Pesquisador alerta para desafios no manejo de doenças da soja na safra 2023-24

Uma das principais preocupações foi o impacto das condições climáticas distintas, caracterizadas por volumes de chuva acima da média

03.05.2024 | 15:04 (UTC -3)
Janaina de Melo
Foto: divulgação
Foto: divulgação

Na busca por altos rendimentos na safra 2023/24, agricultores enfrentaram desafios significativos no controle de doenças da soja, conforme destacado pelo pesquisador em Fitopatologia da RTC/CCGL, Carlos Pizolotto. Em sua análise, o pesquisador delineou os desafios encontrados e as medidas necessárias para enfrentá-los, ressaltando a importância da ação preventiva e do monitoramento constante.

Uma das principais preocupações foi o impacto das condições climáticas distintas, caracterizadas por volumes de chuva acima da média. Embora essas chuvas tenham impulsionado os rendimentos, também aumentaram a incidência de doenças, com destaque para a ferrugem-asiática, ainda a principal ameaça à cultura da soja. Comparativamente aos anos 2000, marcados pelas primeiras epidemias da doença no Brasil, a safra atual testemunhou uma das maiores pressões de ferrugem-asiática da soja.

Além da ferrugem, o surgimento precoce de manchas foliares, a incidência de antracnose, e o emergente complexo Diaporthe/Phomopsis, que resulta no quebramento de hastes e anomalias em vagens, foram outros pontos apresentados pelo pesquisador. Para enfrentar esses desafios, enfatiza-se a necessidade de um manejo preventivo, iniciando as aplicações de defensivos mais cedo na temporada e adotando uma abordagem integrada.

De acordo com o pesquisador, é importante a aplicação no estádio de V3-V4 (entre 20 e 25 dias após a emergência da cultura), como crucial para o controle eficaz das doenças, especialmente das manchas foliares e da antracnose. Ele ressaltou ainda a eficácia da combinação de produtos químicos e biológicos, como os biofungicidas à base de Bacillus, que demonstraram um aumento significativo no controle de doenças, incluindo a ferrugem-asiática.

Outro aspecto crítico abordado foi a rotação adequada de produtos, visando evitar resistência e garantir a eficácia contínua dos defensivos. O pesquisador destacou a importância de intervalos regulares de aplicação e a utilização de carboxamidas e triazóis, associados a protetores, para maximizar a eficácia e prolongar o controle das doenças ao longo do ciclo da cultura.

Também faz-se necessário estar atento às aplicações de final de ciclo, principalmente para aqueles que iniciaram as aplicações de fungicida tardiamente ou em cenários de maior pressão de doença. O pesquisador alertou para a importância de evitar a repetição excessiva de produtos curativos, como o protioconazol e tebuconazol, que podem causar fitototoxidade especialmente nas aplicações de final de ciclo.

"A entrada da morfolina trouxe uma ação curativa importante", acrescentou. Ele também destacou a eficácia da rotação de alguns triazóis, como o ciproconazol, nas aplicações de final de ciclo. Além disso, ele mencionou a importância de utilizar doses crescentes de produtos multissítio, como o mancozeb e o clorotalonil, para um controle mais eficaz das doenças. "Quem trabalhou com doses crescentes do protetor teve um maior sucesso no controle dessas doenças", afirmou.  

Outro ponto abordado por Pizolotto foi a questão do intervalo entre as aplicações. Ele destacou a importância do intervalo de aplicação, intervalos menores especialmente em semeaduras mais tardias ou na soja safrinha, foram mais eficazes no controle das doenças. Isso ocorre porque intervalos mais curtos são mais eficazes na redução da produção de inoculo dos fungos causadores de doenças na soja.

Além disso, ele enfatizou a necessidade de manejar adequadamente os restos culturais e adotar práticas de rotação de culturas para reduzir a pressão de doenças, especialmente no caso do complexo Diaporthe, transmitido pela semente e presente nos restos culturais. A utilização de biofungicidas e tratamentos de sementes eficazes também foi destacada como parte essencial do manejo integrado de doenças.

Em suma, a safra 2023/24 apresentou desafios significativos no manejo de doenças da soja, mas também evidenciou a eficácia de estratégias preventivas e integradas. O alerta de Pizolotto ressalta a importância da adoção de medidas proativas e do acompanhamento contínuo para garantir a saúde e a produtividade das lavouras de soja no Brasil.

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