Evento discute manejo de pragas no Conesul
Seminário acontece nesta terça-feira (6)
A falta de uso ou o uso incorreto do manejo integrado de pragas (MIP) pode causar a perda de tecnologias disponíveis no campo. O manejo inadequado e o excesso de pulverizações têm contribuído para o aumento da resistência de pragas a herbicidas e para o ataque de lagartas a plantas Bt. Os problemas foram identificados em fazendas de Mato Grosso durante a terceira edição do Circuito Tecnológico do Milho e estão sendo acompanhados por pesquisadores da Embrapa.
O relatório do Circuito mostra que 44% dos produtores entrevistados no estado não fazem o MIP. A situação é mais grave na região leste, onde 79% dos produtores não adotam as estratégias do manejo integrado de pragas. E é justamente no leste do estado que está o maior problema com pragas de difícil controle. Naquela região, 30,8% dos produtores não alcançaram êxito no controle, mesmo fazendo sucessivas aplicações de inseticidas. Na média estadual, 20,2% dos entrevistados não conseguiram controlar as pragas das lavouras. A falta de rotação de moléculas, ou princípio ativo dos agroquímicos, é um dos responsáveis pela evolução de resistência dos insetos também a inseticidas.
Mesmo em lavouras com a presença do evento Bt, que confere à planta toxidez às lagartas, esses insetos estão causando danos à lavoura. Um provável motivo é o mau uso da tecnologia, sem respeito às áreas de refúgio recomendadas para evitar que as lagartas se adaptem às condições adversas da cultura transgênica.
O relatório aponta que 17,7% dos produtores assumem não plantar o refúgio, que são as áreas sem plantas geneticamente modificadas. Entre os que fazem o refúgio, a área média destinada é de 19,5% da lavoura, superior ao mínimo recomendado, que é de 10% da área para a cultura do milho.
Além disso, o pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril Rafael Pitta alerta para o fato de a não aplicação do manejo integrado de pragas (MIP) nas áreas de refúgio faz com que elas tenham pouca eficiência. Ele explica que o uso sem critérios do controle químico acaba matando os insetos suscetíveis, não possibilitando o cruzamento deles com os insetos resistentes. Com isso, surgem gerações somente de insetos resistentes que não serão afetados pelos agentes químicos.
Para acompanhar os problemas e tentar minimizá-los, além de ações de transferência de tecnologia voltadas para a importância de se fazer o MIP e de adotar as práticas corretas no uso das tecnologias transgênicas, os pesquisadores da Embrapa estão fazendo estudos em laboratório com lagartas coletadas nas lavouras durante o Circuito Tecnológico.
Os insetos são levados para os laboratórios da Embrapa Milho e Sorgo, em Sete Lagoas (MG), e da Embrapa Agrossilvipastoril, em Sinop (MT). Uma das pesquisas avalia o percentual de sobrevivência dessas lagartas em milho com as tecnologias Bt mais plantadas em Mato Grosso, a VT Pro, Herculex e Viptera.
De acordo com a pesquisadora da Embrapa Milho e Sorgo Simone Mendes, no acompanhamento que vem sendo feito pelo terceiro ano seguido, ainda não foi encontrada resistência na tecnologia Viptera. Já a tecnologia Herculex apresenta alto percentual de insetos sobrevivendo em milho. A tecnologia VT Pro, por sua vez, apresenta baixo percentual de lagartas resistentes. O resultado indica que os insetos resistentes já estão presentes na população, sendo necessário dobrar a atenção com estratégias de manejo de resistência como o refúgio e manejo integrado de pragas.
"Observamos que a evolução da resistência para a lagarta Spodoptera frugiperda na tecnologia VT Pro não tem ocorrido com a mesma velocidade do observado para a tecnologia Herculex", afirma Simone.
A pesquisadora explica que essas informações serão importantes para a tomada de decisão e planejamento do produtor. Conhecendo o comportamento de cada tecnologia e a população de pragas de sua região, ele poderá se programar melhor, quanto à aquisição de sementes e manejo da cultura no campo.
Na Embrapa Agrossilvipastoril são executados testes para verificar o nível de resistência das lagartas às moléculas disponíveis no mercado. "Isso é muito importante para saber quais as estratégias eficazes para contornar esse problema. Por exemplo, trabalhar com controle químico, fazer complementação com área de refúgio, ou outra? Em função desses resultados é que poderemos determinar uma melhor estratégia", explica Rafael Pitta.
As pesquisas ainda estão em andamento, entretanto, já é possível notar diferenças na resistência das lagartas coletadas no campo quando comparadas às populações criadas em laboratório.
Circuito Tecnológico
O Circuito Tecnológico do Milho acontece anualmente na Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja) e conta com a participação da Embrapa e do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). Ao longo de uma semana, cinco equipes percorrem dezenas de propriedades nas principais regiões produtoras do estado. Nas visitas, os participantes acompanham a situação das lavouras e fazem entrevistas com os produtores e consultores. Os dados coletados são compilados em um diagnóstico da produção de grãos.
Com base nisso, é possível identificar as questões que possuem soluções já conhecidas, mas que ainda não chegaram até o campo, e aquelas nas quais falta conhecimento científico e existe a necessidade de serem estudadas.
"Em função dos resultados, elencamos prioridades e definimos se realmente precisamos de pesquisa para isso ou se é simplesmente uma falta de divulgação de um resultado. Neste caso podemos direcionar para a área de transferência de tecnologia", explica Rafael Pitta.
Um exemplo de pesquisa que teve início com base nas informações coletadas no Circuito Tecnológico é o consórcio de milho com Crotalária. As visitas às fazendas mostraram que havia grande interesse dos produtores nesse sistema para reduzir os problemas com nematoides. Porém faltam informações técnicas sobre o tema.
Com base nisso, a Embrapa iniciou pesquisas para determinar quais as espécies de crotalária melhor consorciam com milho e quais as densidades ideais. Os experimentos já estão sendo realizados em Sinop com cinco densidades diferentes de C. spectabilis e C. Ochroleuca.
De acordo com o pesquisador Edison Ramos, o trabalho é multidisciplinar e busca chegar a um modelo que reúna pouco, ou nenhum, impacto na produtividade no milho com benefícios como a redução da infestação por nematoides, aumento do teor de nitrogênio e da palhada no solo, sem gerar problemas com doenças e pragas.
A pesquisa começou no início deste ano e vai acompanhar dois ciclos soja-milho, avaliando, inclusive, os impactos dos consórcios na cultura da soja.
MIP
O manejo integrado de pragas consiste no monitoramento contínuo da lavoura e do sistema produtivo a fim de se conhecer e quantificar a incidência de pragas e seus danos. De acordo com a incidência, é tomada a decisão sobre a necessidade ou não de adotar o controle, bem como sobre qual estratégia deve ser usada neste controle.
Entre as estratégias usadas no MIP estão o controle varietal, com uso de materiais genéticos resistentes ou tolerantes a determinada praga, o controle biológico, com uso de inimigos naturais, como vírus, bactérias e outros insetos, controle comportamental com uso de feromônios e ainda o controle químico. Para introduzir o monitoramento, o MIP utiliza ferramentas como armadilhas luminosas, de solo ou de feromônio, panos de batida, além da observação nas plantas.
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