Mapa digitaliza mais de 80 serviços e gera economia para o produtor rural
Redução de custos para os produtores é estimada em R$ 43 milhões ao ano. A meta para 2021 é ter mais 77 serviços transformados em digitais
A batateira (Solanum tuberosum L.) é espécie cultivada desde a antiguidade e faz parte da história da Fitopatologia. Teve fundamental importância para o início do estudo das doenças de plantas, com a descoberta pelo cientista Anton de Bary de que seria um fungo a causa da epidemia que ocasionou a destruição total de batatais na Europa e levou à morte milhões de pessoas de fome. Pertence à família das Solanaceae, amplamente produzida e consumida no mundo todo. Seus tubérculos são nutricionalmente ricos, por ser fonte de carboidratos e servem como sementes para plantios posteriores.
De acordo com os dados do IBGE (2020), no Brasil a estimativa é de uma área plantada de mais de 125 mil hectares, com produção de 3.772 mil toneladas de batatas produzidas, o que representa um rendimento médio de 30 mil kg/ha. O preço médio registrado nos atacados de referência dos estados para o período de abril/maio variou entre R$ 2,98/kg na região Sudeste e R$ 4,70/kg na região Nordeste, sendo no estado do Ceará o maior preço registrado (R$ 4,90/kg), segundo dados da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp, 2020).
A qualidade sanitária é um fator tão limitante para a produção quanto a qualidade fisiológica, pois irá determinar quanto do potencial da cultura irá ser expresso ao final do processo produtivo, influenciando na produtividade e na qualidade da colheita, no armazenamento, no transporte e na conservação pós-colheita. Atualmente, toda produção convencional de batata utiliza como técnica primordial de manejo fitossanitário a aplicação de fungicida químico, em diversas fases da cultura, sendo realizados o tratamento de batata-semente, a pulverização em campo durante o desenvolvimento vegetativo e também a aplicação na pós-colheita dos tubérculos.
Para uma melhor eficácia do controle químico na manutenção da sanidade da cultura, é necessário que alguns cuidados sejam praticados pelos produtores como controlar a dose e a época de aplicação, a tecnologia de aplicação adotada e a realização da rotação de princípios ativos dos produtos recomendados e registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). No momento, é possível encontrar uma grande diversidade de produtos registrados para a cultura da batata. Desses registros, 167 produtos são indicados para a requeima da batata (Phytophthora infestans), 25 produtos para rizoctoniose (Rhizoctonia solani), 197 para pinta-preta (Alternaria solani), além de outros para controle de nematoses e bacterioses.
Os benefícios do controle químico podem ser potencializados com um manejo integrado de doenças (MID). Isso ocorre uma vez que a integração de métodos consegue atuar em escalas de tempo e espaços diferentes, prolongando e ampliando o controle de fitopatógenos, o que na prática é percebido em redução de custo, menor impacto ambiental, manutenção na produtividade etc. O MID é eficiente para o controle de uma ampla diversidade de fitopatógenos, reduzindo os custos com controle químico e, consequentemente, proporcionando novas estratégias de manejo de doenças economicamente importantes na cultura.
O controle genético para doenças fúngicas como a requeima da batata pode ser empregado através do uso de variedades resistentes à doença, sendo as principais variedades a Aracy, a Itararé e a Contenda, que apresentam algum nível de resistência. É uma medida de controle ideal para ser introduzida ao manejo integrado, e que nunca deve ser utilizada como única estratégia de manejo, pois ao longo do tempo pode contribuir com a mutação dos patógenos e criação de variedades altamente resistentes. Também é necessário que o produtor avalie, antes de selecionar uma variedade resistente, se seu mercado consumidor não possui nenhuma resistência cultural em aceitar o produto.
A escolha do local de plantio é um fator determinante para evitar lugares com histórico de doenças, que podem inviabilizar o sucesso da produção. O local deve ser preferencialmente isento de patógenos para a cultura da batateira e de culturas botanicamente semelhantes como o tomate (Solanum lycopersicum), a berinjela (Solanum melongena) e o pimentão (Capsicum annuum Group). A área deve ser de boa drenagem e é recomendado evitar baixadas para que a umidade do ar e do solo não seja constante e excessiva, favorecendo o desenvolvimento fúngico. A irrigação também deve ser manejada de forma eficiente para evitar longos períodos de molhamento.
A destruição dos restos culturais é uma técnica fundamental para a redução do inóculo de diversas doenças, sendo realizada por meio da queima. Os restos culturais que apresentam massa pulverulenta de esporos fúngicos e/ou sintomas de doenças não devem ser utilizados para alimentar animais que fornecem esterco para adubação do plantio. O preparo do solo é outra técnica que pode ser integrada, uma vez que irá auxiliar na decomposição da matéria orgânica do solo e gerar um microclima mais alcalino, desfavorável ao desenvolvimento dos fungos, dificultando o processo de colonização e infecção.
O plantio raso (5cm – 7cm) é eficiente, pois facilita a emergência das plântulas, onde suas defesas naturais irão se desenvolver mais rapidamente, garantindo uma melhor resistência com o estabelecimento em campo. A rotação de culturas também deve ser implementada para garantir benefícios diversos como a quebra de ciclo de pragas e patógenos e a ciclagem de nutrientes, podendo utilizar feijão, milho e/ou trigo para melhores resultados. Esta ciclagem fornece uma nutrição equilibrada que irá contribuir com a resistência natural da planta, pois uma planta bem nutrida é capaz de se defender das adversidades externas, não só de patógenos, mas também de pragas e fatores climáticos desfavoráveis.
Além destas técnicas de manejo apresentadas, existe a termoterapia ou hidroterapia para o tratamento de batatas-semente que, quando combinada ao uso do fungicida apresenta alto potencial de eficiência e redução de custos. É um método alternativo que possibilita redução da quantidade de fungicida aplicado, fácil e de baixo custo de aplicação, não gera resíduo poluente ao ambiente, não exige um profissional especializado para manipulação e não oferece riscos à saúde do manipulador, pois não utiliza nenhum componente tóxico, apenas água potável aquecida.
A termoterapia consiste na imersão das batatas-semente em água quente em banho-maria com uma combinação de tempo x temperatura predeterminada. A elevação da temperatura do tubérculo, quando bem executada, não gera prejuízo à qualidade fisiológica e funciona como antimicrobiano, realizando a desinfestação superficial com a eliminação de patógenos necrotróficos, reduzindo assim os danos causados durante o armazenamento e após o plantio, mesmo com a diminuição da quantidade de fungicida aplicado.
Um trabalho desenvolvido por Santos et al. (2019) objetivou avaliar a qualidade pós-colheita de tubérculos de batata submetidos ao tratamento hidrotérmico e utilizou água na temperatura de 50ºC e 60ºC durante um, seis, 11 e 21 minutos, mais o tratamento controle sem a imersão dos tubérculos em água quente. Os autores concluíram que a incidência de brotação foi menor nos tratamentos de 50°C por 21 minutos e 60°C por seis minutos. Os tratamentos de 50°C, por um, seis e 11 minutos, e 60°C, por um e seis minutos, proporcionaram uma maior vida útil pós-colheita dos tubérculos quando comparados com o tratamento controle.
Da Silva Silveira et al. (2016) avaliaram a influência do tratamento térmico sobre a qualidade pós-colheita de tubérculos de batata e sob o controle da podridão-mole causada por bactérias do gênero Pectobacteruium. Os autores utilizaram 40°C, 50°C, 60°C e 70°C e concluíram que a temperatura de 40°C se mostrou a mais eficiente em manter as características físico-químicas e no controle da podridão-mole, pois houve redução da exsudação de pus bacteriano durante 20 dias de armazenamento.
A agricultura 4.0 pode ser utilizada para auxiliar na precisão da adoção dos métodos de controle das doenças fúngicas da batateira de forma preventiva, já que estas enfermidades são, em geral, altamente dependentes de temperatura e de umidade. Com instalação de equipamentos de medição das variáveis climáticas como o anemômetro, que serve para aferir a velocidade do vento, termômetro, pluviômetro e softwares para previsão de chuvas, é possível prever o aparecimento de certas doenças e realizar o controle antes que causem prejuízos ou evitar aplicações desnecessárias de produtos químicos e reduzir significativamente os custos de produção.
Para garantir o sucesso do manejo fitossanitário na cultura da batata, é necessário que durante o processo pós-colheita seja evitada ao máximo a distribuição de tubérculos comprometidos para novas áreas agricultáveis, reduzindo o risco de disseminação e formação de novas fontes de doença. O manejo integrado de doenças busca potencializar ao máximo o benefício que cada técnica isolada oferece e gerar um equilíbrio entre custo de produção e impacto ambiental do processo produtivo do pequeno, médio ou grande produtor, contribuindo para um modelo de agricultura sustentável.
Maria Silvana Nunes e Luciana Cordeiro do Nascimento, PPGA/UFPB
A cada nova edição, a Cultivar Hortaliças e Frutas divulga uma série de conteúdos técnicos produzidos por pesquisadores renomados de todo o Brasil, que abordam as principais dificuldades e desafios encontrados no campo pelos produtores rurais. Através de pesquisas focadas no controle das principais pragas e doenças do cultivo de hortaliças e frutas, a Revista auxilia o agricultor na busca por soluções de manejo que incrementem sua rentabilidade.
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