Pesquisadores da Embrapa orientam como recuperar solo agrícola após queimadas
Entre os efeitos das queimadas estão a eliminação da cobertura do solo, risco de erosão e perda de nutrientes, além de atingir a microbiota do solo
Pesquisa recente avaliou como a mancha-alvo, causada pelo fungo Corynespora cassiicola, afetará a produtividade da soja no Brasil sob diferentes cenários climáticos até o fim do século. O estudo revela que, embora as mudanças climáticas tendam a aumentar a produtividade da soja em todas as regiões avaliadas, a severidade da doença deve crescer até 2039, para então diminuir até 2100. Esse fenômeno está diretamente ligado ao aumento da temperatura e à concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera.
Os pesquisadores utilizaram um modelo epidemiológico dinâmico acoplado ao modelo de simulação agrícola DSSAT/Cropgro-Soybean. Esse método permitiu a simulação de interações entre planta e patógeno em diferentes cenários climáticos, considerando os principais fatores que afetam o desenvolvimento da soja e das doenças. As regiões analisadas foram o Norte, Centro e Sul do Brasil, que juntas representam as maiores áreas de produção de soja no país.
Os resultados indicam que a produção de soja deve aumentar em todos os cenários climáticos. No entanto, a severidade da mancha-alvo seguirá um padrão de aumento até 2039, seguido por uma queda gradual até 2100. O cenário mais estável foi o SSP1-RCP2.6, considerado o mais otimista, com menor queda na produção. Em contraste, os cenários mais pessimistas, como o SSP3-RCP7.0 e o SSP5-RCP8.5, apontam para uma redução maior na produtividade devido ao impacto das altas temperaturas e níveis elevados de CO2.
A pesquisa destaca que o aumento de temperatura, especialmente entre 2020 e 2039, cria condições favoráveis para a disseminação do fungo, que atinge seu potencial máximo de desenvolvimento com temperaturas em torno de 25°C. Após esse período, a elevação da temperatura começa a inibir o progresso da doença, especialmente com o aumento das temperaturas médias que ultrapassem os 32°C.
Outro ponto importante discutido na pesquisa é o efeito compensatório do aumento de CO2 na atmosfera. Esse fator tende a favorecer o aumento da massa foliar da soja, reduzindo a severidade da doença, já que, proporcionalmente, o patógeno afeta uma menor área das folhas. Além disso, o encurtamento do ciclo da soja, causado pelo aumento da temperatura, pode antecipar os estágios de crescimento da planta, tornando-a mais vulnerável a ataques de patógenos.
O estudo também levanta questões sobre a adaptação às mudanças climáticas no manejo da soja. Os autores sugerem que a seleção de variedades com ciclos mais longos, associada ao ajuste do calendário de plantio e à aplicação antecipada de fungicidas, são estratégias eficazes para mitigar o risco de doenças. As mudanças nas técnicas de aplicação de fungicidas também serão necessárias para garantir a penetração eficaz através das copas mais densas, causadas pelo aumento da biomassa vegetal.
Por fim, o estudo ressalta a importância de considerar a variabilidade da precipitação futura no Brasil. A expectativa é de que o país enfrente períodos de seca mais frequentes, seguidos de chuvas intensas, o que pode impactar diretamente o desenvolvimento de doenças fúngicas. O aumento da duração de umidade nas folhas, causada por chuvas mais intensas, pode favorecer a germinação dos esporos do fungo.
A pesquisa conclui que, apesar do aumento da produtividade da soja, a evolução da severidade da mancha-alvo e as mudanças climáticas representam desafios significativos para a agricultura brasileira. Estratégias de manejo e adaptação, como a escolha de variedades adequadas e a revisão das técnicas de aplicação de fungicidas, serão cruciais para garantir a sustentabilidade da produção de soja no futuro.
Material completo pode ser lido em doi.org/10.1016/j.eja.2024.127361
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