Mercado de Mudas Clonadas está aquecido

O Agrônomo Roberto Caracas de Araújo Lima viu a oportunidade de se tornar empreendedor no curso de mestrado em fitopatologia na Universidade Federal Rural de Pernambuco. Na parte prática da pesquisa, feita na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen), em Brasília, conheceu a cultura de tecidos, que despertou seu interesse na geração de negócio nesta área.

A técnica é baseada no conhecimento da totipotência- propriedade das células que denota a habilidade de reproduzir uma planta inteira-, de1902 (Haberlandt). Qualquer parte do tecido vegetal possui uma célula em cujo núcleo existe o genoma que tem todas as informações necessárias para produzir outro vegetal idêntico ao qual foi retirado deste material.

Com a tecnologia de produção de mudas clonadas, da Embrapa Agroindústria Tropical (Fortaleza-CE), a Biclone faz a multiplicação rápida em períodos de tem e espaço reduzidos, mantendo a identidade genética do material propagado e melhora a qualidade fitossanitária. Ao criar a empresa incubada em 2008 no primeiro edital Proeta-Intece, Roberto Caracas já sabia da carência de mudas no mercado cearense onde a fruticultura é uma atividade econômica em expansão. A experiência veio de três anos como gerente de Segurança Fitossanitária da Secretaria de Agricultura (Seagri-200 a 2002) e superintendente de produção na Del Monte, empresa de exportação de frutas (2002 a 2007) da região do Jaguaribe.

“Na Seagri vi a realidade do mercado de mudas no Ceará e no Nordeste, os entraves e dificuldades. Nos seis anos na Del monte acompanhei a montagem do projeto quase mil hectares de abacaxi com mudas implantadas”, assinala Roberto Caracas. No Brasil da época não tinha biofábricas que pudessem implantar em quantidade e qualidade mudas clonadas de abacaxi e banana. Hoje existem 35. Uma delas é a cearense Biclone.

Quando surgiu a oportunidade do edital Centec- Embrapa, Caracas conta que já estava decidido ao negócio. Iniciou a Bioclone, com consultoria Técnica da Embrapa Agroindústria Tropical, em sociedade com Richard Muller, que tinha uma empresa de mudas convencionais e mais experiência no empreendedorismo. Setor emergente na economia do Ceará, a fruticultura absorveu a inovação da micropropagação de mudas.

A demanda está muito aquecida, diz Caracas. A Agrícola Famosa, maior produtora de melão e melancia, expande seus cultivos em 70 hectares de banana e prevê mais 250 hectares para 2011. A Bioclone vai fornecer 140 mil mudas só para esta empresa. Já a Del Monte, apesar de ter encerrado as operações com melão e abacaxi, vai expandir 230 hectares de banana em 2010. A Frutacor, de João Teixeira, um dos maiores produtores de banana no mercado interno, também é cliente .

“Nosso carro chefe é banana”, disse Caracas. A empresa produz mudas clonadas de abacaxi imperial, vitória e pérola resistentes à praga fusariose, abacaxi ornamental, bananas – variedades William, prata anã, prata catarina, tropical, pacovan ken e prata-, cana-de-açucar, figo e maçã. A Bioclone entregou 8 mil mudas de cana-de-açucar à Ypioca para fazer avaliação e homologação técnica com vistas ao investimento das empresas na área e etanol, e vê a possibilidade de fazer parceria e ajudar a implantar cultivo no projeto de irrigação Tabuleiros de Russas.

A Bioclone já conseguiu captar quase R$ 1 milhão em projetos nas agências de fomento à inovação. Aprovou R$ 942.217 em projetos nos três recentes anos. Em 2008, a empresa teve aprovado projeto de R$ 481,75 mil pelo Programa de Apoio à Pesquisa na Pequena Empresa (Pappe) da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap). Em 2009, a empresa captou mais R$ 120 mil no Programa Primeira Empresa Inovadora (Prime) da Finep, e em 2010 teve aprovado projeto de R$ 340.467 no Fundo de Inovação Tecnológica (FIT) da Funcap.

Flamínio Araripe

UCR-NE