a legislação federal, em que cada elo tem suas obrigações, fechou-se o ciclo de responsabilidades com as embalagens”, aponta.
Na avaliação de José Antônio Borghi, presidente da Comissão Técnica (CT) de Cereais, Fibras e Oleaginosas da FAEP, os números do Paraná são resultado de um esforço conjunto. “Quando todos falam a mesma língua, temos os elos da cadeia trabalhando para atingir os melhores resultados. O próprio produtor estava esperando essa alternativa, que resolveu um problema na propriedade e a questão ambiental. Todo mundo saiu ganhando, principalmente a sociedade”, afirma.
De acordo com Rui Leão Mueller, engenheiro agrônomo do Instituto Água e Terra (IAT), que participa da coordenação do Sistema Campo Limpo, o Estado investe no treinamento das equipes responsáveis por receber as embalagens, em parceria com o inpEV. “Os erros estão caindo drasticamente. Além dos treinamentos, fazemos o controle dos processos e vistorias nas unidades de recebimento, junto às cooperativas e revendedores. Todo esse sistema foi criado para ajudar o agricultor, principal interessado”, destaca.
O Estado conta com 12 centrais de recebimento de embalagens vazias, administradas pelo inpEV, e 65 postos de recebimento distribuídos em todas as regiões, geralmente geridos por associações de distribuidores ou cooperativas. Segundo o IAT, são 17 associações de revendedores no Paraná, com participação de 100% das empresas.
Nas centrais, as embalagens são prensadas e separadas após o recebimento, o que ajuda a reduzir o volume enviado à destinação final para reciclagem ou incineração. “Para as associações, é uma vantagem, pois podem direcionar suas atividades estratégicas aos postos de recebimento e aos recebimentos itinerantes, importantes para os médios e pequenos agricultores”, explica Macul.
Todos os cursos do SENAR-PR referentes à aplicação de defensivos agrícolas possuem módulos específicos sobre a destinação correta de embalagens vazias. “Os participantes recebem todas as orientações sobre os tipos de embalagem, como fazer a lavagem e onde entregar. Quando possível, fazemos visitas nas centrais e postos de recebimento”, explica Flaviane Medeiros, técnica do Departamento Técnico (Detec) do Sistema FAEP/SENAR-PR.
Na propriedade do produtor Carlos Eduardo dos Santos Luhm, de Guarapuava, todos os funcionários passaram pelas capacitações do SENAR-PR. “Depois de perfuradas, as embalagens vão sendo armazenadas em um contêiner e, quando chega a um determinado volume, faço a programação para entrega, pelo menos duas vezes por ano”, relata. “É um sistema muito eficiente e que deixa o produtor tranquilo, porque não tem acúmulo, nem na propriedade, nem na natureza”, conclui.
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