Mapa anuncia Crédito de Recebíveis do Agronegócio com garantia do BNDES

Ministra da Agricultura Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, anunciou um novo sistema que permite aos produtores rurais ampliar o acesso ao crédito

08.04.2021 | 20:59 (UTC -3)
Imprensa Farsul

A ministra da Agricultura Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, anunciou nesta quinta-feira (08/04) um novo sistema que permite aos produtores rurais ampliar o acesso ao crédito. O modelo consiste em um Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) com garantia do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e é resultado de um ano de tratativas entre a Farsul, Mapa e o banco de fomento. Como piloto, foi escolhida a Cotrijal, com o Grupo Ecoagro como securitizadora.

Esse tipo de operação é um mecanismo que pode ser utilizado para renegociações de dívidas fora do sistema bancário ou concessão de novos créditos. Diferente do Crédito Rural controlado, o formato não está relacionado aos aportes oficiais da política pública. Além disso, ele pode ser utilizado tanto para crédito de custeio, como de investimento. A estrutura da operação consiste na emissão de Cédula de Produto Rural (CPR) pelos produtores para a originadora. Os papeis são transformados em CRA por uma securitizadora, e são negociados no mercado financeiro. Os investidores terão a garantia do BNDES, o que reduz os riscos da operação e, consequentemente, os juros para os produtores.

A escolha da Cotrijal como piloto está no fato de ser a maior cooperativa do Rio Grande do Sul, sendo reconhecidamente preocupada com o bem-estar dos seus associados. A busca por solução para as dívidas fora do sistema bancário após a grave seca de 2020 era uma demanda dos produtores, estimulando a adoção de operações estruturadas de crédito. O valor da operação é de R$ 29 milhões com juros de 3,15% e prazo de dois anos. O Banco Alfa será o coordenador líder, garantindo a comercialização dos títulos.

A consolidação do projeto é vista pela Cotrijal como importante avanço na garantia de crédito para o campo, a custos compatíveis com a necessidade do produtor. A cooperativa tem 7,9 mil associados e está presente em 32 municípios gaúchos. Em 2020, faturou R$ 2,4 bilhões. “Viabilizar a produção, com segurança, é estratégico para a Cotrijal. Estamos otimistas com a possibilidade de acessar crédito privado e honrados por sermos pioneiros nessa iniciativa-piloto”, afirma o presidente da Cotrijal, Nei César Manica.

Procurada pela Farsul com a proposta da operação, a ministra Tereza Cristina trouxe o BNDES para o processo. A ministra destacou a participação e envolvimento de todos os envolvidos ao longo de todo o processo de construção. “Hoje é um dia a ser comemorado, é um divisor de águas. Esse somatório de esforços que fez com que tenhamos essa ferramenta tão importante para o nosso agro. Agradeço ao presidente Montezano (Gustavo Montezano, presidente do BNDES) por ter colocado toda sua equipe a pensar fora da caixinha. Durante a apresentação, o presidente do BNDES, Gustavo Montezano, comentou sobre a operação. “O que a gente está celebrando é mais do que uma operação rotineira, é uma inovação. Ela marca a entrada num mercado promissor. Estamos desconcentrando o crédito nacional”, afirmou, ao lembrar que a operação é piloto e ainda será aperfeiçoada para permitir sua ampliação.

A Farsul vem trabalhando na ampliação das operações estruturadas de crédito. O objetivo da Federação é que mais cooperativas, revendedoras de insumos, cerealistas e tradings utilizem a ferramenta. “A Farsul se sente muito honrada em estar participando desse novo passo para o agronegócio nacional como um todo. Uma das bandeiras da Farsul é o do livre mercado. Queremos que esse tipo de operação seja cada vez mais frequente e com mais atores. Isso significará maior concorrência, resultando em condições cada vez melhores aos produtores rurais para que possam continuar investindo no setor sem as limitações dos recursos oficiais”, afirma o presidente do Sistema Farsul, Gedeão Pereira.

A securitização será do Grupo Ecoagro. O sócio executivo Moacir Teixeira vê o CRA como instrumento de crédito do mercado de capitais que vem se consolidando como uma fonte importante de financiamento para suprir as necessidades de recursos na demanda crescente de capital para a agropecuária brasileira. “A principal característica é a democratização do crédito, transformando ativos individuais de pequenos e médios produtores em estruturas mais robustas que acessam com maior transparência e credibilidade os investidores.  A inciativa da operação com a participação do BNDES beneficia diretamente o micro e o pequeno produtor, através das suas cooperativas e da própria cadeia de insumos. Sem dúvida é o primeiro passo para potencializar o financiamento agrícola de forma pulverizada, organizada, atingindo toda a cadeia do agro e permitindo principalmente o investidor pessoa física brasileiro a participar deste crescimento”, avalia Teixeira.

O Banco Alfa tem histórico como agente financeiro do BNDES desde sua origem, coordenando operações pioneiras para o agronegócio, como a primeira emissão de CRA Green Bond para o setor sucroalcooleiro. “É uma grande satisfação para o Alfa coordenar a primeira emissão realizada no Brasil de um CRA com garantia do BNDES, operação que reforça a história e o pioneirismo da instituição em operações disruptivas, e que ajuda a desenvolver ainda mais um mercado responsável por boa parte do PIB nacional. O sucesso desta operação inédita com o BNDES, Ecoagro, Farsul e a Cotrijal, servirá como referência para futuras operações do Alfa em conjunto com o BNDES para fomentar ainda mais o setor do agronegócio brasileiro”, afirma Augusto Martins, diretor executivo de Corporate & Investment Banking do Banco Alfa.

Com o objetivo de ajudar a elevar a oferta de crédito privado aos produtores rurais, o BNDES investe no novo produto financeiro como grande propulsor para esse crescimento. A instituição que sua experiência no agronegócio e no mercado de capitais o credencia para o desenvolvimento desse tipo de solução de crédito. A modelagem foi concebida para estimular o financiamento privado ao setor agropecuário em um contexto de alta aversão ao risco e procurando diminuir a dependência de recursos públicos pelo setor. “O CRA Garantido representa mais um passo da instituição no sentido de se estabelecer como um banco que promove o desenvolvimento por meio de uma ampla gama de serviços, inclusive aqueles complementares ao financiamento tradicional,” explica o diretor de Crédito e Garantia do BNDES, Petrônio Cançado.

Conforme dados da consultoria Uqbar, os CRAs movimentaram R$ 15,81 bilhões em 2020. Uma alta de 28% na comparação com 2019. No total, foram 65 operações envolvendo 113 títulos. Com a entrada da garantia do BNDES, esses valores devem saltar nos próximos anos garantindo um novo cenário para o agronegócio brasileiro.

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