Produção de insumos biológicos emite menos CO2, diz diretor da Abinbio

Fernando Sousa, diretor de sustentabilidade da Associação Brasileira de Indústrias de Bioinsumos, explica a razão de a opção por bioinsumos ser alternativa para tornar a agricultura mais sustentável

15.10.2024 | 08:40 (UTC -3)
Leonardo Gottems, edição Revista Cultivar

Os insumos biológicos podem apresentar níveis de toxidade menor que alternativas químicas. Também se destacam por não deixarem resíduos no solo e nos alimentos. E emitem menos gases de efeito estufa em seu processo de produção industrial. Nesta entrevista, Fernando Sousa, diretor de sustentabilidade da Abinbio (Associação Brasileira de Indústrias de Bioinsumos) explica a razão de a opção por bioinsumos ser alternativa para tornar a agricultura mais sustentável.

Como define sustentabilidade, e qual é o papel da agricultura?

Fernando Sousa – Para mim, sustentabilidade se define como um conceito de atender as necessidades dessa geração atual sem comprometer os recursos para as gerações futuras. Isso tanto em uma pegada social, quanto ambiental e também econômica.

O Brasil é o sexto maior emissor de gás de efeito estufa do planeta. Só para se ter uma ideia, o total de emissões do Brasil é de 2,4 bilhões de toneladas. Metade disso é responsabilidade do desmatamento que ocorre aqui no Brasil. Outros 30% do total de emissões é de responsabilidade da agricultura. Temos uma meta assumida com a ONU (Organização das Nações Unidas) de reduzir as nossas emissões até 2030 em 50%. Isso daria aproximadamente 1,2 bilhão de toneladas. Essa é a nossa NDC, ou Contribuição Nacional Determinada, que assumimos durante as COPs (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas).

Dentro da agricultura, são aproximadamente 700 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) que emitimos. Cerca de 70% disso é de responsabilidade de emissões de metano, que são produzidos pelos animais, na agropecuária. O metano é um gás substancialmente mais causador de efeito estufa do que o CO2, e é por isso que boa parte dessa conta fica na pecuária. Mas a agricultura é responsável por aproximadamente umas 200 milhões de toneladas de CO2 emitidas anualmente. Isso se deve muito pelas práticas agrícolas, como o uso de nitrogênio. Existe uma importante emissão de óxido nitroso, que é um gás bastante causador também de efeito estufa, potencialmente muito mais do que o CO2.

Qual é o papel da indústria de bioinsumos na promoção de uma agricultura mais sustentável?

Fernando Sousa – Dentre as práticas agrícolas, temos que olhar o papel dos insumos biológicos. Só para se ter uma ideia, um quilo, o litro de um defensivo químico aplicado na agricultura gera algo em torno de 20 a 25 quilos de CO2. Para produzir esses pesticidas, essas são as emissões que são contabilizadas. Então, dependendo da categoria de produto, se é uma herbicida, fungicida ou inseticida, ele vai gerar de 20 a 25 quilos de CO2 por quilo de produto para ser produzido.

Os biológicos, por sua vez, para serem produzidos, emitem 90% a menos do que os defensivos químicos, de acordo com estudo da Universidade da Califórnia (UC-Davis, em parceria com a Marrone Bio). Ou seja, para se produzir um quilolitro de produto biológico, eu emito de 3 a 5 quilos de CO2 por quilolitro de produto.

Vale lembrar que o Brasil é um dos principais mercados consumidores de produtos defensivos, produtos para a proteção da planta. Isso porque a gente vive numa agricultura tropical. Aqui o ciclo das pragas não é encerrado com ambientes climáticos com neve. Então a praga aqui se perpetua e é por isso que este é um dos maiores mercados de proteção de plantas do mundo. Nesse contexto, o Brasil tem papel importante na produção de alimentos para o mundo.

Esse nível total de emissão dos defensivos químicos, se fôssemos substituir completamente por defensivos biológicos, poderia promover uma redução de até 90% nas emissões de CO2 produzidas pela agricultura.

Anualmente, a gente utiliza 1,4 milhão de toneladas de defensivos químicos. Se a gente fizer uma conta de quanto é necessário em termos de emissão para produzir todos esses produtos, a gente vai chegar a uma conta de aproximadamente 20 a 24 milhões de toneladas de CO2 que são necessárias para produzir esses produtos.

Qual é a importância de ter produtos biológicos de qualidade, regulamentados e fiscalizados?

Fernando Sousa – Os produtos regulados e fiscalizados pelos três órgãos: Ministério da Agricultura (Mapa), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) garante que esses biológicos não causem patogenicidade para os seres humanos. Tem uma série de bactérias que transmitem doenças para os seres humanos. Então é importante que a Anvisa olhe na perspectiva de toxicidade para o ser humano para que não cause nenhum problema agudo na sociedade.

O Ibama olha para as questões de equilíbrio do meio ambiente em marcadores importantes como pulga-da-água (dáfnia), como a minhoca, como peixes, como roedores e pássaros. Todo esse crivo vai ajudar justamente a gente garantir que o bioativo que está sendo introduzido no ambiente não vai causar redução de biodiversidade.

E o terceiro é a eficácia, então o Mapa precisa garantir que esses produtos não sejam contaminados com outros bioativos. Também que estejam na concentração adequada, que consigam então controlar o patógeno ou a doença para qual foram criados.

Que efeitos sobre o meio ambiente e a saúde humana e animal podem haver por conta de produtos on farm, caseiros, ou até clandestinos?

Fernando Sousa – Sem um devido controle do que está sendo produzido, dentro de um tanque de fermentação pode haver contaminantes patógenos para os seres humanos e para o meio ambiente. E que também podem causar ineficácia no alvo que o produtor busca controlar. Então, um baixo controle pode colocar em prejuízo toda a construção do tema biológico futuro da agricultura brasileira.

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