Manchas e chuva reduzem rendimento do trigo em SC
A posição brasileira para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática foi definida na semana passada quando o Governo anunciou que o país irá assumir metas de redução de emissões de gases de efeito estufa. O setor agropecuário terá redução que vai de 4,9% a 6,1%, até 2020.
Trata-se de um lado de um claro desafio e por outro de uma grande oportunidade para a agropecuária nacional, resume Eduardo Assad, pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária (Campinas, SP) e integrante do comitê gestor da Plataforma de Mudanças Climáticas da Embrapa, criada em julho de 2008. Ele acredita que essas metas possam ser cumpridas porque o governo trabalha com dados reais, baseados em projetos de pesquisa, alguns com mais de 10 anos, da Embrapa e de outras instituições.
Projeções do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - Mapa, indicam que serão necessários cerca de R$ 10 bilhões a mais em créditos disponíveis no Plano Agrícola e Pecuário. Segundo entrevista do Ministro da Agricultura, os recursos liberados pelo governo serão emprestados a produtores rurais que aplicassem tecnologias que gerem redução dessas emissões. Stephanes disse que as tecnologias já são utilizadas atualmente e deverão ser ampliadas. Além de oferecer mais crédito, o governo deve gastar, anualmente, cerca de R$ 1 bilhão na equalização dos juros privilegiados a quem participar dessa linha especial de crédito e R$ 500 milhões para reativar o sistema de assistência técnica rural. "Deve-se fazer financiamento com juros privilegiados, criando prêmios a quem usa essas tecnologias", afirmou o ministro.
“Uma dessas tecnologias, explica Assad, é a recuperação de áreas degradadas. Hoje são 110 milhões de hectares de pastos. A idéia é recuperar 10% da área degradada, em 10 anos. Essa porcentagem já atinge a meta para o setor”.
Outra tecnologia importante é a que integra lavoura e pecuária. “O pecuarista precisa também ser agricultor”, enfatiza o pesquisador. A Embrapa tem experiências nesse tema de longa data. É importante agregar a produção de carne com a produção de grãos. Assim, a emissão de carbono seria zerada e o pasto recuperado passaria e fixar carbono.
Assad esclarece que utilizando cerca de 3 a 4% das áreas atualmente em uso no modelo de pecuária tradicional forem transformados em modelos de integração lavoura pecuária, o Brasil atinge a meta estabelecida. “Não são números absurdos e podem ser perfeitamente atingidos com políticas publicas que induzam a adoção deste sistema de produção”.
É importante também incentivar o Plantio Direto, que fixa carbono no solo. Hoje, são aproximadamente 27 milhões de hectares que usam esse sistema. “Se ampliarmos o Sistema Plantio Direto em mais 10 milhões de hectares, a meta também será atingida”. Nos últimos 15 anos, o Brasil avançou de 0 para 27 milhões de hectares de plantio direto. Então, acredita Assad, esse número é até modesto”.
Outro exemplo, dos 22 milhões de hectares usados para produção de soja, 11 milhões utilizam bactérias fixadoras de nitrogênio. Para se adequar ao novo modelo de produção, 50% desses 11 milhões precisam passar a usar bactéria.
Para ajudar na formulação destas metas, o Mapa contou com informações científicas preciosas geradas por projetos da Embrapa, como por exemplo o Agrogases. A equipe trabalhou ainda com dados da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP), Informática Agropecuária (Campinas, SP), Florestas (Colombo, PR), Cerrados (Planaltina, DF), Agropecuária Oeste (Dourados, MS), Agrobiologia (Seropédica, RJ), Acre (Rio Branco, AC) e Amazônia Oriental (Belém, PA). Destaca-se ainda, a recente reunião técnica promovida entre representantes do Mapa e da Embrapa, onde parte destes dados puderam ser apresentados e discutidos, ressaltando a possibilidade da agropecuária assumir metas de redução. A reunião foi realizada na Embrapa Meio Ambiente no final do mês passado.
Entretanto, novos estudos e quantificações serão necessários para atualizar os dados de emissões pelos diversos sistemas de produção, bem como a adaptação destes nos novos cenários de aquecimento global. Neste sentido, parceria recentemente da Embrapa Meio ambiente com a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo- Cetesb, sob a responsabilidade da pesquisadora Magda Lima, para a realização de inventário de emissões no Estado de São Paulo e o projeto Climapest, sob a liderança da pesquisadora Raquel Ghini são contribuições concretas nesta nova perspectiva que se apresenta para a agropecuária.
Assad conclui que “será imprescindível um forte incremento em transferência de tecnologia e esse treinamento pode ser feito na Embrapa.”
O ministro reforçou que o cumprimento das metas estabelecidas para a agropecuária é plenamente viável. "É um processo em que todos ganham, inclusive os produtores, com melhora do solo e da produtividade", garantiu.
Cristina Tordin
Embrapa Meio Ambiente
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