La Niña influencia cenário climático para o verão 2026

Boletim do Inmet traz tendências de chuva, temperatura e umidade do solo entre dezembro de 2025 e fevereiro de 2026

11.12.2025 | 16:36 (UTC -3)
Revista Cultivar, a partir de informações do Inmet

O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) divulgou nesta quinta-feira (11/12) o Boletim Agroclimatológico Mensal com o prognóstico para dezembro de 2025 e os meses de janeiro e fevereiro de 2026. O relatório traz a tendência climática para o trimestre e apresenta estimativas dos níveis de água no solo, informações essenciais para planejamento de plantio, manejo hídrico e avaliação de risco agrícola em todas as regiões do país.

O boletim é influenciado pela transição para o fenômeno La Niña, já indicado pelo resfriamento das águas do Pacífico Equatorial, e pela neutralidade do Dipolo do Atlântico, que modula o regime de chuvas no Norte e Nordeste.

Região Norte

O modelo do Inmet indica chuvas acima da média na maior parte da Região Norte. No sudeste do Pará e Tocantins, porém, são previstos volumes abaixo da climatologia. As temperaturas devem ficar até 1 °C acima da média em praticamente todos os estados.

No início do trimestre, Roraima, centro-norte do Pará, Amapá e norte do Tocantins podem registrar armazenamento hídrico inferior a 30%, mas essa área tende a diminuir a partir de janeiro. Ainda assim, o noroeste do Pará, extremo oeste do Amapá e Roraima devem enfrentar déficit hídrico superior a 60 mm em dezembro, condição que pode afetar culturas anuais implantadas antecipadamente e a formação de pastagens.

A partir de fevereiro, a regularização das chuvas aumenta a disponibilidade hídrica na maior parte da região, exceto em Roraima, onde o déficit persiste.

Região Nordeste

No Nordeste, o boletim aponta chuva abaixo da média em grande parte do interior, enquanto o litoral norte deve ficar próximo da climatologia. As temperaturas tendem a permanecer entre 0,5 °C e 1 °C acima da média.

O armazenamento de água no solo deve permanecer abaixo de 20% no centro-leste da região durante todo o trimestre, intensificando o déficit hídrico, especialmente em dezembro — quando valores superiores a 130 mm são previstos do litoral do Maranhão ao Rio Grande do Norte e no norte da Bahia.

Essa condição pode limitar o desempenho das culturas de sequeiro, exigindo manejo conservacionista, escalonamento de plantio e uso de materiais mais tolerantes ao estresse hídrico.

Por outro lado, áreas do Maranhão, oeste do Piauí, oeste da Bahia e extremo norte do Ceará devem apresentar recuperação gradual do armazenamento hídrico em fevereiro, favorecendo o desenvolvimento das culturas e a melhoria das pastagens.

Região Centro-Oeste

Para Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e sul de Goiás, a previsão indica chuvas próximas ou acima da média, com temperaturas até 1 °C acima da climatologia. No Distrito Federal, centro-norte de Goiás e áreas do sudoeste do MT e noroeste do MS, as chuvas devem ficar abaixo da média.

Os níveis de umidade do solo devem ultrapassar 80% em janeiro na maior parte da região, criando condições favoráveis ao plantio e à germinação das lavouras de soja e milho primeira safra.

Entretanto, o modelo também aponta excedentes hídricos no MT e GO em dezembro e janeiro, o que pode dificultar operações mecanizadas e atrasar manejos em áreas com menor drenagem.

Região Sudeste

A previsão indica volumes acima da média no estado de São Paulo, centro-sul de Minas Gerais e Espírito Santo. Já o centro-norte de Minas e áreas pontuais do RJ e nordeste paulista devem ter chuvas próximas ou abaixo da climatologia.

As temperaturas permanecem elevadas, principalmente no noroeste mineiro e oeste paulista, com até 1 °C de anomalia positiva.

O armazenamento hídrico tende a ficar acima de 70% na maior parte da região — condição positiva para o desenvolvimento das culturas de verão. O norte de Minas, Espírito Santo e áreas isoladas do Rio de Janeiro, porém, podem registrar disponibilidade abaixo de 50% entre janeiro e fevereiro.

Excedentes hídricos podem ocorrer no centro-sul de Minas e leste paulista, favorecendo o estabelecimento das lavouras, mas exigindo atenção ao manejo de solo. Em fevereiro, esses excedentes tendem a se reduzir.

Região Sul

O boletim aponta chuvas acima da média no norte e leste do Paraná e no litoral de Santa Catarina. No restante da região, os volumes devem variar entre próximos e abaixo da média, com maior redução no sudoeste do Rio Grande do Sul.

As temperaturas devem ficar até 1 °C acima da média, principalmente no RS, centro de SC e leste do PR.

A maior parte da região mantém umidade no solo acima de 70%, exceto no centro-sul do RS, onde os estoques podem ficar abaixo de 30%. O excesso de umidade previsto no PR, SC e nordeste do RS deve gerar excedentes hídricos acima de 30 mm, interferindo na colheita do trigo, atrasando a semeadura das culturas de primeira safra e reduzindo a trafegabilidade de máquinas.

No extremo sul do RS, o trimestre pode apresentar déficit moderado, exigindo atenção à irrigação suplementar.

Condições oceânicas

A análise oceânica mostra neutralidade do Dipolo do Atlântico, com anomalias discretamente positivas no Atlântico Norte e negativas no Atlântico Sul, o que pode deslocar a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) para norte, desfavorecendo chuvas no litoral do Nordeste.

Anomalia mensal da temperatura da superfície do mar (ºC) na região de Niño 3.4
Anomalia mensal da temperatura da superfície do mar (ºC) na região de Niño 3.4

No Pacífico Equatorial, a anomalia negativa de -0,7 °C na região Niño 3.4 confirma o avanço para uma fase La Niña, com probabilidade de 53% para o trimestre DJF/2025-2026, segundo o IRI. Entre janeiro e março, a tendência é de retorno à neutralidade (65%).

O fenômeno tende a modular o regime de chuvas no país, influenciando o comportamento das frentes frias, da ZCIT e da umidade amazônica — elementos críticos para o planejamento agrícola.

Previsão probabilística de ENOS do IRI para ocorrência de El Niño ou La Niña; fonte: adaptado de IRI
Previsão probabilística de ENOS do IRI para ocorrência de El Niño ou La Niña; fonte: adaptado de IRI

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