Pesquisa avalia eficiência de fungicidas para o controle das doenças de final de ciclo da soja

A SNA dá continuidade à parceria com a Embrapa Soja e seus pesquisadores na divulgação de trabalhos em andamento, ou já concluídos

17.10.2024 | 14:26 (UTC -3)
Cláudia Vieira Godoy e Maurício Conrado Meyer
Foto: arquivo/Embrapa Soja
Foto: arquivo/Embrapa Soja

Na cultura da soja, a mancha-parda (Septoria glycines) e o crestamento foliar de Cercospora (Cercospora spp.) são também conhecidas no Brasil como complexo de doenças de final de ciclo (DFC). Esse nome advém dos sintomas no fim do ciclo com desfolha precoce da lavoura, porém ambos os patógenos podem estar presentes na área durante todo o ciclo, uma vez que os fungos sobrevivem em restos de cultura. Os fungos podem ser encontrados nos tecidos das plantas de soja de forma latente desde o estádio vegetativo, sem causar sintomas.

Sintomas da mancha-parda ou septoriose podem aparecer em cerca de duas semanas após a emergência, como pequenas pontuações ou manchas de contornos angulares, castanho-avermelhadas, nas folhas unifolioladas. Em situações favoráveis, a doença pode atingir as primeiras folhas trifoliadas e causar desfolha. A presença de palha reduz a incidência da mancha-parda pela redução do impacto das gotas de chuva no solo e menor dispersão do inóculo para as folhas primárias da soja.

Foto: arquivo/Embrapa Soja
Foto: arquivo/Embrapa Soja

Cercospora kikuchii era a espécie conhecida como causadora do crestamento, porém outras espécies têm sido associadas à doença, como C. cf. flagellaris e C. cf. sigesbeckiae. Os sintomas podem ocorrer em folhas, pecíolos, hastes, vagens e sementes. Nas folhas, os sintomas são caracterizados por pontuações escuras, castanho-avermelhadas, com bordas irregulares, as quais coalescem e formam grandes manchas escuras que resultam em crestamento e desfolha prematura.

O fungo

Também pode ser observada necrose nas nervuras das folhas. Nas hastes e nos pecíolos, o fungo causa manchas avermelhadas, geralmente superficiais. Nas vagens, aparecem pontuações vermelhas que evoluem para manchas castanho-avermelhada). O fungo também infecta a semente e causa a mancha-púrpura no tegumento. A coloração das manchas do crestamento de Cercospora é dada pela toxina cercosporina produzida pelo fungo, que é ativada pela luz, produzindo espécies reativas de oxigênio, causando extravasamento do conteúdo celular, o que causa a morte celular. Os sintomas do crestamento foliar de Cercospora são mais comuns no final do ciclo e uma das razões é a relação da produção de cercosporina pelo fungo com a produção de açúcares simples na planta.

As duas doenças podem ocorrer de forma isolada ou simultânea. O dano principal é a desfolha antecipada, que é menos severa que a causada pela ferrugem-asiática. Quando há incidência de ferrugem, a competição pelo tecido foliar dificilmente permite que ocorram as DFC, uma vez que a ferrugem desfolha a planta antes da incidência dessas doenças.

Mesmo com a intensa utilização de fungicidas na cultura, tem havido falha de controle das DFC, percebida muitas vezes pela ocorrência da mancha-púrpura nos grãos/ sementes e coloração castanho-avermelhada das folhas nas semeaduras iniciais. Isso pode estar associado à redução da sensibilidade do fungo aos fungicidas.

Manejo

Esses estudos para comparação da eficiência de fungicidas no controle das DFC vêm sendo conduzidos na rede de experimentos cooperativos desde a safra 2020/2021. Nesses ensaios são realizadas aplicações sequenciais com fungicidas únicos a partir de 35 dias após a semeadura (DAS). No entanto, isso não constitui uma recomendação de controle. As informações devem ser utilizadas dentro de um sistema de manejo, priorizando sempre a rotação de fungicidas com diferentes modos de ação, adequando o manejo à época de semeadura, a cultivar, ao tamanho da propriedade e à logística de aplicação, às condições climáticas e à incidência de doenças na região e na propriedade.

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