Previsão de chuva em seis estados
Redução na área plantada, menor produção, alto custo de produção e estiagem na região Sul. Estes foram os principais problemas que atingiram os produtores de milho no Brasil na safra de verão. De acordo com o último levantamento da safra 2008/2009 divulgado pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), a área plantada foi 3,7% inferior ao último ciclo, o que representará uma queda de 6,85 milhões de toneladas de milho. Para analisar esse cenário, dois pesquisadores da Embrapa Milho e Sorgo foram entrevistasos: José Carlos Cruz, da área de Fitotecnia, e João Carlos Garcia, da área de Economia Agrícola.
Veja quais são as projeções em nível de mercado sobre o abastecimento interno, exportações e as principais recomendações para a safrinha, que deve responder por mais de um terço da produção brasileira de milho.
PESQUISADORES – De acordo com o último levantamento da Conab, divulgado no último dia 9 de março, a área plantada na safra de verão foi 3,7% menor que a da safra de verão de 2007/08, devido, principalmente, ao alto custo de produção, sobretudo o de fertilizantes, acompanhado pela baixa cotação do produto na época de plantio. A maior redução da área plantada na safra de verão foi na região Centro-Oeste (17,4%). Estima-se que a produção para esta safra apresentará uma redução de cerca de 17,1% em relação à safra 2007/2008, o que corresponde a cerca de 6,85 milhões de toneladas a menos.
O principal fator que gerou esta redução na produção foi a estiagem que ocorreu nos meses de novembro e dezembro na região Sul, principalmente nos estados do Paraná e do Rio Grande do Sul. O Paraná foi um dos mais prejudicados pela falta de chuva, com uma diminuição na produtividade média de 33,2% em relação à safra anterior. Isto significa 3,69 milhões de toneladas a menos que a safra 2007/2008. O estado do Rio Grande do Sul também foi seriamente atingido pela estiagem, ocasionando uma redução de 916,9 mil toneladas em relação à última safra.
Em praticamente todos os estados do Centro-Sul, onde se concentra a maior produção de milho no Brasil, registrou-se queda no rendimento, especialmente o Paraná (queda de 33,2%) e Rio Grande do Sul (queda de 17,6%). Em média, a região Centro-Sul (Sul, Sudeste e Centro-Oeste) apresentou redução no rendimento de 14,7%. A região Sudeste foi a menos afetada, sendo que apenas São Paulo mostrou ligeira queda no rendimento das lavouras (3,6%).
Em relação ao abastecimento interno, de acordo com informações do CIMilho (Centro de Inteligência do Milho; disponível em
), o problema de uma quebra na produção nos estados da região Sul está na sua posição de principal produtora na época da safra e também maior consumidora de milho no Brasil. No caso do Rio Grande do Sul, esta situação se complica pela distância dos polos de produção do Centro-Oeste. Em decorrência da situação climática na Argentina, as condições de abastecimento naquele Estado podem apresentar dificuldades. Segundo informações do CIMilho, houve, na Argentina, uma forte redução na área plantada e os dados mais recentes sobre o efeito de uma das piores secas já ocorridas indicam uma colheita entre 12,5 e 13,8 milhões de toneladas, bem inferior às 22,3 milhões de toneladas na safra passada.
Em relação á exportação, segundo a Conab, até fevereiro foram enviados ao exterior pouco mais de dois milhões de toneladas, confirmando a estimativa de oito milhões exportadas. Ainda segundo a Conab, os estoques de passagem remanescentes da safra anterior não foram totalmente escoados e vêm mantendo pressão baixista nos preços desde o curto período de entressafra do milho.
De acordo com o levantamento realizado sobre as cultivares disponíveis para a safra 2008/09, verifica-se uma consolidação da predominância do número de híbridos simples, que representaram 46,69% das opções de mercado em número das cultivares disponíveis. De acordo com dados da APPS (Associação Paulista dos Produtores de Sementes e Mudas) relativos à safra 2007/08, os híbridos simples corresponderam a 57,5% de toda a semente vendida e a cerca de 56% de toda a semente vendida na safrinha.
Os híbridos simples e triplos representam, hoje, 71,19% das opções para os produtores, mostrando uma tendência na agricultura brasileira e uma maior necessidade de se aprimorar os sistemas de produção utilizados para explorar de maneira otimizada o potencial genético dessas sementes.
O plantio da safrinha já está sendo realizado e, portanto, espera-se que os agricultores tenham realizado um bom planejamento para seu plantio e que este planejamento tenha sido cumprido.
Por ser plantado no final da época normal, o milho safrinha normalmente tem sua produtividade bastante afetada pelo regime de chuvas, pelas fortes limitações de radiação solar e pela temperatura na fase final de seu ciclo. A época de plantio é, pois, o fator determinante do nível tecnológico das culturas na safrinha, considerando que, à medida em que se atrasa o plantio, há uma acentuada queda no potencial produtivo e aumento também substancial do risco de perdas total ou parcial da lavoura.
Hoje, nas principais regiões produtoras de milho safrinha, o nível tecnológico utilizado nos plantios precoces são semelhantes ao nível tecnológico utilizado na safra normal. Como ocorre na safra, hoje, na safrinha, os híbridos simples, de maior potencial produtivo, são os mais plantados. À medida que se atrasa o plantio da safrinha, aumentando os riscos climáticos, o agricultor reduz então o nível tecnológico e ocorre um aumento do plantio de milhos híbridos duplos de menor custo. Verifica-se ainda uma maior preocupação de plantio de cultivares mais precoces na safrinha para escapar do provável déficit hídrico no final do ciclo e da ocorrência de geada. A densidade de plantio normalmente é menor na safrinha, sendo que quase todas as empresas de sementes de milho recomendam densidades de plantio específicas para a safra e para a safrinha. Geralmente, a densidade de plantio para a safrinha é cerca de 20% menor do que na safra.
Na segunda safra de milho, o controle de pragas e doenças deverá ser maior, já que geralmente esses problemas são mais sérios. Por outro lado, o controle de plantas daninhas normalmente é mais fácil. No entanto, o produtor deve tomar o cuidado no momento da escolha dos herbicidas utilizados na safra da soja no verão para evitar o efeito fitotóxico desses herbicidas na cultura da safrinha.
Toda estratégia de manejo do solo deve levar em consideração uma busca de maior quantidade de água disponível para as plantas. Nesse aspecto, o sistema de plantio direto na palha possibilita maior rapidez nas operações, principalmente no plantio realizado simultaneamente à colheita, permitindo o plantio o mais cedo possível. Além disso, um sistema de plantio direto com adequada cobertura da superfície do solo permitirá maior disponibilidade de água para o milho safrinha.
Guilherme Ferreira Viana
Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG)
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