No Paraná, preço e demanda criam cenário favorável aos produtores de milho

Estado consome praticamente todo o grão que produz; investimentos para produção de proteína animal vão aumentar a demanda nos próximos anos

04.03.2021 | 20:59 (UTC -3)
FAEP / SENAR-PR

Com os preços mais altos da história (acima de R$ 70 a saca), a estratégia para garantir milho à produção de proteínas animais tem se tornado um desafio à cadeia produtiva no Paraná. Com a perspectiva de manutenção da cotação nesse nível nos próximos meses pela conjuntura político-econômica, fica a dúvida em relação ao ponto de equilíbrio para garantir rentabilidade com a produção de proteínas animais. Afinal, o milho é o principal componente da ração, especialmente, na criação de frangos e suínos.

Ainda, é preciso considerar no planejamento do milho o possível aumento nas exportações de proteínas animais nos próximos anos. Isso porque o Paraná está em vias de conquistar o reconhecimento como área livre de febre aftosa sem vacinação pela Organização Mundial da Saúde Animal (OIE). Com a chancela do órgão internacional, a expectativa é que os produtos paranaenses consigam acessar mercados que exigem essa condição sanitária para as negociações, como Japão, Coreia do Sul e Estados Unidos.

O reflexo dessa perspectiva se reflete há alguns anos nos investimentos feitos por cooperativas e agroindústrias em todo o Paraná. A Frimesa, por exemplo, está construindo, em Assis Chateaubriand, na região Oeste, uma planta processadora de suínos de R$ 2,5 bilhões, que no auge da produção deve abater 15 mil animais por dia. Além disso, outras empresas também têm anunciado investimentos para ampliar, nos próximos anos, as exportações, aproveitando as portas abertas de novos mercados.

Outro aspecto a se considerar é que hoje o Paraná já consome praticamente todo o milho produzido internamente, parte pela cadeia de proteína animal, parte exportado e parte por outros setores. Em 2020, segundo Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná (Seab), 1,2 milhão de toneladas de milho foi comercializada no mercado internacional, 4,6% de todo o cereal embarcado pelo Brasil. A produção estadual na safra 2019/20, somando primeira e segunda safras, ficou em 15,2 milhões de toneladas, com 77% da produção concentrada na safrinha.

Apesar da expectativa de que continue havendo aumento da produtividade nos próximos anos, o que ajuda a atender a demanda pelo grão, existe a chance da necessidade de trazer mais milho de outros Estados. De acordo com o técnico Edmar Gervásio, do Deral, não há risco de faltar milho. Mas, olhando para as experiências dos vizinhos Rio Grande do Sul e Santa Catarina, é possível prever que pode ocorrer a necessidade de “importar” mais cereal do Mato Grosso e Goiás.

“Podemos dizer que a produtividade do milho no Paraná cresce entre 3% a 5% por safras boas [sem grandes intempéries climáticas]. Então, nosso potencial produtivo em condições normais é de até 17 milhões de toneladas, com 3,5 milhões na primeira e 13 milhões na segunda. Estruturalmente, a questão da oferta e demanda se adequa. Se tivermos um aumento significativo na demanda, temos capacidade de ter milho no mercado doméstico, mas provavelmente a um preço mais alto”, esclarece.

Novas estratégias

Ana Paula Kowalski, do Departamento Técnico e Econômico (DTE) da FAEP, considera que a área plantada na primeira safra até teria possibilidade de aumentar, desde que fosse uma opção de interesse comercial. Mas a soja, que corre menos riscos de perdas por problemas climáticos e tem maior liquidez internacional, é a preferência absoluta dos produtores na safra de verão. Atualmente, são 5,5 milhões de hectares plantados com a oleaginosa contra 360 mil hectares do cereal na primeira safra.

“Uma das possibilidades para evitar sustos é o que algumas cooperativas têm feito, de incentivar o plantio de milho verão para produzir ração. Há também outras iniciativas, como o fomento do sorgo, que tem janela de plantio maior do que o milho e que também pode ser utilizar na indústria de ração. O novo equilíbrio vai depender muito desse alinhamento comercial. Porque se o produtor for pôr na ponta do lápis sempre vai escolher o que é mais fácil comercializar e o que tem melhor rentabilidade”, analisa Ana Paula.

A capacidade de estocagem também tem trazido uma certa tranquilidade para a cadeia de proteína animal. “Antes, o milho saia da fazenda, passava pelo beneficiamento e seguia praticamente direto para a granja. Hoje, as cooperativas e indústrias de carne estão estocando mais, com margem para um ou dois anos. Vemos isso a partir da primeira crise de 2017, quando o preço saiu de R$ 20 para R$ 45”, explica Gervásio.

Preços em alta

O analista de mercado Camilo Motter, da Granoeste, explica que o dólar alto somado ao cenário positivo do preço internacional levou a uma condição extremamente favorável a cotação do milho. “A indústria de carnes está tendo bastante dificuldade nesse patamar que está se sustentando [o preço do milho]. Podemos ter uma situação de muitas integrações terem dificuldade nesse primeiro semestre”, analisa.

Motter prevê que só vai haver alguma perspectiva de queda nos preços se haver uma boa segunda safra no Brasil. “Imaginamos que daqui até junho vai se manter alto, talvez até acima dos R$ 70 a saca. E considerando a conjuntura econômica intervencionista do governo, é possível prever que os preços não vão voltar tão cedo a patamares inferiores, de R$ 40, como tínhamos nessa mesma época, no ano passado”, aponta o analista.

Sorgo aparece como alternativa para o milho

No Oeste do Paraná, uma indústria integradora tem testado a estratégia de incentivar os produtores a plantarem sorgo. Os testes começaram em 2019/20, com um trabalho de divulgação no meio rural e a oferta de suporte técnico. O plantio do cereal já ocorre em outros Estados, com resultados interessantes. No primeiro ano do projeto, foram cultivados 670 hectares. Por causa de problemas climáticos, a produtividade média ficou entre 70 a 75 sacas por hectare, abaixo do potencial (de 90 a 100 sacas por hectare).

A intenção é dar continuidade ao projeto nesta temporada. O atraso no plantio e na colheita da soja por problemas climáticos atrapalhou o início da semeadura do sorgo. Até o fim de fevereiro ainda não era possível, segundo a indústria integradora, calcular quantos hectares devem ser cultivados nesse ano.

A grande vantagem do sorgo é a janela até o dia 15 de março para o plantio. Ainda, o ciclo de desenvolvimento é mais curto, o que também reduz o risco de geadas precoces e regime mais seco de chuvas do inverno.

Um dos reflexos da produção de sorgo na região Oeste foi a demanda ao SENAR-PR pelo curso de classificação de grãos voltada para sorgo, mobilizado pelo Sindicato Rural de Medianeira. A intenção era realizar a formação ainda em 2020, mas a pandemia adiou os planos e o capacitação ficou para esse ano. Ao todo, 12 funcionários da indústria integradora que trabalham no recebimento dos grãos vão participar do treinamento, que ocorre no dia 29 de março.

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