Nova espécie de nematoide das galhas está na mira dos técnicos da Abapa, Embrapa Algodão e Fundação Bahia

Espécie de nematoide das galhas, até então desconhecido no Brasil, foi encontrado em lavouras de Minas Gerais

20.04.2021 | 20:59 (UTC -3)
Catarina Guedes

Eles medem de 0,3 a três milímetros, têm uma aparência nada simpática, e o estrago que causam é ainda mais feio. Os fitonematoides, que, no agro, são chamados simplesmente de nematoides, são vermes que atacam as raízes das plantas e causam grande prejuízo à produtividade, em lavouras como algodão, soja e milho. Três espécies nativas do cerrado atacam especialmente o algodão. Por ordem de ocorrência, a Pratylenchus brachyurus, também conhecida como o nematoide das lesões, com 85% de ocorrência no Oeste da Bahia, a Meloidogyne incognita, chamada de nematoide das galhas, com 37%, e a espécie Reniformis (Rotylenchulus reniformis), que tem este nome porque, quando na fase adulta, tem a forma de um rim, ocupa o terceiro lugar no pódio de incidência nas áreas produtivas, com 14%.

Apesar de muito frequente, o Pratylenchus não é o nematoide que causa os maiores danos. Já o nematoide das galhas é uma baita dor de cabeça, pelo seu potencial de prejuízos. Como se já não bastasse isso, agora, os técnicos do Programa Fitossanitário, em parceria com a Embrapa Algodão e a Fundação Bahia, estão de olho numa outra espécie de nematoide das galhas, que, até então, era desconhecido no Brasil, e foi descoberto por volta 2012, na Carolina do Norte (EUA). No ano passado, o parasita foi encontrado também em lavouras de Minas Gerais.

Segundo o fitopatologista Fabiano Perina, pesquisador da Embrapa lotado em Luís Eduardo Magalhães, e integrante do convênio Embrapa- Abapa- Fundação Bahia, o que se pretende descobrir é se o verme também está presente nas terras do cerrado baiano. “Não que eles tenham migrado para aqui através de algum vetor. A grande descoberta que é que eles já existiam, não se sabe há quanto tempo, mas eram desconhecidos”, conta Perina.

O achado mineiro aconteceu porque, em muitas fazendas, nas quais se usava a variedade resistente ao nematoide das galhas, a IMA 5801 B2RF, o problema continuava a aparecer. Agora, os pesquisadores estão verificando as áreas que usam esta variedade, para ver como elas estão se desenvolvendo. Se não estiverem dando conta do recado, pode ser um sinal de que outras populações dessa – supostamente nova – espécie de nematoide estão presentes por lá. A tecnologia se tornou, portanto, uma “sentinela”.

As galhas causadas pelos nematoides são deformidades que lembram tumores nas raízes das plantas, e comprometem o desenvolvimento delas. “Deduziu-se, então, que não era a IMA5801 que já não tinha eficácia, mas um outro tipo de parasita, daquele mesmo gênero, que escapava ileso à tecnologia”, conta Perina.

De acordo com Antônio Carlos Araújo, coordenador do Programa Fitossanitário da Abapa, dos 18 integrantes da equipe do Programa Fito, formada por agrônomos e técnicos agrícolas, 16 estão dedicados à pesquisa nematológica neste momento. São eles que fazem a coleta de amostras de solo, que seguem para serem analisadas na Fundação Bahia. “Com isso, se pode fazer o diagnóstico durante a safra, um trabalho que só é possível graças à colaboração dos agricultores, que, proativamente, abrem suas fazendas para a pesquisa científica. Hoje, existe uma preocupação especial em descobrir evidências deste novo nematoide de galhas aqui no cerrado baiano”, afirma Antônio Carlos.  

Prevenindo os nematoides

Uma vez que a infestação ocorre, zerar sua ocorrência é praticamente impossível. “O que podemos fazer é investir numa convivência controlada com a doença, como faz um paciente com problemas de pressão sanguínea ou diabetes. Ele tem de monitorar sempre e adotar medidas para manter os índices sob controle”, compara Perina.

Essas medidas, segundo o fitopatologista, são uma combinação de métodos químicos, biológicos, genéticos e culturais. Os químicos e biológicos são feitos através de nematicidas, sejam princípios ativos moleculares, aplicados no tratamento industrial de sementes ou diretamente no solo, ou, no caso biológicos, fungos e bactérias. Os métodos genéticos se referem ao uso de plantas resistentes, e os culturais são os relativos às práticas agronômicas. “Quanto mais simplificada é a matriz produtiva, pior. É preciso haver diversidade no sistema. Por isso, a rotação de culturas é essencial sobretudo quando alterna plantas de cobertura, como determinados tipos de crotalárias ou brachiárias, que são más hospedeiras ou antagonistas aos nematoides”, explica Fabiano Perina.

A vertente cultural do manejo integrado de pragas inclui as decisões do produtor acerca das áreas a serem cultivadas e, principalmente, a limpeza das máquinas. “Há, pelo menos, três espécies de nematoides que são nativas e frequentes no cerrado, e, aqui na região, pelo menos uma ataca a soja. Vieram para cá de carona em máquinas agrícolas oriundas de outros estados. As máquinas são veículos de contaminação e disseminação também entre as fazendas, ou mesmo entre os diferentes talhões de uma mesma propriedade rural. Por isso, é muito importante fazer a sua limpeza antes do uso. Uma medida simples e eficaz”, conclui Perina.

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