Soja: custo de produção cai 20% em MS
Especialmente quando o assunto é segurança energética, representantes de governos, cientistas e analistas em todo o mundo têm chegado a conclusões muito distintas a respeito da suficiência futura dos recursos provenientes dos biocombustíveis.
Lee Rybeck Lynd, professor do Dartmouth College, nos Estados Unidos, destacou em evento na sede da FAPESP que a maior parte dessas conclusões, descritas em artigos científicos ou apresentadas em conferências, se baseiam em variáveis que vão das limitações e da disponibilidade de terras para a produção de biomassa vegetal até a garantia do oferecimento em larga escala dos produtos e serviços de energia.
“Esses fatores são determinados pelos interesses econômicos mundiais e pelas limitações físicas do planeta. Em um grau substancial, as conclusões sobre o fornecimento de biomassa têm gerado diferentes expectativas a respeito da disposição e da capacidade dos pesquisadores em promover mudanças e gerar inovações tecnológicas na área dos biocombustíveis”, afirmou.
“E sabemos que ainda existem muito poucas inovações na área de energias provenientes de biomassa”, complementou durante a palestra “Produção global e sustentável de bioenergia”, realizada no BIOEN Workshop on Process for Ethanol Production, nesta quinta-feira (10/9), em São Paulo, após a abertura do evento feita pelo presidente da FAPESP, Celso Lafer. O workshop foi realizado no âmbito to Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN).
Há mais de 30 anos Lynd estuda rotas tecnológicas para a geração de biocombustíveis a partir da celulose, provenientes de diferentes fontes como resíduos de madeira e milho, além do bagaço e da palha da cana-de-açúcar – esses dois últimos, segundo estimativas, representam dois terços da energia da planta.
Na corrida pelo etanol de segunda geração, o grupo de pesquisa coordenado por Lynd na Thayer School of Engineering do Dartmouth College investe no “bioprocessamento consolidado”, técnica na qual as quatro transformações biológicas envolvidas na produção do bioetanol – produção de enzimas, sacarificação, fermentação de hexoses e fermentação de pentoses – ocorrem em uma única fase.
“Se o nosso objetivo é consolidar mundialmente um setor de transportes eficiente e sustentável, sem os biocombustíveis essa meta será muito difícil, arriscada e mesmo improvável. E, nesse contexto, a biomassa celulósica permanece bastante promissora para os próximos anos”, apontou.
Segundo ele, no contexto da produção de biocombustíveis em larga escala, capaz de atingir pelo menos 25% da demanda por mobilidade global, “a cana-de-açúcar é certamente a que tem mais mérito quando comparada com outras matérias-primas estudadas atualmente”.
Convergências e divergências
Para Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, muitos são os assuntos que tendem a unir os cientistas em torno dos biocombustíveis, mas também é preciso atentar aos pontos que tendem a dividir as comunidades de pesquisadores. “O tema da segurança energética, por exemplo, é um problema nacional e cada país tem suas próprias necessidades e visões sobre ele”, disse.
“É preciso deixar claro, portanto, que os biocombustíveis a partir da celulose podem contribuir para aliviar as diferentes opiniões sobre segurança energética, devido às possibilidades de produzi-los a partir do açúcar e também da celulose de resíduos e sobras florestais, sem a necessidade de mais área plantada”, afirmou.
Lynd destacou também a importância do Global Sustainable Bioenergy: Feasibility and Implementation Paths, projeto coordenado por ele e que reúne uma equipe internacional de cientistas para o estudo das possibilidades de uso dos biocombustíveis em nível mundial e em larga escala, partindo, em parte, da experiência brasileira de produção de etanol a partir da cana-de-açúcar.
Pelo lado brasileiro, participam do comitê organizador das reuniões do projeto Brito Cruz e José Goldemberg, pesquisador do Centro Nacional de Referência em Biomassa, vinculado ao Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) da Universidade de São Paulo (USP). As reuniões ocorrerão nos Estados Unidos, África do Sul, Malásia, Holanda e no Brasil.
“Sabemos que as diversas percepções sobre as limitações que envolvem o uso da terra são mais originadas na Europa e nos Estados Unidos do que no continente sul-americano ou africano. Essa é uma das razões pelas quais o projeto deve ser global, a fim de que representantes de todos os países possam conversar abertamente sobre visões distintas”, disse.
Lynd lembrou, no entanto, que, do ponto de vista de alguns países menos privilegiados, a dependência de fornecedores de biocombustíveis externos também deverá gerar impactos econômicos distintos, “apesar de que a energia produzida a partir da biomassa pode ser muito melhor e mais igualmente distribuída ao redor do mundo quando comparada ao petróleo”.
“Nesse contexto, o Brasil é o berço da moderna indústria de biocombustível e devemos honrar o progresso do país na liderança de uma base sólida de recursos sustentáveis. Comparado a outras culturas e às sementes oleaginosas, investir na cana-de-açúcar realmente faz muito mais sentido atualmente, mesmo que o mundo resista à expansão dessa cultura, que também tem um potencial de replicação geográfica limitado”, destacou.
Para ele, o estudo de outras culturas agrícolas mais replicáveis, por outro lado, permitirá que mais países cheguem a um consenso com relação ao futuro da energia gerada pela biomassa. “Os chineses, por exemplo, dizem não ter espaço e nem terra disponível para a geração de biocombustíveis”, disse.
“Mas, nesse caso, se outras nações ajudarem os chineses a pensar na reconfiguração de suas terras de pastagens, por exemplo, podemos aos poucos trazer ao debate países que hoje parecem estar de fora e que certamente fazem parte desse futuro de biomassa. As mesmas questões que aparentemente dividem os países podem se tornar uma razão a mais para uni-los”, concluiu.
Thiago Romero
Agência FAPESP
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