Pesquisa impulsiona o arroz e o feijão para além da produtividade

Trajetória da pesquisa com o cereal e a leguminosa faz parte das comemorações dos 50 anos da Embrapa

10.05.2023 | 14:38 (UTC -3)
Rodrigo Peixoto
Produtores visitam parcelas com cultivares de arroz da Embrapa; Foto: Keyle Menezes
Produtores visitam parcelas com cultivares de arroz da Embrapa; Foto: Keyle Menezes

Uma história sobre o arroz e o feijão que passa pelo aumento da produtividade das lavouras, expande-se para incorporar grãos de qualidade superior para o consumidor; e que cresce no sentido da sustentabilidade ambiental da produção e na busca pelo retorno financeiro atrativo ao agricultor. Essa é a trajetória da pesquisa com o cereal e a leguminosa nas comemorações dos 50 anos da Embrapa.

O centro de pesquisa da Empresa dedicado a ambos os grãos (Embrapa Arroz e Feijão) foi implantado na região central do Brasil, com sede em Santo Antônio de Goiás/GO. O arroz foi o foco inicial dos trabalhos em 1974, pois a região dos cerrados era a principal produtora do País. No ano seguinte, veio o feijão para junto do cereal, cuja motivação foi a referência à própria tradição culinária brasileira. O pesquisador Luís Fernando Stone é um dos veteranos que participou dessa história.

“Na década de 1970, o crescimento acelerado da população e da renda per capita, e a abertura para o mercado externo mostravam que, sem investimentos em ciências agrárias, especialmente na geração de conhecimento científico para apoiar o desenvolvimento agrícola, o País não conseguiria reduzir o diferencial entre o crescimento da demanda e o da oferta de alimentos. Nesse contexto, a Embrapa Arroz e Feijão foi criada em 4 de outubro de 1974 com a responsabilidade inicial de fazer pesquisa para a cultura do arroz, passando a dedicar-se também à cultura do feijão-comum, a partir de 1975, e à de caupi, entre 1977 até 1991”, disse Stone.

O pesquisador conta que, naquela época, o objetivo era o aumento da produtividade das lavouras, com destaque aos programas de melhoramento genético e o lançamento de variedades cada vez mais adaptadas aos ambientes de cultivo. O suporte de outras áreas do conhecimento foi também essencial com estudos voltados ao manejo da lavoura e de pragas, doenças e plantas daninhas. Esse foco inicial dos trabalhos, em parceria com outras instituições de investigação científica e extensão rural, trouxe resultados relevantes. O arroz aumentou a produtividade média em mais de quatro vezes: saiu de 1,5 mil quilos por hectare em 1980 para 6,4 mil quilos por hectare no ano de 2020. Já a produtividade média do feijão mais que dobrou nesse período, passando de 422 quilos por hectare para 1 mil quilos por hectare. 

De acordo com Stone, um segundo elemento começou a ganhar relevo dentro da pesquisa a partir da década de 1980. No caso do arroz, o consumidor passou a se interessar pelo grão longo fino, agulhinha, com cozimento macio e solto; e, para o feijão, por exemplo, o carioca, o grão mais valorizado, deveria ter escurecimento tardio, com cozimento mais rápido e com caldo encorpado. A partir desse ponto, além da produtividade, a qualidade dos grãos passou a ser um dos alvos de trabalho e recebeu maior atenção da pesquisa. Como resultado, foram lançadas cultivares precursoras do movimento da qualidade de grão na década de 1990, como a BRS Primavera, a primeira para o cultivo em terras altas a possuir grão agulhinha; e a BRS Pérola, feijão que se tornou padrão comercial de qualidade para o grão carioca.          

Sustentabilidade

A sustentabilidade ambiental da produção foi outro componente que emergiu em meados dos anos 1980. O chefe geral da Embrapa Arroz e Feijão, pesquisador Elcio Guimarães, destacou que o zoneamento agroclimático, estudo de locais e épocas de cultivo mais propícias para evitar riscos de adversidades climáticas, começou pelo arroz. “O zoneamento que hoje existe para diversas culturas começou por aqui com o arroz, porque o cereal tem um período em janeiro de 15 dias de seca e foi preciso delimitar o período de risco mínimo, porque muito dinheiro era colocado no Proagro, programa que financiava o seguro do arroz, e havia perdas das lavouras”, disse Elcio.

Outras tecnologias que ajudaram a aumentar a produção do arroz e do feijão brasileiros foram a implantação do feijão irrigado de inverno, ou terceira safra; e a redução da pegada hídrica no cultivo do arroz tropical. O pesquisador Luís Fernando Stone conta que todo o manejo de irrigação e condução da lavoura foi desenvolvido para permitir a introdução do feijão em cultivo sob pivô central na região do Brasil Central, nos estados de Goiás, Minas Gerais e Distrito Federal.

Essa inovação agregou uma safra extra do grão e a possibilidade de absorver melhor impactos de oscilação do preço do produto no mercado. No caso da redução da pegada hídrica do arroz tropical, o manejo, por meio de irrigação intermitente, sem a necessidade de lâmina d’água constantemente sobre o solo, permite economia e melhor aproveitamento do recurso natural.

Novos desafios para os próximos anos

Para o chefe geral da Embrapa Arroz e Feijão, Elcio Guimarães, os novos desafios tecnológicos para as duas cadeias estão distribuídos em quatro vertentes prioritárias: manejo de sistemas agrícolas, proteção de plantas e microrganismos multifuncionais, genética de arroz e genética de feijão.

No manejo de sistemas agrícolas, Elcio cita que o objetivo será desenvolver tecnologias para a sustentabilidade de sistemas de produção que envolvam as culturas do arroz e do feijão. Os desafios estarão em estabelecer manejos adequados da irrigação, da fertilidade dos solos e das culturas e gerar conhecimento sobre sistemas integrados e sistemas agroecológicos de produção.

Outro desafio, segundo Guimarães, será aprimorar o zoneamento agrícola e monitorar e mitigar as emissões de gases de efeito estufa, buscando produtividade com eficiência no aproveitamento de insumos para a maior segurança alimentar e rentabilidade do produtor, com menor impacto ambiental pela preservação dos serviços do ecossistema.

No caso da proteção de plantas e microrganismos multifuncionais, a ideia será gerar, desenvolver e validar tecnologias sustentáveis que proporcionem o aumento de produtividade e sanidade das plantas, em especial das culturas do arroz e do feijão, com consequente redução no uso de insumos agropecuários sintéticos, aumento da rentabilidade do agricultor, incrementos na produtividade das culturas e redução das contaminações ambientais.

Já na vertente genética do arroz, Elcio considera que o alvo será o desenvolvimento de inovações tecnológicas em genética e melhoramento que sejam capazes de solucionar problemas importantes para a cultura do arroz, e que contribuam para a oferta de alimentos saudáveis e para a sustentabilidade dos sistemas agroalimentares.

“Os principais desafios da pesquisa estarão no desenvolvimento de cultivares de arroz com grãos longos finos e de tipos especiais para diversos sistemas de produção e mercados; prospectar, caracterizar, desenvolver e aplicar ativos biológicos em sistemas de produção onde está inserida a cultura do arroz; e gerar conhecimentos e tecnologias que promovam a agregação de valor a subprodutos do arroz, explorando as novas tendências de consumo”, disse Elcio.

Na vertente genética do feijão, a Embrapa espera impactar a cadeia produtiva do feijão-comum por meio do desenvolvimento de ativos de inovação e de soluções tecnológicas no campo da genética e melhoramento de plantas. Os principais desafios, segundo Elcio, serão desenvolver cultivares de grão carioca com escurecimento lento de grãos, com resistência à murcha de fusário e adaptadas à colheita mecânica; cultivares de grão preto com resistência simultânea para murcha de fusário, antracnose e crestamento bacteriano comum, cultivares de grão branco com alta produtividade e adaptação às condições tropicais; disponibilizar informações de manejo das novas cultivares lançadas no mercado e aumentar a disponibilidade de sementes dessas cultivares.

Elcio ponderou que a Embrapa Arroz e Feijão tem importância estratégica para o futuro da agropecuária brasileira, pois tem por finalidade assegurar a sustentabilidade da produção de arroz e de feijão e a oferta de alimentos saudáveis. “Estamos focados no desenvolvimento de cultivares de arroz e de feijão e de práticas de manejo sustentáveis, voltadas aos diversos perfis e tamanhos de propriedades agrícolas. As tecnologias geradas visam aumentar a rentabilidade do produtor de alimentos, preservar o ambiente produtivo, ampliar a estabilidade da oferta de arroz e de feijão para o consumidor; e incorporar diferenciais funcionais e de mercado ao arroz e ao feijão, gerando benefícios para toda a sociedade”, finalizou.

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