Padrões invisíveis nas pétalas do hibisco são essenciais para atrair polinizadores, revela estudo
Pesquisadores descobrem que plantas definem o tamanho de manchas circulares nas pétalas antes do desenvolvimento visível, influenciando a eficiência das abelhas na polinização
15.09.2024 | 19:24 (UTC -3)
Revista Cultivar
Pesquisadores descobriram que as flores do hibisco utilizam um padrão invisível estabelecido muito antes do desenvolvimento visível das pétalas. Esse padrão, conhecido como prepatterning, define o tamanho de áreas chamadas de "bullseyes" – manchas circulares que desempenham papel crucial na atração de polinizadores. O estudo conduzido por cientistas da Universidade de Cambridge revelou que o tamanho do bullseye influencia diretamente a preferência das abelhas, o que pode aumentar a eficiência na polinização.
A pesquisa revelou que as abelhas preferem bullseyes maiores. Elas também voam 25% mais rápido entre discos artificiais com padrões maiores. Isso sugere que flores com bullseyes mais proeminentes podem ser mais atrativas para os polinizadores, melhorando a eficiência de ambos os lados – tanto das abelhas quanto das flores.
Os padrões nas pétalas são fundamentais para guiar insetos, como abelhas, até o néctar e o pólen no centro das flores. Apesar de sua importância para a reprodução das plantas, pouco se sabia até agora sobre como esses padrões se formam. Para preencher essa lacuna, os cientistas combinaram biologia do desenvolvimento, biologia evolutiva e modelagem computacional para estudar o fenômeno. O estudo focou na planta Hibiscus trionum, que possui um padrão em forma de alvo (bullseye) nas pétalas.
Os pesquisadores observaram três variedades de hibisco com bullseyes de tamanhos distintos: H. richardsonii (com bullseye pequeno), H. trionum (tamanho médio) e uma linha transgênica de H. trionum (bullseye grande). O estudo revelou que o padrão é definido muito antes de ser visível nas pétalas em crescimento. Esse prepatterning cria uma espécie de "tela" onde cada parte da pétala já está programada para desenvolver cores e texturas específicas.
Os resultados indicam que as plantas têm a capacidade de controlar e modificar esses padrões de diversas formas, seja durante a fase de prepatterning, seja ajustando o crescimento das células posteriormente. Essas adaptações podem ter implicações evolutivas, oferecendo uma vantagem competitiva para atrair polinizadores e até mesmo influenciar a diversidade das plantas.
Edwige Moyroud, líder da pesquisa, explica que essa diversidade é resultado da capacidade das plantas de gerar variações nos padrões de suas pétalas. “Ao estudar como os padrões de bullseyes mudam, estamos tentando entender como a natureza gera a biodiversidade”, disse Moyroud. A descoberta de que esses padrões são planejados de forma antecipada desafia a visão de que os processos mais importantes ocorrem apenas nas fases finais do desenvolvimento das flores.
Lucie Riglet, autora principal do estudo, desenvolveu uma técnica para observar o desenvolvimento inicial das pétalas de hibisco. Ela descobriu que o padrão começa a se formar quando a pétala ainda é verde e possui cerca de 700 células. Mesmo sem pigmentação visível, as células em uma área específica começam a se diferenciar em tamanho, marcando o início da formação do bullseye.
Uma das grandes questões levantadas pelo estudo foi como as plantas mantêm as proporções desses padrões durante o crescimento, uma vez que as pétalas aumentam de tamanho em até 100 vezes. Usando modelos computacionais, os pesquisadores descobriram que as plantas podem ajustar a expansão e divisão celular para garantir que os padrões permaneçam proporcionais.
Além das implicações biológicas, o estudo destacou a importância desses padrões para a atração de polinizadores. Em experimentos com discos florais artificiais, as abelhas preferiram bullseyes maiores e foram mais eficientes ao forragear, visitando mais flores em menos tempo. Isso sugere que o tamanho do bullseye pode influenciar diretamente o sucesso reprodutivo das plantas.
Essas descobertas abrem caminho para pesquisas futuras sobre como os padrões nas pétalas influenciam a evolução das espécies vegetais. O estudo sugere que o prepatterning nas pétalas pode ter origens evolutivas antigas e que os mecanismos usados para criar padrões em flores podem ser aplicados a outros órgãos das plantas, como as folhas.
Essa pesquisa é especialmente relevante para a conservação de plantas como H. richardsonii, uma espécie criticamente ameaçada, enquanto H. trionum, que tem um bullseye maior, é amplamente distribuída. Estudos adicionais serão necessários para entender se o tamanho do bullseye contribui para o sucesso reprodutivo e a atração de polinizadores.
Mais informações podem ser obtidas em doi.org/10.1126/sciadv.adp5574
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