Manejo integrado da mosca minadora na cultura do tomate

Após monitoramento e identificação dos níveis de ação, inseticidas seletivos a inimigos naturais e práticas de manejo integrado dão melhores resultados

29.07.2020 | 20:59 (UTC -3)
Cultivar Hortaliças e Frutas

O tomate (Solanum lycopersicum L.) tem grande importância econômica, devido ao elevado consumo. No Brasil é a segunda hortaliça mais consumida. No entanto, é uma cultura de custo elevado, estima-se que para o cultivo de 1ha de tomate sejam gastos em média R$ 100 mil por ano. Além dos insumos, o controle de pragas representa um grande gargalo da produção. Dentre as pragas do tomateiro destaca-se a Liriomyza spp. (Diptera: Agromyzidae), conhecida popularmente como mosca-minadora, larva-minadora, minador ou riscador. Referem-se a quatro espécies principais que são pragas no Brasil, Liriomyza huidobrensis, L. sativae, L. trifolii e L. brassicae. Dentre as espécies de mosca-minadora associadas ao tomateiro, L. huidobrensis se destaca por ser uma praga economicamente importante e de proporções globais, podendo reduzir o rendimento da cultura do tomate em até 15%.

O principal dano da mosca-minadora no tomate é provocado pela alimentação das larvas, que consomem o mesófilo foliar formando minas, o que causa consequentemente a redução da atividade fotossintética da planta hospedeira. Também pode ser observada a presença de puncturas de formato arredondado e coloração branca, ocasionadas pela alimentação e deposição dos ovos pela fêmea. Estima-se que 18% de área foliar com minas provoque a redução de 60% na taxa de fotossíntese dos folíolos.

Por ser altamente polífaga com altas taxas reprodutivas e rápida seleção de populações resistentes a inseticidas, a mosca-minadora deixou de ser uma praga secundária e assumiu caráter de praga-chave em vários cultivos. Trata-se de um caso clássico de surto de praga secundária, em que houve a seleção de populações resistentes devido a aplicações sucessivas de produtos químicos. Para que haja o controle efetivo e as perdas sejam reduzidas é necessário conhecer a praga, identificar os sintomas corretamente e os níveis de controle para a tomada de decisão.

A praga

Os adultos são moscas pequenas com cerca de 2mm de comprimento, de coloração acinzentada a preta, com manchas amarelas. As oviposições são quase imperceptíveis, já que os ovos são bem pequenos (1mm comprimento e 0,2mm de largura), branco-acinzentados ou amarelados translúcidos. Além disso, são depositados pelas fêmeas no interior do tecido foliar ou epiderme dos frutos, dificultando a observação.

A eclosão das larvas ocorre mais ou menos três dias após a oviposição, sendo a temperatura um fator determinante no ciclo da praga. As larvas da mosca-minadora são pequenas (2mm a 3mm) e apresentam cor amarelada. Assim que eclodem, passam a se alimentar do tecido das folhas, formando galerias. Devido às características da alimentação das larvas é fácil o reconhecimento em campo. O estágio de larva dura de cinco a sete dias. Após esse período, saem da mina e empupam na superfície das folhas, no solo ou dentro das folhas.

Adultos de L. huidobrensis. Foto: Rodolfo Araya
Adultos de L. huidobrensis. Foto: Rodolfo Araya

Monitoramento do ambiente de cultivo

O levantamento das pragas nos sistemas de cultivo é uma ferramenta importante para a tomada de decisão. A amostragem da mosca-minadora pode ser realizada com o uso de métodos de observação simples. A ocorrência da praga pode ser detectada a partir da observação da ocorrência de adultos na área de cultivo, bem como pela presença das minas na superfície foliar.

Para o monitoramento, podem ser utilizadas bandejas de plástico com água e detergente sob a folhagem das plantas no campo, de forma aleatória. Assim, as pupas que caírem das folhas podem ser coletadas, ou mesmo observar se houve parasitismo das larvas na ausência de formação de pupas.

As armadilhas adesivas são ferramentas bastante úteis para amostragem de pragas. Já que os adultos são atraídos pela cor, ficam fixados na superfície adesiva, o que auxilia na detecção da presença ou ausência da praga. No caso da mosca-minadora, as armadilhas adesivas na cor amarela são as que proporcionam melhor resultado. Além de auxiliar no monitoramento da praga, podem ser utilizadas como método de controle, quando há baixas populações.

A amostragem das plantas deve ser realizada semanalmente, através da inspeção das folhas do terço superior, observando a presença de furos na epiderme ou minas. Os furos são características que indicam a oviposição das fêmeas da mosca-minadora. Para facilitar a amostragem, a área deve ser dividida em talhões. Os pontos amostrais devem representar o talhão de forma a fornecer informações como o número de plantas minadas e a média de minas por folha composta do tomateiro. Em talhões de até 10ha são recomendados 73 pontos de amostragem, para um posicionamento de controle assertivo.

Pupa de L. huidobrensis sobre a superfície da folha. Foto: José Romário de Carvalho.
Pupa de L. huidobrensis sobre a superfície da folha. Foto: José Romário de Carvalho.

Para o tomateiro, o nível de ação se dá quando 25% das folhas avaliadas apresentam sinais da praga. O nível de dano econômico para L. huidobrensis é atingido quando se tem em média 3,24 larvas ou mais por folha amostrada.

Galerias feitas pelas larvas no interior da folha, danos característicos da alimentação das larvas
Galerias feitas pelas larvas no interior da folha, danos característicos da alimentação das larvas

Posicionamento de controle

Para a regulação da mosca-minadora nos cultivos de tomate, a adoção do Manejo Integrado de Pragas é uma estratégia bastante válida. Conhecer a praga e as condições dos sistemas de cultivo auxilia no posicionamento adequado das táticas de controle. A mosca-minadora passou a ser uma praga expressiva para os cultivos de tomateiro há pouco tempo, sendo a adoção de boas práticas agrícolas uma estratégia valiosa na redução populacional da praga. Controle cultural através da destruição dos restos culturais, monitoramento de plantas daninhas que possam servir como hospedeiras da praga, controle biológico e controle químico com produtos seletivos a inimigos naturais são bons exemplos. 

O uso de inseticidas seletivos aos inimigos naturais é bastante importante, já que auxilia na mortalidade natural ocorrida no agroecossistema. A L. huidobrensis é originária da América do Sul havendo, portanto, vários agentes de controle biológico nativos capazes de reduzir os níveis de infestação. 

A principal tática de manejo utilizada para a mosca-minadora é o controle químico, direcionado principalmente para a fase larval da praga. Todavia, essa tática de controle é dificultada devido à biologia da praga, que possui ciclo curto, alta fecundidade, tamanho reduzido e fase de pupa no solo, bem como pelo hábito da fase imatura que se alimenta na parte interna da folha.

O controle biológico pode ser utilizado de forma conjunta com o controle químico, como forma de aumentar a eficiência na mortalidade natural da mosca-minadora por meio de predadores e parasitoides. Existem inúmeros inimigos naturais capazes de regular as espécies de mosca-minadora em campo, como os parasitoides Opius sp. (Hymenoptera: Braconidae), Chrysonotomyia ((Ashmead) Hymenoptera: Eulophidae), Diglyphus insularis (Hymenoptera: Eulophidae), Anagrus sp. (Hymenoptera: Mymaridae), pequenas vespas capazes de parasitar os insetos no interior da folha.

Espécies predadoras também são eficientes no controle de larvas de mosca-minadora. Entre os predadores é possível destacar espécies de bicho-lixeiro (Neuroptera: Chrysopidae), tesourinhas (Dermaptera), vespas (Himenoptera: Vespidae), formigas (Hymenoptera: Formicidae) e besouros (Coleoptera) que se alimentam de larvas e/ou pupas da mosca-minadora.

Buscar alternativas de controle que diminuam a pressão de seleção das pragas favorece o sucesso das táticas de controle propostas para o manejo da mosca-minadora. As poucas alternativas de inseticidas registrados para a praga reforçam a importância do uso do MIP para o posicionamento de táticas que, combinadas, proporcionarão melhores resultados no controle que se usadas de forma isolada.

Franciely da Silva Ponce, Claudia de Lima Toledo, Nadja Nara Pereira da Silva e Regiane Cristina Oliveira de Freitas Bueno, Unesp 

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