Pesquisa define melhor período para plantio do arroz irrigado no TO
Semeaduras entre 1º de outubro e 20 de novembro aproveitam condições mais favoráveis
25.07.2022 | 15:27 (UTC -3)
Embrapa
Uma pesquisa desenvolvida pela Embrapa definiu
que o período mais propício para a semeadura do arroz irrigado no estado do
Tocantins é o intervalo entre os dias 1º de outubro e 20 de novembro. Essa
janela corresponde à época de menor risco climático para a lavoura, resultado
registrado no artigo Risco climático e período de semeadura para o arroz irrigado no
Tocantins,
publicado na Revista Agri-Environmental Sciences, da Universidade Estadual do
Tocantins (Unitins). Essa informação é importante porque a
determinação da melhor época de plantio é uma das práticas de manejo mais
estratégicas para se evitar perdas no campo e conseguir uma safra rentável com
maior produtividade.
A pesquisa abrangeu o ambiente de várzeas
tropicais do vale dos rios Tocantins-Araguaia, envolvendo cinco municípios
produtores de arroz: Dueré, Cristalândia, Lagoa da Confusão, Formoso do Araguaia
e Pium.
Para o estudo, foi utilizado o programa de
computador chamado ORYZAv3, desenvolvido para aplicações em trabalhos
científicos. Trata-se de um software que simula crescimento, desenvolvimento e
produtividade da lavoura de arroz e é abastecido com dados de solo, clima
(série histórica de dados diários de precipitação, temperatura e radiação solar
global), práticas de manejo e características de cultivo. Nesse caso, a fonte
de informações para validar esse sistema foi a série de dados experimentais de
campo do programa de melhoramento de arroz irrigado tropical da Embrapa e do
serviço InfoClima. Para aplicar as simulações dentro do modelo
ORYZAv3, foi levado em conta o impacto sobre o comportamento agronômico da
cultivar BRS Catiana, material considerado como referência nesse
estudo e bastante plantado na região.
O pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão Alexandre Heinemann, um dos coordenadores do trabalho, destacou que
a semeadura feita em época favorável é fundamental na redução do risco
climático, pois aumenta a chance de as fases críticas da planta não coincidirem
com a ocorrência de fatores climáticos adversos. Nesse sentido, ele ponderou
que, para a região estudada, plantios após 20 de novembro, dezembro, assim como
aqueles mais tardios, no mês de janeiro, não são recomendados. “O período ideal
é do início de outubro a 20 de novembro. Esse período apresenta maior
probabilidade de altas produtividades, devido às condições climáticas mais
favoráveis ao desenvolvimento da cultura do arroz”, afirmou.
Heinemann comentou que a melhor época de
semeadura foi estabelecida na pesquisa por meio da relação entre elementos
climáticos e seu efeito sobre a fisiologia vegetal em cada etapa de
desenvolvimento das plantas no campo. Por exemplo, dois componentes essenciais:
a radiação solar e a temperatura do ar impactam reduzindo ou aumentando a
produtividade. “Na fase de enchimento de grãos do arroz, a radiação solar mais
adequada é alcançada nas várzeas tocantinenses entre janeiro e fevereiro. Nesse
período, as temperaturas do ar também estão mais altas, o que é vantajoso, pois
diminui a pressão de doenças nos grãos e facilita o processo de secagem na fase
final da lavoura. Para essa situação, a semeadura deve ser realizada entre
outubro e 20 de novembro”, orienta o cientista.
Além disso, há um outro fator favorável para a
semeadura nesse período. De acordo com o pesquisador, essa janela de semeadura
proporciona a ocorrência de valores menores de temperatura mínima do ar na fase
vegetativa da lavoura, quando comparada com as demais épocas de plantio. Isso
traz menor gasto de energia de manutenção da planta, devido à menor respiração
vegetal noturna.
Resultado
combinado à prática
Heinemann chamou a atenção para outra questão
associada ao período de semeadura. O conhecimento sobre o modo de funcionamento
do sistema produtivo local é outro componente a ser considerado. Segundo ele,
no vale dos rios Tocantins-Araguaia, o arroz irrigado, em grande parte das
áreas, é sucedido pela cultura da soja para a produção de sementes, conduzida
com subirrigação. A janela de semeadura da soja nas várzeas tropicais inicia-se
em 20 de abril e segue até 31 de maio. Considerando-se que o preparo do solo para
a soja deve ser feito com certa antecedência à sua semeadura para permitir a
decomposição da palhada do arroz, isso implica que a colheita do cereal seja
concluída até o fim de março, podendo se estender até o início de abril.
Conforme o pesquisador, essa prática reforça a indicação para que a semeadura
do arroz irrigado ocorra no período recomendado pelo estudo, uma vez que o
ciclo da lavoura com o cereal possui geralmente 120 dias, o que proporciona a
colheita do grão nos meses de fevereiro e março, não atrapalhando a soja.
Tocantins
é o terceiro maior produtor
O arroz irrigado é encontrado de norte a sul do
Brasil, nos ambientes subtropical e tropical. No primeiro, o arroz concentra-se
nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina e é responsável por 80% da
produção nacional. Já no ambiente tropical, ele é cultivado nas regiões Norte,
Nordeste e Centro-Oeste e ocupa 13,2% da área total cultivada. Apesar de ser
responsável por somente 20% da produção nacional, o ambiente tropical apresenta
importantes contribuições para a segurança alimentar, conforme apontado em trabalho da Embrapa, pois
facilita a logística de distribuição do cereal para estados do Norte e Nordeste
do Brasil; minimiza os impactos de fenômenos climáticos severos que podem
quebrar a produção do arroz no Sul do Brasil; e estimula o estabelecimento da
indústria de beneficiamento nas regiões de produção.
As
várzeas tropicais do vale dos rios Tocantins-Araguaia possuem enorme potencial
para a produção do arroz irrigado e contribuem para o Tocantins ser o terceiro
maior estado produtor dessa categoria, com 656,6 mil toneladas de arroz em
casca registradas na safra 2020/2021, segundo dados da Companhia Nacional de
Abastecimento (Conab).
Por meio de parcerias, a Embrapa desenvolveu,
recentemente, a cultivar de arroz BRS A706 CL adaptada às regiões tropicais.
Fortalecimento
de parcerias
Nos últimos anos, a Embrapa tem fortalecido
parcerias com diversos atores da cadeia produtiva do arroz no Tocantins. Um dos
principais parceiros é a Universidade Estadual do Tocantins (Unitins),
instituição pública de ensino superior e responsável por pesquisas
agropecuárias no estado. Ambas as instituições coordenam atividades no Centro
de Pesquisa Agroambiental de Várzea (CPAV), localizado no município de Formoso
do Araguaia, que mantém 145 hectares voltados a experimentos com arroz
irrigado.
Por meio de contrato de cooperação técnica, as
duas instituições realizam diversas atividades de pesquisa e desenvolvimento
visando a uma cadeia produtiva cada vez mais sustentável. As atividades envolvem
ensaios ligados ao Programa de Melhoramento de Arroz Irrigado (MelhorArroz), ao
desenvolvimento de linhagens elite e ao manejo técnico adequado da cultura do
arroz. Existe, inclusive, a perspectiva de lançamento de cultivares, que teriam
a denominação BRSTO e seriam de propriedade conjunta.
Outros parceiros que ajudam a fortalecer a
cadeia produtiva do arroz irrigado no Tocantins são as empresas sementeiras.
Desde 2019, três empresas privadas fazem aportes financeiros anualmente dentro
do MelhorArroz, que visa ao desenvolvimento de cultivares voltadas às
especificidades de cada região brasileira. Uniggel Sementes, Sementes Simão e Brazeiro Sementes têm
assinado com a Embrapa contrato de cooperação técnico-financeira de cinco anos,
renovável por igual período, que viabiliza a parceria no Tocantins.
As atividades englobam pesquisa (desde o
desenvolvimento de linhagens elite de arroz irrigado, passando por ensaios
regionais de rendimento de linhagens tropicais e por ensaios de valor de
cultivo e uso tropical, chegando a lavouras experimentais), produção de
sementes e ações de transferência de tecnologia, comunicação e desenvolvimento
de mercado.
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