Dow AgroSciences e Chromatin assinam acordos de pesquisa e licenciamento
O melhoramento vegetal, a escolha entre espécies, cultivares e ações para alterar a temperatura numa determinada região são, de acordo com Adonai Gimenes Calbo, as possíveis soluções mais diretas de tecnologias estratégicas para manter a produtividade hortícola e mitigar os efeitos das mudanças climáticas na produção de hortaliça.
Esta proposta será apresentada dia 20, em Brasília, durante o workshop “Efeito das mudanças climáticas na produção de hortaliça” pelo pesquisador da Embrapa Instrumentação Agropecuária que há mais de 30 anos desenvolve estudos na área de fisiologia vegetal. Calbo explica que a horticultura é influenciada de maneira muito desigual por este aquecimento nas diferentes regiões ao redor do globo. “Assim, em cada região haverá necessidade de procedimentos de aclimatação específicos, que poderão envolver a introdução de novas espécies e variedades, que possam atender aos consumidores”. O pesquisador comenta que mesmo nas áreas que serão menos afetadas é provável que se tenha de conviver com temperaturas noturnas mais elevadas e com reduções da produtividade vegetal induzidas pelo maior poder evaporativo do ar e pelo aumento de poluentes troposféricos.
Calbo ainda vai apresentar algumas soluções locais e regionais por meio da seleção de melhoramento genético para mitigação do efeito estufa, entre elas, a escolha de espécies e cultivares mais tolerantes ao calor; seleção de genótipos com folhas estreitas e curtas que aquecem menos em ambientes com elevadas irradiâncias e elevadas temperaturas; seleção de genótipos mais tolerantes aos elevados níveis de ozônio prevalecentes nas regiões periféricas às ilhas de calor; priorizar o desenvolvimento de cultivares de ciclo longo, que demandem menos fertilizantes e que explorem melhor a água do solo, além da seleção de genótipos com maior albedo (medida do poder de refletir luz de uma superfície e é expressa como a razão entre a energia refletida em todas as direções e a energia incidente) de banda larga nas folhas e outros órgãos aéreos, tendo-se em vista que o aquecimento adicional causado pela radiação solar é tanto menor quanto maior for o albedo.
Para ajustes fitotécnicos no campo, o pesquisador sugere medidas como, o uso de “mulching” (tipos de cobertura de solos utilizadas para produzir efeitos variados como: inibir a competição de plantas invasoras, aumentar ou diminuir a temperatura do solo e para produzir solarização)* *de plástico branco opaco, que diminui a temperatura do solo e do ar ao redor das plantas e auxilia no controle de plantas invasoras e melhora o uso da luz no dossel; uso de palha com elevado albedo (é um “mulching” menos eficiente para reduzir a temperatura que o plástico branco, especialmente, quando a palha escurece, porém facilita a infiltração da água da chuva); utilizar pavimentos de cor clara em todos os acessos e material que aumente o albedo nas entre linhas; utilizar prioritariamente pisos e “/mulching/” permeáveis à água; manter matas nativas e arborização nas cercanias das áreas cultivadas; utilizar métodos de adubação racional, preferencialmente fundamentados no uso de fontes de baixa solubilidade e de outras alternativas de reciclagem, fixação biológica e de aumento na eficiência do uso dos nutrientes; desenvolvimento de sistemas de gotejamento mais duráveis e que possibilitem melhor uso de águas com impurezas orgânicas e minerais; uso de métodos de manejo de irrigação que possibilitem economia de água; uso de métodos de manejo do microclima das plantas que possibilitem economia de água mediante reduções locais do poder evaporativo do ar, causados por redução da temperatura ou da velocidade do vento. **
Em casa de vegetação, Calbo recomenda para reduzir a temperatura, pintar de branco pisos, bancadas e todas as superfícies metálicas. “Pintar externamente a casa-de-vegetação com tinta branca, não opaca, reduz a temperatura interna, porém causa substancial prejuízo à produtividade vegetal”, lembra, indicando outras medidas como usar aberturas laterais (lanternins e telados), além de outras opções para promover convecção do ar. Em regiões quentes e secas o uso de evaporadores juntamente com convecção forçada pode ser particularmente eficiente, segundo o pesquisador.
Na pós-colheita, Calbo aponta soluções como colocar o produto na sombra ou em ambiente refrigerado imediatamente após a colheita; usar pisos e pavimento frios; internamente, nas casas-de-embalagem, armazéns e pontos de venda os pavimentos, paredes e pisos devem claros por questões de higiene e de aproveitamento da iluminação disponível; externamente, telhados de casas-embalagem, armazéns e de pontos de venda de frutas e hortaliças devem ser claros e preferencialmente pintados com tintas que façam uso da tecnologia de pigmentação refletida no infravermelho para diminuir a temperatura interna; gramados e arborização ao redor das edificações são valiosos para diminuir a temperatura e aumentar a umidade relativa, condições que favorecem a conservação pós-colheita de frutas, hortaliças e de plantas ornamentais; os veículos que fazem transporte de produtos hortícolas, refrigerados ou não, devem ser pintados de branco ou recobertos com lona branca, preferencialmente pintados ou tingidos com tintas especiais que façam uso da tecnologia de pigmentação refletida no infravermelho.
Para o pesquisador, com descoberta de que as mudanças climáticas chegaram, começou nos últimos anos o desenvolvimento de uma nova ética de consumo, segundo a qual a busca de alimentos e de conforto deve ocorrer com reciclagem, com aproveitamento minucioso da energia, da água e dos fertilizantes. “Tudo para que não haja deterioração do tecido social induzida por insuportável deterioração do conforto e do bem-estar. Conforto e bem estar que em grande medida são fisicamente definidos pelas condições do clima e pela qualidade dos recursos naturais vivenciáveis”.
Joana Silva
Embrapa Instrumentação Agropecuária
(16) 21072901 /
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