No 12º Agrimark Brasil lideranças nacionais debateram a Modernização no Agronegócio

O encontro aconteceu na sexta-feira (4 de novembro), em Porto Alegre, e lotou o Salão Nobre da Federasul ao longo das duas horas e meia de discussões. Na 12ª edição do evento, o tema de destaque foi a realidade do agroneg&

09.11.2016 | 21:59 (UTC -3)
Neiva Mello

Organizado no formato de talkshow, em que o público pode questionar os painelistas, o 12º Agrimark Brasil iniciou com a fala de abertura do presidente do I-UMA (Instituto de Educação no Agronegócio), José Américo da Silva. Ele destacou os três grandes desafios do sistema de mercado de alimentos no mundo: garantir que todos os 7 bilhões de pessoas do globo estejam adequadamente alimentadas, cobrar uma produção difundida nos próximos 40 anos e se tornar realmente sustentável.

“Entre algumas das soluções levantadas estão melhorar a produtividade e aumentar a eficiência do uso e do consumo de água, além de diminuir o desperdício na produção e distribuição de comida. Em 50 anos, o Brasil se tornou uma potência agrícola e a meta do governo federal é ambiciosa: alimentar mais 2 bilhões de pessoas, aumentando sua participação no mercado internacional de 6,9% para 10%”, salientou o presidente da I-UMA.

Na sequência, teve início a primeira rodada de discussão, que contou com a presença de quatro lideranças do agribusiness nacional e a mediação do presidente do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), Odacir Klein. O secretário de Agricultura, Pecuária e Irrigação do Estado do Rio Grande do Sul, Ernani Polo, foi o primeiro a falar e ressaltou o protagonismo gaúcho.

De acordo com o secretário, hoje o Rio Grande do Sul produz 60% de todos os equipamentos e máquinas agrícolas do país. O resultado pode ser visto na produtividade: já é possível colher até cem ou mais sacas de soja por hectare e até 300 de milho. Ele acrescentou ainda que a principal função de um gestor público que lida com a agricultura e o meio ambiente é rever leis que foram importantes no passado, mas que hoje já são obsoletas e aproveitou para fazer um convite.

Decidido por uma orientação do governador Sartori, estamos aqui aproveitando a oportunidade para convidá-los para o dia 21 de novembro. Nós estaremos lançando o plano Agro Mais Gaúcho, que foi criado pela iniciativa do Ministério da Agricultura, que tem como objetivo simplificar e desburocratizar as normas e procedimentos de toda a pasta”, adiantou.

Já a diretora da Emater-RS, Silvana Dalmás salientou que é importante a chegada das novas tecnologias, mas alerta que é essencial não esquecer o básico: sem conservar o solo, a água e com um clima imprevisível, de nada adiantará recorrer à inovação. O presidente do Conselho de Administração do Grupo SLC Agrícola, Eduardo Logemann, trouxe inúmeros dados para ilustrar a realidade do agronegócio do país em escala global. Nas últimas décadas, segundo ele, a produtividade agrícola cresceu muito acima da área ocupada com lavouras no Brasil. “Por outro lado, há grande extensão degradada, principalmente de pastagens, que poderiam ser incorporadas à produção, tirando a pressão de zonas ainda preservadas”, diz. Logemann destacou a Fazenda do Futuro conectada, que terá que ter pessoas capacitadas para o mundo digital, usar softwares que consigam transformar dados em informações úteis para tomada de decisão, desenvolver uma gestão mais qualificada e sustentável (big data, rastreabilidade e certificações).

Segundo os números mais recentes do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), na safra 2016/2017 o Brasil foi responsável por 17% da exportação global – o valor chega a 68% no caso da soja e a 29% para o milho. “Não é produção que empurra a demanda, é o consumo que puxa a produção. O Brasil é o segundo maior produtor de soja e o maior exportador, bem como o de milho. Tudo isso significa mais alimento para mais pessoas”, ponderou Logemann.

Para aumentar ainda mais a produtividade, a aposta do presidente do Conselho de Administração do Grupo SLC Agrícola é no investimento em tecnologias de alto impacto, a exemplo dos drones, robôs, aparelhos voadores não tripulados e do monitoramento por satélite. Aos poucos, argumenta ele, todas essas novidades ganham espaço e deixam para trás a figura do agricultor só de ancinho e enxada.

Em sua vez, o superintendente do Senar-RS, Gilmar Tieiböhl, fez uma contextualização histórica sobre o país, desde 1500 até a atualidade. O objetivo foi evidenciar que o Brasil ainda é muito novo quando o assunto é o agronegócio, nos moldes como é pensado nas nações de primeiro mundo, e que muitas inovações ainda estão por vir. Para ele, fica até difícil projetar qual vai ser a realidade em um curto prazo de tempo.

A segunda rodada de discussões começou com a fala da secretária do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Ana Pellini, que abordou o licenciamento de plantio. “Nós temos agora uma ferramenta muito importante que é o CAR [Cadastro Ambiental Rural]. Aqui no Rio Grande do Sul a gente conseguiu que mais de 90% dos proprietários de terra fossem registrados. Neste levantamento, percebemos também que a grande maioria dos plantios é da agricultura familiar”, analisou.

O próximo foi o diretor presidente da Associação Gaúcha de Laticinistas e Laticínios (AGL), Ernesto Krug. Segundo ele, o Estado desenvolve um papel de destaque na produção nacional desta que é a quinta atividade mais importante do agronegócio brasileiro. “Em 1976, o Rio Grande do Sul era o oitavo produtor de leite do país. Hoje, é o segundo maior e o primeiro em produtividade e qualidade. Enquanto o Brasil cresceu 4,5% nos últimos 13 anos, o RS cresceu 7,5%”, avalia.

Já o presidente da Ocergs, Vergílio Perius, aproveitou seu espaço para mostrar cases que ilustram o avanço tecnológico, que hoje já faz parte da rotina das cooperativas. Um dos exemplos mais impactantes é o Programa Associativo de Produção Leiteira, da Cosuel. Seu grande diferencial é ordenha robotizada, a primeira na América Latina, e que oferece um aumento de desempenho de até 7 vezes.

Para finalizar, o diretor de assuntos corporativos da Syngenta Brasil, Pablo Casabianca - grupo que investiu $1.4 bilhão em pesquisas em 2015 e possui 29 mil funcionários em mais de 90 países -mostrou algumas das principais pesquisas desenvolvidas pela empresa. O objetivo é permitir que milhões de agricultores façam melhor uso dos recursos disponíveis, por meio de soluções inovadoras e integradas de cultivo. De acordo com dados da Crop Life International, o tempo entre as primeiras pesquisas em laboratório e a introdução no mercado de um novo produto passou de 8,3 anos em 1995 para 11,3 anos em 2014. Os valores investidos também aumentaram. No mesmo período, o custo para iniciar a comercialização foi de 152 milhões de dólares para 286 milhões de dólares.

“O Brasil tem um sistema regulatório muito rigoroso, exigente, científico e equilibrado entre agricultura, saúde e ambiente. Isso nos permite uma grande visão de sustentabilidade”, explica Casabianca. Tudo isso sem deixar de lado o crescimento: o agronegócio é responsável por 30% dos empregos gerados no país e responde por cerca de 25% do PIB brasileiro. O país parece estar no caminho certo, mas, com toda essa complexidade, a análise de perspectivas futuras precisa ser minuciosa.

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