Reunião extraordinária da Citricultura
Uma legislação moderna e estrutura adequada com integração dos diversos setores são fundamentais para garantir a biossegurança no país e evitar o surgimento de doenças que podem dizimar plantações. A opinião, em tom de alerta, é da pesquisadora Rosa Maria Valdebenito Sanhueza, da Proterra, de Vacaria (RS), em palestra sobre o cancro bacteriano da macieira durante o 47º Congresso Brasileiro de Fitopatologia, que acontece em Londrina (PR) até a próxima sexta-feira.
A integração entre instituições governamentais de defesa vegetal, empresas de pesquisa e de assistência e universidades, aliada ações de monitoramento e penalidade a quem negligencia e introduz patógenos, são prioritárias para a agricultura brasileira. “Falta no Brasil seriedade no tratamento dessa questão. Em outros países, a disseminação de patógenos é considerada crime e tem punição adequada. Para mim, é um atentado à pátria”, afirma. Segundo ela, a situação se agrava com a falta de investimentos no setor.
Para a pesquisadora, o enfrentamento desses riscos deveria estar a cargo de uma agência de biossegurança, a exemplo do que acontece em outros países. “Instrumentos desta natureza são mais ágeis, têm composição mais ampla e mais recursos disponíveis”, afirma. Rosa acrescenta que a agência deveria ser virtual, o que facilitaria a sua atuação.
Rosa acrescenta que o ensino também é falho quando se fala em biossegurança. “Escolas de ciências agrárias e biológicas não ensinam a real importância na atenção à introdução e circulação de material contaminado”, afirma.
Os prejuízos são inestimáveis. Perdas são registradas com erradicação de pomares, suspensão de atividades de viveiros de mudas, no caso da fruticultura, investimentos em agroquímicos, e outros. Produtores ficam impedidos de exportar e têm que arcar com altas despesas para a implantação de novo pomar.
Rosa cita o caso de Vacaria, onde o cancro bacteriano causou danos imensos aos pomares de maçã nos últimos anos. Medidas drásticas foram tomadas, atendendo ao disposto na Instrução Normativa do Ministério da Agricultura em 2012, quando houve o reconhecimento da presença da doença no Brasil.
Segundo ela, em torno de cinco milhões de mudas foram erradicadas. Para atender a IN, plantas de um a dois anos foram incineradas, assim como os ramos laterais de plantas com o cancro. Produtores também foram obrigados a fazer de 6 a 7 pulverizações de fungicidas a mais que o normal.
Seriedade também é citada pelo pesquisador Armando Bergamin Filho, da Esalq, como fundamental no enfrentamento da Huanglongbing, também conhecida como greening, doença que afeta a citricultura. Segundo ele, a luta contra a doença, que atualmente afeta 28 milhões de árvores, ou 14%, dos pomares paulistas, só terá êxito com o manejo regional. “Não adianta só um produtor fazer o monitoramento e pulverizações em sua propriedade se o vizinho não fizer”, diz. O greening já dizimou 35 milhões de árvores em São Paulo nos últimos 10 anos. No Paraná 5% das plantas apresentam os sintomas da doença
"O controle da doença é relativamente fácil, o problema são essas ações em conjunto. Na minha opinião, a citricultura vai ser dominada pelos grandes, já que a doença vai colocar mais poder econômico nas mãos de quem já está à frente do setor", afirma.
A promoção do evento é da Sociedade Brasileira de Fitopatologia e realização da Universidade Estadual de londrina (UEL), Embrapa Soja e Instituto Agronômico do Paraná (Iapar).
Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura
Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura