Pesquisadores da Embrapa incentivam o uso da agricultura de precisão no Mato Grosso

A AP é conhecida como sistema de gestão que leva em conta a variabilidade espacial da lavoura para obtenção de retorno econômico e ambiental

28.11.2016 | 21:59 (UTC -3)
Joana Silva

Pesquisadores de três centros da Embrapa estão no Mato Grosso essa semana para disseminar o conceito e estimular o uso de tecnologias e ferramentas utilizadas na agricultura de precisão (AP) junto aos produtores rurais e técnicos daquele estado. A AP é conhecida como sistema de gestão que leva em conta a variabilidade espacial da lavoura para obtenção de retorno econômico e ambiental.

O encontro é uma demanda do Instituto Matogrossense do Algodão (IMAmt) e ocorre nos dias 29 e 30, em duas instituições, na Cooperativa dos Cotonicultores de Campo Verde (CooperFibra), em Campo Verde, e no Centro de Treinamento e Difusão Tecnológica do Núcleo Regional Norte do IMAmt, em Sorriso, consecutivamente.

Membros da Rede de Agricultura de Precisão, os pesquisadores Ricardo Inamasu e Carlos Manoel Pedro Vaz (Embrapa Instrumentação - São Carlos/SP); Ziany Neiva Brandão (Embrapa Algodão - Campina Grande/PB) e Julio Cezar Franchini dos Santos (Embrapa Soja – Londrina/PR) vão traçar um panorama da técnica, mostrar o emprego da AP para mapear os atributos físicos e químicos do solo, além dos impactos na cultura do algodão e da soja.

Para o coordenador da Rede de Agricultura de Precisão, Ricardo Inamasu, que vai fazer uma exposição sobre os conceitos, fundamentos e ferramentas, a técnica é baseada no tripé – aquisição de dados em escala e frequência adequadas; interpretação e análise desses dados; gestão e implementação de uma resposta a uma escala espacial e de tempo.

"A AP é uma ferramenta, então, que pode trazer contribuições significativas para o estado do Mato Grosso ao ser empregada em diversas culturas, facilitando a gestão, identificando problemas pontuais e ajudando a melhorar a produtividade de uma commoditie que tem grande participação na balança comercial", afirma.

Parceria

A contribuição da Embrapa tem sido fundamental para identificar problemas, por exemplo, no cultivo de algodão na região de Mato Grosso, responsável por mais de 50% da área plantada do país. O pesquisador Carlos Manoel Pedro Vaz, que vai abordar o mapeamento de atributos físicos e químicos do solo - essenciais para pesquisa de fertilidade e compactação - tem utilizado os avanços científicos e tecnológicos da área para correlacionar doenças com as condições do solo na cultura do algodoeiro.

Um levantamento realizado nas safras de 2011/12 e 2012/13, que integrou esforços de quatro instituições do algodão de Mato Grosso e quatro centros de pesquisa da Embrapa apontou fatores que estão impactando diretamente na produção da cultura. Entre eles, estão o aumento da incidência de nematoide e a grande relação entre a doença e às condições de solo.

As conclusões do estudo levaram em consideração as avaliações de 1.162 amostras de solos de 263 fazendas particulares, distribuídas nos sete núcleos de produção da cultura no estado de Mato Grosso.

Durante oito meses, Vaz incorporou metodologias e equipamentos, como o Analisador Granulométrico e o Sensor de Umidade de Solo, entre outros, para analisar as propriedades físicas do solo – densidade e partículas, umidade, textura – consideradas parâmetros importantes para o entendimento das condições de solos. "As características físicas dos solos analisados com o auxílio de técnicas avançadas indicaram que há uma relação significativa entre a incidência de nematoide e a textura do solo e que há grande influência da compactação do solo na produtividade do algodoeiro", concluiu. Segundo ele, com essas informações o produtor pode realizar intervenções na propriedade, de correções de solo ou de manejo da cultura.

Ziany Neiva Brandão vai apresentar casos de sucesso na adoção da AP no Brasil e no mundo de forma a estimular os produtores a adotarem cada vez mais essa técnica de gerenciamento agrícola, bem como sensores e equipamentos utilizados para monitoramento e aplicação de insumos à taxa variada no algodoeiro.

Um dos casos de sucesso que serão apresentados é resultado de um projeto da Embrapa Algodão em parceria com a SLC Agrícola – com 14 unidades produtivas em seis estados, incluindo Mato Grosso - que vem sendo realizado desde 2011 com a Embrapa Instrumentação, visando identificar quais são as ferramentas de agricultura de precisão mais apropriadas para a cultura do algodão no Brasil.

"Nesse projeto foram testados diversos índices de vegetação obtidos por imagens de satélites, fotografias aéreas ou câmeras multiespectrais embarcadas em drones e vant's, além da condutividade elétrica do solo, mapas de produtividade e suas relações com atributos de solo e planta, doses de fósforo e nitrogênio na cultura do algodão", conta Ziany.

De acordo com ela, o gerenciamento das lavouras por meio de ferramentas de agricultura de precisão permite identificar e tratar as variabilidades observadas na cultura, com o auxílio de mapas gerados na colheita, assim como informações de solo e o histórico da área, criando zonas de manejo para o monitoramento em tempo real das necessidades nutricionais durante o ciclo da cultura e possibilidades de intervir a tempo de elevar a produtividade.

A exposição sobre o emprego da agricultura de precisão na cultura da soja ficará sob a responsabilidade do pesquisador da Embrapa Soja, Julio Cezar Franchini dos Santos.

O consultor de Tecnologia e Sustentabilidade do IMAmt, Sérgio Dutra, acredita que eventos como esses podem abrir uma oportunidade para a Rede de Agricultura de Precisão da Embrapa desenvolver novos trabalhos, em parceria com o instituto, em Mato Grosso.

Adoção no Brasil

As pesquisas com AP tiveram início na Embrapa, praticamente ao mesmo tempo em que começaram os estudos no País, no final da década de 1990. Ainda em 1999 o tema Agricultura de Precisão fez parte das pesquisas realizadas no Laboratório Virtual da Embrapa no exterior (Labex), tendo como parceira e contraparte americana a United States Department of Agriculture/Agricultural Research Service (USDA/ARS), em Lincoln, Nebraska (EUA).

Em 2004, a Embrapa deu início ao primeiro projeto em rede no tema agricultura de precisão como continuidade das atividades dos projetos anteriores. Considerando o tema estratégico para o País, a Embrapa aprovou, em 2009, o segundo projeto, envolvendo 20 Centros de Pesquisa da Empresa e mais de 50 parceiros, como empresas, instituições de pesquisa, universidades e produtores rurais. Recentemente, foi aprovada a terceira fase da Rede de Agricultura de Precisão.

Em setembro de 2013, a Embrapa inaugurou, em São Carlos (SP), o Laboratório de Referência Nacional em Agricultura de Precisão (Lanapre). O espaço, inédito no Brasil, é utilizado para pesquisar e desenvolver equipamentos, sensores, componentes mecânicos e eletrônica embarcada, em um único local.

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