Cientistas contam com mobilidade e conectividade para a pesquisa em agricultura
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, por meio da sua Unidade Embrapa Amazônia Ocidental, em Manaus-AM, vem desenvolvendo pesquisas no ecossistema de várzeas do Amazonas. Os resultados mostram que é possível aproveitar melhor o potencial agrícola desses solos férteis, além de desenvolver plantas com melhor qualidade nutricional, mais produtivas e adaptadas a esse ecossistema.
“As várzeas amazônicas representam uma alternativa para produção sustentável de grãos pelas populações locais do Amazonas”, afirma o pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental, José Ricardo Pupo Gonçalves, que em 2010 conduziu experimentos em que foram avaliadas 40 variedades de feijão- caupi, 36 de milho e 22 de arroz, na várzea do rio Amazonas, visando melhorar a produção para atender agricultores familiares.
Cada variedade corresponde a um genótipo diferente, ou seja cada uma contém um conjunto de informações hereditárias que se diferencia da outra. Tomando como exemplo o feijão-caupi, a variedade mais produtiva dessa espécie testada pela Embrapa no ecossistema de várzea rendeu 1.400 quilos por hectare (kg/ ha), mais que o dobro da produtividade média
estadual, que oscila em torno de 600 kg/ha.
A alta produtividade conseguida no experimento é atribuída às qualidades dos genótipos de feijão-caupi combinadas com a fertilidade natural do solo de várzea. Os resultados dessa pesquisa mostraram alta capacidade produtiva da várzea e também o desempenho de melhores genótipos para aquele ambiente.
A produtividade obtida nesses experimentos com feijão em várzea representa o triplo do que é conseguido em terra firme, com a metade dos custos de produção. No experimento em várzea não houve incremento de adubação com insumos químicos, nem foi necessário fazer correção do solo com calcário, pois o plantio foi realizado em um tipo de solo com baixa acidez, altos teores de cálcio e magnésio e nível baixo de alumínio. Nos solos de terra firme os custos são maiores porque são necessários investimentos com o uso de calcário para correção do solo e adubação a fim de obter uma produção que torne o cultivo viável.
De acordo com o pesquisador, o uso de genótipos de grãos mais adaptados à várzea pode aumentar a quantidade e a qualidade dos alimentos produzidos, contribuindo para melhorar a renda dos agricultores, principalmente daqueles que não possuem recursos para investir em insumos para a produção.
Os trabalhos de pesquisa realizados nas várzeas do Amazonas para avaliação de grãos têm ações vinculadas a três projetos desenvolvidos na Embrapa Amazônia Ocidental, em parceria com centros de pesquisa da Embrapa e de outras instituições. Um desses projetos é em parceria com a Embrapa Meio Norte (Teresina-PI) para avaliação de genótipos de feijão-caupi. Outro é em parceria com a Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG) para avaliação de genótipos de milho. E há ainda ações no projeto Desenvolvimento de Pesquisa em Processos e Produtos Agropecuários Aplicados ao Agronegócio Familiar (Despa), que tem a parceria da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), com apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), órgão vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).
Cultivares recomendadas - Atualmente, as cultivares de feijão-caupi recomendadas pela Embrapa para a várzea do Amazonas são a BRS Guariba, BRS Nova Era, BRS Paraguassu e BRS Xiquexique. A produtividade média estadual de feijão-caupi está em 600 kg/ha em áreas de várzea. Com a utilização das cultivares recomendadas, a produtividade aumenta em pelo menos 70% nos solos de várzea.
Entre as cultivares de feijão recomendadas pela Embrapa para o Amazonas, uma se destaca pelo valor nutricional. É a BRS Xique-xique, cultivar desenvolvida pela Embrapa Meio Norte e lançada em 2008, que se diferencia por possuir alto teor de ferro e zinco, minerais importantes para a saúde de qualquer pessoa. A cultivar de feijão BRS Xique-xique apresenta, em média, 77 mg de ferro e 53 mg de zinco por quilo, duas vezes mais que os demais feijões.
Esse tipo de feijão é um dos alimentos biofortificados, desenvolvidos pela Embrapa. A biofortificação é uma estratégia, baseada no melhoramento genético convencional, para fortalecer nutricionalmente alimentos e combater o que os especialistas chamam de “fome oculta”, que é a carência de micronutrientes essenciais para a saúde, como vitamina A, ferro e
zinco. Nesse caso, o problema não é apenas a falta de alimentos, mas também a má nutrição ou a deficiência de nutrientes específicos. E isso se constitui em um problema enfrentado por populações pobres em várias partes do mundo, pois a deficiência de ferro e zinco no corpo causa anemia e retarda o crescimento, prejudicando especialmente crianças e gestantes.
A Embrapa Agroindústria de Alimentos, unidade sediada no Rio de Janeiro, coordena o projeto BioFort, que se dedica a biofortificação de alimentos básicos como arroz, feijão, milho, mandioca, batata-doce, abóbora e trigo.
Esse trabalho conta com a participação de várias unidades da Embrapa e está integrado a um esforço de uma rede internacional de instituições de pesquisa, nos programas HarvestPlus e AgroSalud, com objetivo de combater a fome e desnutrição na América Latina, Caribe, Ásia e África. Os programas desenvolvem ações para fortalecer nutricionalmente alimentos mais consumidos pelos pobres.
Vale ressaltar que o melhoramento genético convencional se baseia na seleção e cruzamento de variedades de plantas de uma mesma espécie, aproveitando características naturais encontradas nestas variedades.
Síglia Regina
Embrapa Amazônia Ocidental
(92) 3303-7852
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