Pesquisadores do Brasil e da Argentina unem esforços no controle de praga agrícola

04.10.2013 | 20:59 (UTC -3)
Assessoria de Imprensa

O Wheat streak mosaic virus (WSMV), agente causal do mosaico estriado do trigo, e seu ácaro vetor Aceria tosichella, conhecido como ácaro do enrolamento do trigo, foram detectados pela primeira vez na Argentina, em 2002 e 2004 respectivamente. No Brasil, o ácaro foi relatado em 2006, limitado a quatro municípios do norte do Rio Grande do Sul. Hoje, o ácaro está no Noroeste do RS, Oeste de SC e Centro-Sul do PR, ampliando sua distribuição geográfica e diversidade de hospedeiros. Um grupo de especialistas esteve reunido na Embrapa Trigo, dias 17 e 18/09, para avaliar a expansão e alternativas de manejo do ácaro e as viroses transmitidas na América do Sul.

O ácaro Aceria tosichella Keifer (Prostigmata: Eriophyidae) afeta o cultivo de cereais em várias partes do mundo, como América do Norte, Europa, Ásia e Austrália. Na América do Sul, o primeiro registro do ácaro foi na Argentina em 2004, e detectado no Brasil pouco tempo depois, provavelmente disseminando-se através do vento ou via sementes contaminadas. Os danos com o ataque do ácaro podem ser físicos, comprometendo o desenvolvimento da planta quando em altas populações, e como vetor de viroses que comprometem a planta e reduzem a produtividade. A habilidade de transmitir diferentes espécies de vírus é o que mais preocupa os pesquisadores. Na Argentina, na última década, os pesquisadores detectaram duas espécies de vírus transmitidos pelo ácaro: o WSMV (Wheat streak mosaic virus), ou vírus do mosaico estriado do trigo; e HPV (High plains virus), responsável por grandes danos econômicos na América do Norte nos anos 1990. Recentemente, o surgimento de uma nova espécie de vírus foi identificada: o TriMV (Triticum mosaic virus) consegue infectar plantas com resistência genética ao WSMV.

De acordo com o pesquisador da Embrapa Trigo, Douglas Lau, o potencial de impacto do problema no Brasil pode ser considerado alto, uma vez que a praga pode permanecer em várias gramíneas abundantes no país e a caracterização de cultivares de trigo brasileiras ainda não chegou a um genótipo com resistência satisfatória. Contudo, por enquanto, as populações do ácaro encontradas em condições de campo no Brasil ainda são baixas, sendo difícil a detecção do WSMV. “No sul do Brasil, o desafio maior é fazer a correta diagnose, pois várias espécies de vírus presentes no ambiente também podem causar mosaico”, explica Lau.

Como não existem cultivares resistentes às três espécies de viroses detectadas e o controle químico não responde satisfatoriamente, a pesquisadora Graciela Truol, do Instituto Nacional de Tecnologias Agropecuárias da Argentina (INTA), explica que os produtores têm utilizado algumas técnicas de manejo para escapar do problema, como adquirir apenas sementes com boa procedência, plantar mais tarde na época recomendada e eliminar plantas guachas dentro e no entorno da lavoura. “Um dos maiores problemas tem sido o cultivo do milho na rotação com o trigo, que mantém a ponte verde para a presença do ácaro”, ressalta Graciela, avaliando que a pesquisa deverá chegar a genótipos com resistência nos próximos dois ou três anos.

O projeto “Monitoramento e diagnose do complexo Aceria tosichella e vírus transmitidos” é fruto de um acordo de cooperação técnica entre a Embrapa e o INTA que tem permitido monitorar o ácaro no Brasil e na Argentina sob os aspectos de distribuição geográfica, plantas hospedeiras, variabilidade genética das populações do vetor e dos vírus transmitidos, além do desenvolvimento de mapas de risco de epidemias. “A resistência genética é uma das ferramentas mais importantes para manejar a praga. Neste sentido, os genótipos de trigo brasileiros, dos diferentes obtentores, têm sido avaliados visando determinar seu nível de resistência, em parceria com os materiais do INTA”, explica Douglas Lau.

Participou do encontro uma equipe multidisciplinar de pesquisadores (virologistas, acarologistas e melhoristas) da Embrapa Trigo, Cenargen, INTA-IPAVE, UPF, UFV, Biotrigo, CCGL-TEC, Coodetec e OR Sementes.

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