Agronegócio Paulista: primeiro bimestre mostra recuperação
Associados, na maioria das vezes, a prejuízos econômicos e responsabilizados por quedas na produção e na produtividade das lavouras, os insetos não podem ser taxados apenas de vilões das culturas agrícolas.
Um projeto coordenado pelo pesquisador Ivan Cruz, da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG), tenta mostrar exatamente o lado positivo da presença de alguns insetos em lavouras de milho: a capacidade de controlar naturalmente as espécies fitófagas, ou seja, aquelas identificadas como pragas e que têm a capacidade de reduzir os rendimentos da planta em função de sua alimentação ou por transmitir doenças.
“Os insetos que são inimigos naturais das espécies fitófagas podem ser utilizados como agentes de controle biológico, reduzindo a densidade dos insetos-praga”, relata Ivan Cruz. Segundo ele, os insetos também são considerados indicadores da biodiversidade, “fornecendo dados que favorecem a identificação dos efeitos das práticas agrícolas na totalidade das comunidades ou na abundância e dinâmica de apenas uma espécie”. Um exemplo, continua o pesquisador, é a presença nas lavouras da principal praga do milho em todo o continente americano – a lagarta-do-cartucho.
“Por possuir ampla distribuição geográfica, essa praga também está sujeita às diversidades climáticas, como temperatura, umidade e tipo de solo. Estes fatores ambientais, em conjunto com a fenologia, ciclo e espécie da planta hospedeira, poderão influenciar nas etapas de desenvolvimento e na própria sobrevivência da lagarta”, explica o pesquisador. Neste ponto, o que deve ser levado em consideração é o monitoramento da praga na lavoura, defende Ivan Cruz, considerando aspectos como fase de desenvolvimento, fluxo populacional e ainda a presença de agentes de controle biológico na área alvo.
Segundo ele, até alguns anos atrás a decisão sobre o controle dessa praga era baseada apenas na evidência dos prejuízos causados, caracterizados principalmente pela grande desfolha das folhas novas da planta e pela presença de fezes no local atacado. “Na realidade, quando tais sintomas são evidenciados, método algum de controle será plenamente satisfatório, pois os danos já foram provocados. A própria aplicação de inseticidas químicos, que ainda é a tecnologia mais utilizada, também pode não ser eficiente, principalmente pelo estádio de desenvolvimento da praga, e levar ao desenvolvimento de populações resistentes aos produtos utilizados”, explica.
MIP E SUSTENTABILIDADE – Para o pesquisador, é fundamental utilizar os princípios do Manejo Integrado de Pragas (MIP) para reduzir efetivamente os danos da lagarta-do-cartucho. O uso seletivo de medidas de controle e o reconhecimento do papel dos agentes de controle biológico natural são, na opinião do pesquisador, aspectos fundamentais na sua implementação. “O uso de um produto químico ou de um agente de controle biológico pode ter sua eficiência aumentada quando associado a técnicas modernas de monitoramento da praga como, por exemplo, armadilhas contendo feromônio sexual sintético, que indicariam a época mais apropriada para realizar o controle na área alvo”, explica.
Ainda segundo Ivan Cruz, a simples mudança de um produto químico de amplo espectro de ação por um inseticida seletivo pode aumentar significativamente a presença dos agentes de controle biológico natural. “Obviamente, tal presença pode ser visualmente percebida, dependendo do agente de controle biológico”, enfatiza. Um exemplo, cita Ivan, é o inseto conhecido como “tesourinha”, facilmente reconhecido dentro do cartucho da planta de milho, onde se aloja, e se alimenta de ovos e insetos pequenos da lagarta-do-cartucho. Outros já não são facilmente identificados pelo produtor, como as “vespinhas”, que são parasitoides de ovos da lagarta e de outras espécies de insetos-praga.
“Há, portanto, a necessidade de se efetuar o monitoramento em áreas produtivas, para que posteriormente se possa mapear a presença de tais agentes benéficos”, reforça o pesquisador. Este monitoramento pode direcionar as ações de controle da lagarta-do-cartucho, que possui um complexo de inimigos naturais já identificados no continente americano. A partir desta edição, o Grão em Grão passa a descrever os principais agentes de controle biológico da principal praga da cultura do milho. O primeiro da série é o grupo denominado parasitoides, que desperta interesse particular pela eficiência e especificidade em relação aos hospedeiros. Vamos abordar uma espécie que parasita os ovos da lagarta-do-cartucho.
Chelonus insularis Cresson (Hymenoptera: Braconidae)
Vespa que tem, em média, 20 milímetros de envergadura. A fêmea coloca seus ovos no interior dos ovos da lagarta-do-cartucho. Após o parasitismo, o ovo aparentemente passa pelo processo de incubação, dando origem à lagarta da praga, obviamente carregando em seu interior a espécie do parasitoide. A lagarta parasitada (foto abaixo) diminui gradativamente a ingestão de alimento até ser morta pela larva do parasitoide. Seu período larval varia de 17 a 23 dias, tendo como média a duração de 20,4 dias, ou seja, período próximo àquele de uma lagarta sadia. A relação de consumo foliar de uma lagarta sadia para o de uma lagarta parasitada é de 15:1. A menor alimentação da lagarta parasitada significa, na prática, menor dano à planta. Próximo ao seu completo desenvolvimento larval, o parasitoide induz a lagarta-do-cartucho a se dirigir para o solo e a construir uma câmara. Em seguida, nesta mesma câmara, a larva do parasitoide perfura o abdômen da lagarta, sai do corpo de seu hospedeiro e imediatamente, em poucas horas, tece um casulo e se transforma em pupa. Após sete dias, ocorre a emergência do adulto.
Guilherme Ferreira Viana
Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG)
/ (31) 3027-1223
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