Pesquisa gera mapas de áreas favoráveis ao desenvolvimento de praga quarentenária ausente no País

Conhecida como mosca-das-frutas-oriental, a Bactrocera dorsalis é uma das 20 pragas priorizadas como de maior impacto potencial à agricultura brasileira

12.04.2022 | 13:46 (UTC -3)
Embrapa
A entrada de B. dorsalis é uma ameaça à fruticultura nacional. - Foto: Sheina B. Sim, USDA/ARS, Hilo-USA
A entrada de B. dorsalis é uma ameaça à fruticultura nacional. - Foto: Sheina B. Sim, USDA/ARS, Hilo-USA

Especialistas da Embrapa mapearam áreas do território brasileiro com condições mais favoráveis ao desenvolvimento do inseto-praga exótico Bactrocera dorsalis, ausente no País, mas priorizado entre os de risco iminente de potencial entrada. Os mapas gerados subsidiarão políticas públicas para evitar o ingresso no Brasil da praga, também conhecida como mosca-das-frutas-oriental. Como grande parte das fruteiras são hospedeiras do inseto, a entrada de B. dorsalis é uma ameaça à fruticultura nacional, pelos danos causados às frutas e prejuízos decorrentes das restrições quarentenárias impostas por países importadores.

A partir de avaliações bioecológicas do inseto e do zoneamento territorial, realizados pela Embrapa Meio Ambiente (SP), Embrapa Semiárido (PE), Embrapa Amapá (AP) e Embrapa Territorial (SP), foi possível identificar a disponibilidade, em quase a totalidade do território brasileiro, das plantas hospedeiras mais atacadas no exterior. As áreas com condições mais favoráveis ao desenvolvimento de B. dorsalis foram observadas de acordo com os meses do ano. O período entre julho e outubro é o que reúne a maior quantidade de municípios com essas condições, e, portanto, os de maiores riscos à entrada, ao estabelecimento e à ocorrência de populações da praga no Brasil. Os trabalhos fazem parte do projeto de pesquisa “Estratégias para subsidiar ações de monitoramento e controle de insetos-praga presentes e quarentenárias ausentes no território brasileiro – DefesaInsetos”.

Os resultados desses estudos foram enviados à Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), para embasar medidas que evitem o ingresso da praga no País e ações imediatas de controle, no caso da sua eventual detecção. A mosca-das-frutas-oriental foi uma das 20 pragas quarentenárias ausentes priorizadas pela Embrapa e pelo Mapa como as de maiores impactos potenciais à agropecuária brasileira. Por isso, está prevista no Programa Nacional de Prevenção e Vigilância de Pragas Quarentenárias Ausentes, que estabelece as ações tanto para evitar a entrada de pragas exóticas quanto para mitigar riscos nas situações de suspeita da sua ocorrência no País.

Mapa 1
Mapa 1

Zoneamentos das áreas favoráveis ao desenvolvimento da praga

De acordo com os zoneamentos realizados, nos meses mais críticos (julho a outubro), a menor quantidade de municípios com áreas favoráveis para o melhor desenvolvimento de B. dorsalis foi verificada em julho - 923 locais. O mês com maior número de municípios foi setembro - 1.940. Nos meses de agosto e outubro foram observadas condições ótimas para o inseto em, respectivamente, 1.680 e 1.378 municípios.  Nesse período, a área central do território brasileiro foi a mais favorável ao desenvolvimento ótimo da praga.

O mês de abril apresentou apenas cinco municípios com áreas favoráveis à B. dorsalis presentes nos estados da Bahia e de Minas Gerais. Nos meses de agosto e setembro, municípios de 15 estados aparecem com essas condições. A Região Sul surge com áreas favoráveis apenas no mês de novembro, em municípios do Rio Grande do Sul.

Nos zoneamentos territoriais dos municípios brasileiros, foram observados os dados climáticos (temperatura e umidade relativa) mensais do período de 2009 a 2018, e os principais cultivos de plantas hospedeiras do inseto presentes no Brasil com base no Censo Agropecuário de 2017. Os hospedeiros priorizados nos estudos foram abacate, banana, cacau, café, caju, caqui, laranja, limão, tangerina, feijão, goiaba, maçã, mamão, manga, maracujá, melão, melancia e tomate.

Reprodução e sobrevivência do inseto

O analista da Embrapa, Rafael Mingoti, coordenador dos estudos de zoneamentos do projeto DefesaInsetos, conta que, a partir dos dados bioecológicos da praga disponibilizados no exterior, foram determinadas as condições climáticas que permitem ao inseto sua maior taxa de deposição e eclosão de ovos, melhores desenvolvimentos das larvas, das pupas e dos adultos, maior reprodução e maior sobrevivência e, por conseguinte, o reinício mais rápido de seu ciclo de vida. São condições, portanto, que favorecem o rápido desenvolvimento da praga, o maior número de gerações e descendentes e o seu estabelecimento no local.

Mapa 2
Mapa 2

“Esses estudos são parte crucial do trabalho. Depois dessas avaliações, fazemos a verificação por meio de geoprocessamento. Coletamos dados das médias mensais de temperaturas máximas médias e mínimas e de umidade relativa, com uma série histórica longa para todo o Brasil, e trabalhamos essa informação de modo que ela fique distribuída para toda a superfície. A partir daí, conferimos, mensalmente, em quais lugares ocorrem as condições ótimas e acrescentamos uma margem de erro com desvio padrão”, explica o especialista.

Mingoti destaca que os estudos bioecológicos realizados permitiram evidenciar que a B. dorsalis apresenta grande adaptabilidade e pode sobreviver em condições diversas.  Sua sobrevivência, portanto, não está restrita a áreas em que as condições são ótimas para o seu desenvolvimento. Porém, nessas áreas são esperadas mais rápida adaptação e maiores quantidades de descendentes e número de gerações. Sendo assim, essas condições foram priorizadas no estudo para a determinação de áreas brasileiras indicadas como prioritárias para o monitoramento territorial do inseto, dado que necessitarão de maior eficácia das estratégias de controle, caso o inseto ingresse no País.

Mapa 3
Mapa 3

Apoio às ações de monitoramento e controle

Líder do projeto de pesquisa DefesaInsetos, a pesquisadora da Embrapa Jeanne Scardini Marinho Prado chama atenção para a necessidade de agilidade na oferta de alternativas de monitoramento e controle que sejam capazes de reduzir, com eficácia, a população de uma nova praga. Segundo ela, na maioria dos casos, a ausência de informações prévias sobre esses organismos exóticos faz com que a presença do inseto-praga tenha sua detecção postergada ou as estratégias de controle eficazes inviabilizadas. “Por essa razão, todo o trabalho desenvolvido é um importante instrumento de gestão territorial para apoiar as ações estratégicas do Programa estabelecido pelo Mapa e, consequentemente, prevenir maiores danos aos cultivos nacionais”, destaca.

De acordo com a pesquisadora da Embrapa Maria Conceição Peres Young Pessoa, o ingresso de uma praga quarentenária ausente no País pode ser mais preocupante quando esse inseto-praga encontra condições climáticas propícias para seu ótimo desenvolvimento e para sua rápida dispersão. Tal situação, segundo ela, pode ser agravada quando esses insetos são polífagos, como é o caso da B. dorsalis, favorecidos quanto maiores diversidade e distribuição de áreas plantadas com seus principais hospedeiros forem encontradas e disponíveis em diferentes períodos do ano. “Isso explica por que foram observadas áreas estaduais favoráveis à melhor ocorrência do inseto em todos os meses do ano”, completa a pesquisadora.

Na avaliação da titular da Coordenação de Proteção de Plantas da Secretaria de Defesa Agropecuária do Mapa, Graciane Gonçalves Magalhães de Castro, o risco de introdução e estabelecimento da praga no Brasil é muito alto, em consequência do aumento no fluxo de pessoas e de mercadorias provenientes dos países em que a praga vem ocorrendo nos últimos anos. Dessa forma, segundo ela, o zoneamento com a delimitação de áreas mais suscetíveis e definição de rotas de risco aporta informações de inteligência importantes para otimizar as ações de prevenção e vigilância executadas pelos técnicos do Mapa, em parceria com os órgãos estaduais de Sanidade Vegetal em todo o País.

“Os resultados desses estudos irão permitir o direcionamento da força de trabalho da vigilância para barrar uma eventual introdução ou tomar medidas de controle e de erradicação de um eventual foco de Bactrocera dorsalis. Isso será fundamental na estruturação do plano de prevenção e vigilância específico para essa praga”, afirma Castro.

Para Rafael Mingoti, as informações e os zoneamentos disponibilizados também poderão auxiliar a tomada de decisão dos produtores, que, sabendo a localização de sua propriedade, poderão verificar em que meses do ano há risco de maior ataque da mosca-das-frutas-oriental em suas fruteiras. “Com essa informação, eles podem se preparar e treinar seu pessoal. Orientar para que fiquem em alerta e saibam identificar e combater a praga. E como é um inseto exótico, uma das atitudes a tomar, quando identificado, é avisar o Mapa”, diz.

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