Para zerar emissões até 2050, alternativas ao diesel serão necessárias, aponta BCG

Queima do combustível responde por 48% das emissões do agro e 16% da mineração no Brasil. No mundo, a representatividade é de 40% e 35%, respectivamente

15.03.2022 | 13:07 (UTC -3)
Caroline Sanches
Arthur Ramos, senior advisor em Clima e Energia do BCG
Arthur Ramos, senior advisor em Clima e Energia do BCG

Um estudo do Boston Consulting Group (BCG) conclui que as indústrias de mineração e agronegócio precisam descarbonizar suas frotas de caminhões a diesel para zerar as emissões líquidas de carbono (net-zero) até 2050, a principal resolução do Acordo de Paris. No Brasil, a queima do combustível responde por 48% das emissões do setor de agro e por 16% da mineração -- no mundo, ele responde por 35% e 40%, respectivamente.

O preço competitivo do diesel, sua eficiência energética e a alta disponibilidade para as indústrias o tornam um combustível difícil de ser substituído. Como alternativas, o estudo do BCG recomenda que as empresas pensem em adotar frotas de caminhões elétricos ou combustíveis alternativos, como à base de hidrogênio verde, os biocombustíveis e o e-diesel, espécie de diesel sintético sem impacto ambiental e produzido a partir de água, CO2 extraído do ar e energia renovável. 

O estudo indica duas maneiras principais de substituir o diesel, com trade-offs específicos entre custos e velocidade de adoção, dadas as restrições tecnológicas (de combustíveis e de veículos) e de infraestrutura existentes.

O estudo cita ainda um caso de sucesso de uma empresa de mineração global que avaliou as opções disponíveis para sua frota, com o intuito de reduzir o impacto ambiental do diesel. Ela se envolveu proativamente com seus fabricantes de equipamentos e fornecedores de energia para entender quais tecnologias eram viáveis tecnicamente e comercialmente. Com essa abordagem, a companhia chegou à conclusão que poderia remover mais de 6 megatoneladas de CO2 por ano, 20 anos antes do planejado, o que equivale à eliminação de quase 1,5 milhão de carros em circulação.

Contexto brasileiro

No Brasil, a queima do diesel responde por 48% das emissões do setor de agro e por 16% da mineração. Dada a dispersão geográfica de um país continental, bem como as exigências climáticas e a relevância desses setores para a economia, uma estratégia de descarbonização é essencial para promover a competitividade brasileira no cenário global.

Apesar disso, o Brasil possui algumas particularidades que devem ser consideradas em uma discussão de alternativas ao diesel. Três rotas concorrentes oferecem perspectivas atrativas para a descarbonização de frotas pesadas no contexto brasileiro, embora com desafios substanciais para sua plena viabilização:

Uma rota à base de biocombustíveis (biometano ou HVO, por exemplo) poderia explorar o potencial da indústria agrícola brasileira e o acesso diferenciado a matérias-primas em escala;

• Uma rota elétrica permitiria que a frota aproveitasse a vantagem de a matriz energética brasileira ser comparativamente muito mais limpa em comparação com a de outros países (i.e. mais de 80% da geração livre de CO2);

• Por sua vez, uma rota à base de hidrogênio poderia explorar o alto potencial de geração de hidrogênio verde que o Brasil possui -- por exemplo, no Nordeste brasileiro, à um custo mais baixo em comparação com outros países.

Segundo Arthur Ramos, senior advisor em Clima e Energia do BCG, no entanto, apesar dessas vantagens, substituir o diesel é um enorme desafio, dado sua alta disponibilidade, relativo baixo custo e grande frota instalada. “É uma transição que vai exigir desenvolvimento de infraestrutura de produção e abastecimento de combustíveis, redução do custo total de propriedade de veículos com novas tecnologias, investimentos, previsibilidade regulatória e até mesmo de decisões nas matrizes das grandes montadoras do país. Tudo isso fará parte do processo decisório”, aponta.

“Nesse sentido, para as empresas que já começarem a se movimentar, considerar as características específicas do local de operação, como a infraestrutura de abastecimento presente; as necessidades operacionais, como, por exemplo, carga e distância; potenciais parcerias e disponibilidade de capital são exemplos de aspectos que devem ser considerados como parte da estratégia de transição”, finaliza o executivo do BCG

O estudo completo pode ser acessado aqui.

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