Em implantação, canola apresenta bom desenvolvimento no RS
As primeiras lavouras semeadas apresentam bom estande de plantas, sendo possível observar as linhas bem definidas de semeadura
A meloidoginose é ocasionada por espécies de nematoides do gênero Meloidogyne, comumente conhecida como nematoides-das-galhas, que são um dos grupos mais importantes de nematoides parasitas de plantas em todo o mundo, responsável por uma ampla gama de hospedeiros e por perdas agrícolas de bilhões de dólares anualmente. No tomate (Solanum lycopersicum) seu potencial de perda no rendimento varia de 25% a 100%, além de afetar severamente a qualidade dos frutos, especialmente em áreas tropicais e subtropicais.
Aproximadamente 100 espécies deste gênero já foram descritas, entretanto, dentre as mais importantes economicamente para o tomateiro desacatam-se Meloidogyne incognita, M. javanica, M. arenaria, M. hapla e M. enterolobii. Estas espécies estão amplamente distribuídas por todo o Brasil, ocasionando os maiores prejuízos econômicos, principalmente em regiões quentes, com solos arenosos e baixos teores de matéria orgânica.
O nome Meloidogyne é de origem grega, que significa "fêmea em forma de maçã", e este gênero foi relatado pela primeira vez em 1855, na Inglaterra, por Berkeley. Esses nematóides constituem um grupo polifágico, biotrófico obrigatório altamente adaptado e possui um estilo de vida endoparasita sedentário. Diferentemente da maioria dos outros nematoides parasitas de plantas, as fêmeas de Meloidogyne são globosas sedentárias na maturidade, com comprimento variando de 400µm a 1.000µm. Já os machos, são vermiformes e variam de 1.100µm a 2.000µm de comprimento, possuindo estiletes (estrutura bucal presente nos fitonematoides) fortemente desenvolvidos.
O ciclo da meloidoginose inicia-se com o desenvolvimento embrionário dos nematoides dentro do ovo, resultando no primeiro estádio juvenil (J1), onde irá passar pela primeira ecdise, originando seu segundo estádio juvenil (J2), em que migra pelo solo até as raízes das plantas, após a eclosão e é responsável por iniciar infecções nas raízes em crescimento. A infecção ocorre com o uso do estilete para injetar secreções (enzimas), bem como ingerir nutrientes das células da planta hospedeira. Essas secreções estimulam o aumento das células e também liquefazem parte do conteúdo das células. Os nematoides migram intercelularmente, estabelecendo seu sítio de alimentação próximo ao tecido vascular, tornando-se sedentários. Posteriormente, passarão por mais três ecdises até chegar à fase adulta. Na fase adulta, a fêmea irá permanecer na raiz infectada, enquanto o macho deixará de parasitar a raiz da planta. Muitas espécies de Meloidogyne são partenogênicas ou partenogênicas facultativas. Isso significa que os machos não são necessários para completar o ciclo de vida dos nematoides e os ovos viáveis podem ser produzidos pelas fêmeas na ausência de fertilização. Elas também possuem a capacidade de reversão sexual, como mecanismo de sobrevivência, onde em condições desfavoráveis podem trocar de sexo para garantir a perpetuação da espécie. À medida que a fêmea adulta aumenta, sua região posterior pode romper a epiderme da raiz, ocorrendo a liberação de uma massa gelatinosa de ovos. Um único nematoide fêmea pode produzir mais de mil ovos. O tempo do ciclo de vida desses nematoides varia entre as espécies e seus ovos sobrevivem por pelo menos um ano no solo. Na meloidoginose do tomateiro ocasionada por M. incógnita, as primeiras fêmeas aparecem de 13 dias a 15 dias após a penetração nas raízes e as massas de ovos após 19 dias a 21 dias.
Os sintomas ocorrem principalmente em reboleiras. As galhas danificam os tecidos vasculares das raízes e, assim, interferem o movimento normal de água e nutrientes através da planta, apresentando clorose e murcha das folhas, além de sintomas de deficiência nutricional. Elas também aumentam a suscetibilidade do sistema radicular ser invadido por bactérias e fungos fitopatogênicos. O crescimento vegetativo é afetado, gerando plantas raquíticas, onde em estágios mais graves pode provocar até a morte da planta. Em consequência desses danos causados, muitas vezes as plantas não se desenvolvem até a formação de frutos e quando o produzem, não possuem valor comercial.
As galhas são decorrentes do sedentarismo das fêmeas nos sítios de alimentação e das células parasitadas, que tornam-se multinucleadas em consequência da divisão celular sem parede celular, provocada pela secreção liberada pelos nematoides, em outras palavras, a célula parasitada nunca formará outra célula, apenas irá aumentar o conteúdo celular em seu interior, formando “células gigantes”. Além disto, as células vizinhas se dividem rapidamente, presumivelmente como consequência da difusão do regulador do crescimento das plantas, resultando na formação de galhas. É possível visualizar as fêmeas adultas de cor branca perolada, no interior das galhas ao abri-las cuidadosamente. O número e o tamanho das galhas irão depender fundamentalmente da densidade populacional de nematoides na área, espécie e raça do nematoide e da cultivar/variedade de tomate utilizadas no campo de produção.
O controle preventivo deve ser a primeira estratégia utilizada pelos agricultores, a fim de evitar perdas, pois uma vez presente nas áreas de cultivos, o produtor terá de conviver com esta problemática, já que sua erradicação é praticamente impossível. Dentre as principais medidas preventivas, destacam-se o plantio em áreas isentas e sem o histórico da doença, mudas sadias, equipamentos previamente sanitizados e irrigação sem contaminação.
Existe também o uso do controle cultural que é o método potencialmente eficiente para reduzir os danos ocasionados por este micro-organismo. Porém, deve ser cuidadosamente planejado.
A matéria orgânica incorporada ao solo é uma medida cultural indireta e eficaz, pois funciona como condicionador do solo, auxiliando na capacidade de retenção de nutrientes e água do solo, melhorando a fertilidade e a estrutura do solo, reduzindo a erosão e liberando compostos específicos que podem ser nematicidas, além de estimular a atividade microbiana no solo, como fungos e bactérias antagônicas. Esterco de gado ou de galinha, tortas oleaginosas, palha de café, bagaço de cana e torta de mamona são exemplos de materiais orgânicos utilizados, entretanto, deve-se ter o cuidado com materiais contaminados com micro-organismos fitopatogênicos e restos culturais utilizados com esta finalidade, pois poderá servir como fonte de inóculo para plantios futuros.
A rotação de culturas também pode ser aplicada para o controle da meloidoginose, porém, devido à ampla gama de hospedeiros de várias espécies importantes, as opções de rotação são limitadas. Este método é de baixo custo, além de melhorar as condições do solo e não oferecer risco ao homem e ao ambiente. Recomenda-se uma rotação de no mínimo três anos para o tomate, a fim de reduzir a população presente no solo. Em áreas infestadas por M. javanica ou M. incognita sugere-se a rotação com amendoim (Arachis sp.), braquiárias (Brachiaria spp.), crotalária (Crotalaria spectabilis Roth.), feijão-da-flórida (Mucuna pruriens) e mamona (Ricinus communis L.) dentre outras plantas resistentes ou não hospedeiras.
A solarização é uma técnica de controle físico aplicada com finalidade de maximizar a temperatura do solo, por meio de duas camadas de lona fina de polietileno transparente, por pelo menos duas semanas. A maioria dos nematoides e ovos é morta em temperatura entre 44ºC e 48°C. O solo deve ser revolvido e bem umedecido para permitir uma penetração uniforme de calor. A aplicação da solarização geralmente é realizada no verão, a fim de maximizar os efeitos do aquecimento, que possui uma profundidade da penetração de 10cm aproximadamente. O uso melhor sucedido da solarização do solo ocorre mais em solos argilosos do que em solos arenosos, devido à boa capacidade de retenção de água que aumenta a transferência de calor para horizontes mais profundos do solo. Entretanto, esta técnica não é seletiva aos nematoides, também elimina micro-organismos benéficos ao solo.
Estudos que exploram o uso de micro-organismos antagônicos e competitivos contra os nematoides causadores de meloidoginose têm recebido grande atenção, principalmente devido à sua capacidade de induzir defesas locais e sistêmica. Os agentes de controle biológico mais comumente usados são fungos e bactérias. Dentre os fungos biocontroladores destacam-se os nematófagos (alimentam-se de nematoides) como Arthrobotrys spp. e Monacrosporium spp. que utilizam armadilhas miceliais ou esporos pegajosos para capturá-los, Pochonia chlamydosporia e Paecilomyces lilacinus que parasitam ovos e fêmeas e Trichoderma spp. através de suas enzimas hidrolíticas controlando no período de postura e eclosão, além de possuir efeitos diretos nas plantas, aumentando seu crescimento e captação de nutrientes. Os principais antagonistas bacterianos são espécies de Bacillus e Pasteuria penetrans, devido a seus endosporos possuírem a capacidade de se anexar à cutícula de um nematoide juvenil, produzindo estruturas de penetração e provocando sua morte lentamente.
A utilização de variedades resistentes ou tolerantes constitui uma prática de grande relevância para o controle dos nematoides, sem oferecer riscos à saúde humana, com custo relativamente baixo e sem prejudicar o ambiente. No tomate, a resistência genética aos nematoides das galhas é conferida pelos genes Mi, obtidos a partir de Lycopersicon peruvianum, um parente selvagem do tomate comum. Em muitos casos, esses genes se tornam ineficazes a temperaturas altas. Segundo o Registro Nacional de Cultivares do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), existem inúmeras cultivares de tomateiro industrial e de mesa registradas com resistência às principais espécies de meloidoginose do tomateiro no país, contudo as especificações sobre a resistência não são claras em relação às espécies e às raças dos nematoides. É importante destacar que mesmo com as cultivares de tomateiros resistentes desenvolvidas, as espécies de nematoides ainda causam prejuízos a esta cultura. Aliados à utilização de cultivares resistentes, a enxertia tem sido empregada em tomateiros para controle de patógenos radículas e principalmente de fitonematoides. A vantagem do emprego de porta-enxerto resistente é a garantia de características econômicas desejáveis, com a escolha adequada do enxerto a ser utilizado. Entre os vários aspectos considerados na enxertia, a compatibilidade entre as espécies botânicas da combinação enxerto/porta-enxerto é de extrema importância para o sucesso desta técnica.
Para aplicação do controle químico, o produtor deve utilizar apenas os produtos registrados no Agrofit (http://agrofit.agricultura.gov.br) pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Como os nematoides vivem no solo, o controle químico requer aplicações de grandes quantidades de produtos químicos com equipamentos especializados. Apesar de sua eficácia, o uso de nematicidas tem sido uma preocupação crescente. O aumento das preocupações ambientais e de saúde resultou na proibição do brometo de metila, metamidofós ealdicarbe. Porém, o controle químico representa a forma mais viável para reduzir as perdas ocasionadas por este micro-organismo após o estabelecimento da cultura no campo. Novas gerações menos prejudiciais de nematicidas estão se tornando disponíveis como resultado de renovações e interesse do setor de proteção de culturas.
As abordagens melhor sucedidas para o controle de meloidoginose dependem de estratégias de manejo integrado de doenças (MID). Os nematicidas químicos estão sendo desencorajados especificamente como único método de gerenciamento. Uma combinação de ferramentas de manejo, incluindo práticas culturais (rotações com culturas não hospedeiras e matéria orgânica que favorecem o acúmulo de antagonistas de nematoides), cultivares resistentes e tratamentos químicos do solo, se necessário, geralmente fornecem controle aceitável. O manejo integrado de nematicidas com solarização do solo e enxerto em porta-enxertos resistentes foi considerado o método mais eficaz de gerenciamento de nematoides das galhas.
O diagnóstico da doença é realizado através de análises laboratoriais de amostras de solo e raízes, com intuito de determinar a densidade populacional e espécie presente no solo. A coleta das amostras deve ser realizada em ziguezague, e de dez a 15 amostras simples por hectare devem ser realizadas e homogeneizadas posteriormente para formar uma amostra composta. Cada amostra simples deve conter em torno de 200g (solo + raízes) e ser coletada em profundidade de 20cm a 30cm. A amostra composta deve conter 500g de solo + 200g de raízes aleatoriamente e ser acondicionada em sacos de polietileno e identificada com nome do responsável e da cultura, local e data da coleta, endereço e telefone para contato e envio dos resultados.
José Manoel Ferreira de Lima Cruz, Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências Agrárias; Otília Ricardo de Faria, Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências Agrárias
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