Integração das atividades agrícolas com apicultura e meliponicultura
Abelhas e atividade agrícola podem e devem conviver em equilíbrio, com benefícios mútuos
A condução da cafeicultura requer racionalidade, com ajustes na utilização dos insumos e serviços, evitando a forma generalizada do consumo excessivo de adubos na nutrição dos cafeeiros e de agroquímicos no controle de pragas, doenças e plantas daninhas, que causam oneração da produção e impactos na lavoura.
Nesse processo, o manejo de plantas daninhas absorve parte dos recursos da produção do café, influenciando no rendimento da lavoura, sendo o desafio maior de se ter a convivência do cafeeiro com essas espécies infestantes, resultando em benefícios.
Um diagnóstico consistente contribuirá para a determinação de um adequado sistema de manejo integrado das plantas daninhas, proporcionado pela combinação, simultaneidade e rotatividade com outros manejos e métodos de controle, em composição com as demais práticas de produção, permitindo uma melhor convivência da cultura do café com essas plantas infestantes.
O manejo capina consiste no trilhamento ou limpeza da faixa junto à linha de cafeeiros com o uso da enxada, porém essa prática demanda muita mão de obra e tem um custo oneroso em áreas de lavouras novas e em áreas com declive acentuado. É preciso, ainda, cuidado para não causar ferimentos aos cafeeiros e evitar o corte de mangueiras de irrigação.
Outra forma de capina é a roçada manual com foice, utilizada para o corte da parte aérea das plantas daninhas de maior desenvolvimento em altura e com maior concentração de massa verde, sendo seu resíduo usado como cobertura do solo no fornecimento de matéria orgânica, nutrientes e proteção do solo. Outro equipamento opcional é a roçadora costal motorizada, que apresenta um bom rendimento e baixo custo operacional, exigindo apenas um pequeno treinamento para o operador.
Os métodos de controle mecânico das plantas daninhas do café apresentam alto rendimento e maior economia, principalmente nas médias e grandes lavouras. A tração motora é realizada por tratores pequenos, de bitolas estreitas e do tipo cafeeiro, que fazem o arrasto dos implementos agrícolas como grade, roçadora e trincha.
A grade cultivadora é leve, composta por discos, que fazem a capina durante seu arrasto sobre o solo, principalmente nos cafezais em formação. O uso de grades pesadas não é aconselhável em cafezais adultos, pois ocorre corte de raízes, e seu uso excessivo pode causar pulverização do solo, favorecendo a erosão e a lixiviação de argila formando camada adensada.
A roçadora é regulável quanto à altura de corte das plantas daninhas, devendo-se usar sempre antes da maturação fisiológica de suas sementes na planta. No período chuvoso, o manejo com roçadora permite manter as plantas daninhas vegetando com altura controlada e promover a formação de uma cobertura de palha sobre o solo.
A trincha é um equipamento composto por um rotor munido de martelos, que acionado pela força de tração do trator produz um efeito triturador dos restos vegetais, promovendo o aproveitamento de resíduos orgânicos oriundos das plantas daninhas e também resíduos dos próprios cafeeiros.
Em lavoura jovem deve-se fazer a aplicação de herbicida de pré-emergência em solo limpo ou sobre baixa cobertura de plantas daninhas, usando o herbicida Goal com jato dirigido. Para o caso de plantas daninhas um pouco maiores, pode-se aplicar uma mistura do oxifluorfem (éter difenílico) com herbicidas seletivos, evitando atingir as mudas novas. Na aplicação de herbicidas pós-emergentes, mesmo com as entre linhas abertas, deve-se evitar a deriva e a fito-toxidez aos cafeeiros, usando herbicidas seletivos como a mistura de haloxifope-P-metílico (ácido ariloxifenoxipropiônico) ou cletodim (oxima ciclohexanodiona) para plantas daninhas de folhas estreitas, e a combinação cletodim (oxima ciclohexanodiona) ou haloxifope-P-metílico (ácido ariloxifenoxipropiônico) mais clorimuron para plantas daninhas de folhas largas. Também podem ser usados herbicidas à base de glifosato ou sua combinação com outros mais específicos para plantas de folhas largas, fazendo-se a proteção do cafeeiro, usando barras, carrinhos aplicadores ou bico espuma, tendo a proteção do chapéu de Napoleão. No site do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), existe uma lista de herbicidas e de recomendações básicas de aplicação para a cultura do café.
Em cafezal adulto, o controle químico das plantas daninhas nas entre linhas dos cafeeiros se mostra com maior rapidez, mais rendimento e menos operários, entretanto exige produtos e equipamentos adequados e mão de obra capacitada. Os herbicidas pré-emergentes serão aplicados em solo limpo e úmido, estando as plantas daninhas em fase inicial de emergência após a arruação em invernos úmidos e após esparramação no início das chuvas. Os herbicidas pós-emergentes serão aplicados sobre as plantas daninhas de maior porte, podendo ser no início do período chuvoso após a emergência e no final do período chuvoso ou fase de pré-colheita. Pode-se realizar aplicação em faixas próximas à saia do cafeeiro, principalmente no intenso período chuvoso, ou fazer aplicação em área total em toda rua ou entre linha da lavoura.
A infestação das plantas daninhas na cultura do café exige atenção durante todo o ano, recomendando-se que no período seco o cafezal deva estar livre de suas interferências quanto à concorrência por nutrientes e água disponível no solo. Entretanto, no período chuvoso deve-se evitar que o solo fique totalmente descoberto, principalmente nas entrelinhas dos cafeeiros para que não ocorram processos de erosão.
Culturas de adubação verde como as espécies leguminosas e gramíneas promovem a supressão de plantas daninhas por influência da cobertura do solo e da produção de biomassa, sendo os mecanismos de supressão decorrentes da competição por luz provocada pelo sombreamento e da interferência da composição de seus aleloquímicos.
A leguminosa lablabe proporciona maior cobertura do solo e maior predomínio da vegetação sobre a infestação de plantas daninhas. A lablabe no primeiro ano e o amendoim-forrageiro no segundo apresentaram maior produção de biomassa. As leguminosas lablabe e siratro no primeiro ano e o amendoim-forrageiro no segundo proporcionaram menor densidade e biomassa das plantas daninhas. As leguminosas, em comparação com a prática de capinas, promoveram maior umidade do solo e menor infestação das plantas daninhas no primeiro ano de implantação.
Dentre as gramíneas para intercalação na lavoura cafeeira, a Brachiaria ruziziensis tem sido implantada em novas áreas, pois germina rápido, perfilha muito bem e proporciona maior cobertura sem promover a formação de muitas touceiras. A Brachiaria brizantha pode provocar efeito químico causado por toxinas seletivas desenvolvidas por ácidos e requerendo atenção na intervenção de manejo na lavoura. A Brachiaria humidicola e a Brachiaria decumbens possuem maior capacidade de inibição da nitrificação no solo, cujo consórcio com o café pode contribuir para a qualidade do solo.
A cobertura morta com palha reduz a infestação das plantas daninhas pelo efeito do sombreamento e de lixiviação de substâncias químicas. O capim braquiária, cultivado com roço nas entre linhas do café, oferta muita palha para cobertura e matéria orgânica. A biomassa das gramíneas se decompõe de forma mais lenta com mais tempo sobre o solo, e as leguminosas se decompõem com menos tempo.
Casca de café é outra opção, pois além de sua compostagem, pode ser utilizada de forma direta na lavoura para cobertura morta do solo no controle das plantas daninhas por seu efeito físico e químico. Apresenta maior disponibilidade na propriedade, características favoráveis na proteção do solo do cafezal e capacidade de devolver à lavoura os nutrientes extraídos pela produção, principalmente o potássio.
Existe tendência para o uso de recursos tecnológicos mais avançados no manejo das plantas daninhas em café através da agricultura de precisão, cujo sistema de gerenciamento da produção é baseado na aplicação de taxa de insumos e serviços com base na variabilidade espacial e temporal, que favorece a sustentabilidade da lavoura. Entretanto, ocorrem limitações de uso, requerendo maior divulgação de informações, equipamentos adaptados ao cafezal, redução dos custos de aquisição e mais oferta de capacitação.
Como recursos tecnológicos utilizados no controle de plantas daninhas do café, pode ser contemplado o uso de drones na identificação e localização de manchas ou reboleiras de plantas daninhas para mapeamento da infestação na lavoura e pulverizações seletivas de herbicidas a taxas variadas por pulverizadores com sensores de refletância espectral de luz vermelha ou sensores ópticos eletrônicos.
O mapeamento aéreo de talhões de café para identificação de áreas com maior e menor infestação de plantas daninhas consiste na coleta automática de dados através de drone acoplado com Sistema de Posicionamento Global Diferencial (DGPS) e com câmera digital, que capturam imagens georreferenciadas de alta resolução espacial e espectral do cafezal. Na consolidação dessas imagens se destaca a mancha ou reboleira de plantas daninhas compondo um mosaico que é analisado sobre a ótica da agricultura de precisão, para depois embasar a aplicação racional do manejo das plantas daninhas, podendo apresentar redução entre 40% e 60% das aplicações de herbicidas.
Na pulverização de herbicida com uso de sensor óptico eletrônico se destaca o sistema WeedSeeker, que realiza aplicação seletiva, cuja tecnologia utiliza circuito avançado de óptica e de computação para rastrear a presença de plantas daninhas através da leitura Normalized Difference Vegetation Index (NDVI). Com isto são determinadas as áreas de aplicação e calibração de doses dos herbicidas conforme a massa verde das plantas daninhas. Com isso evita pulverizar o solo sem planta e proporciona economia de produto, rendimento operacional e redução de serviços. Esse recurso é utilizado nos cultivos perenes de citricultura, silvicultura e viticultura, e pode ser adaptado à cultura do café após regulagem do comprimento da barra de pulverização e definição do número de sensores conforme o espaçamento da lavoura e arquitetura dos cafeeiros.
Outro exemplo que poder ser aplicado à cafeicultura, mas que exige adaptações de bitola da máquina e do equipamento da barra de aplicação, consiste na pulverização de herbicidas por um sistema WEEDit muito utilizado em grandes áreas de culturas anuais, sendo esta aplicação localizada de forma instantânea ou momentânea em plantas daninhas. Essa pulverização é direcionada por sensores eletrônicos acoplados à barra do pulverizador, que utiliza o princípio da refletância espectral de luz vermelha, permitindo a detecção imediata da planta daninha e o acionamento instantâneo da pulverização do produto, tornando possível a aplicação direcionada, parcelada e racional de herbicida.
Ainda como opção muito utilizada em pastagem, porém requerendo ajustes da bitola do equipamento e da barra de aplicação para a cultura do café, existe o aplicador seletivo de herbicida “Campo Limpo”, da Embrapa Pecuária Sul, que aplica o herbicida diretamente na planta daninha, devido à diferença de altura entre as plantas de pastejo e as espécies infestantes, que são rejeitadas pelos animais e ganham expressão em altura. A aplicação do herbicida por aplicadores umedecidos ocorre sem o uso de pulverização, evitando riscos de deriva e de inalação do defensivo pelo operador.
Nas inovações para condução da cafeicultura visualizam-se pesquisas em busca de alternativas de manejo de plantas daninhas que promovam a interação dos mecanismos culturais e tecnológicos, envolvendo recursos de imagens de satélites, sensoriamento remoto, sistema georreferenciado, mapas digitais, diagnóstico de imagens, mecanização agrícola, sensores eletrônicos, inteligência artificial, visão computacional, tecnologia da informação, automação, nanotecnologia, biotecnologia, biologia vegetal, controle biológico e herbicida natural.
Julio Cesar Freitas Santos, Embrapa Café
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