Investidores italianos buscam a Embrapa para diversificar a produção

Interesse é a produção de pequenos frutos e cereais de inverno para rotação com a soja

06.04.2022 | 13:56 (UTC -3)
Embrapa
Grupo que esteve na Embrapa Trigo. - Foto: Joseani Antunes
Grupo que esteve na Embrapa Trigo. - Foto: Joseani Antunes

Um grupo de investidores italianos visitou a Embrapa Trigo, em Passo Fundo, RS, no dia 04/04, com o objetivo de conhecer alternativas para diversificar a produção na propriedade administrada no Rio Grande do Sul. O interesse é a produção de pequenos frutos e cereais de inverno para rotação com a soja.

A família Bucchi chegou ao Brasil em 1954, quando fundou a Fazenda Santa Rita, em Campinas do Sul, município na região nordeste do RS. A criação de gado e o cultivo de milho deram lugar a soja, mas o herdeiro Massimo Bucchi acredita no potencial da agricultura no Brasil voltada à produção de alimentos de maior valor agregado.

“Acredito que podemos maximizar a renda por hectare utilizando a propriedade de forma mais intensiva e com melhor uso da tecnologia disponível”. O italiano, que ainda mantém seus negócios na região de Bolonha, ao norte Itália, decidiu ampliar os investimentos na propriedade rural no Brasil, hoje com 3 mil hectares (ha). A paixão pelo mirtilo, fruto amplamente consumido na Europa e com mercado crescente no Brasil, é a primeira alternativa elencada por Massimo. O projeto prevê a divisão da propriedade em 50% para a produção de grãos e outros 50% para a fruticultura.

De acordo com o pesquisador Luis Eduardo Antunes, da Embrapa Clima Temperado,  Pelotas, RS, que participou do encontro de forma virtual, o Brasil conta hoje com menos de 300 ha com cultivo de mirtilo. A produtividade varia de 4 a 12 toneladas/ha. As variedades que estão em cultivo são argentinas e americanas, com adaptação aos diversos microclimas da Região Sul.

“Existem variedades que exigem mais frio e outras menos tolerantes a geadas, por isso é preciso conhecer bem as características do clima e ambiente da região. Nas regiões mais quentes as plantas podem começar a produzir frutos em até um ano, enquanto no frio a produção comercial pode demorar até três anos para iniciar”, explica o pesquisador.

“Os solos ácidos da região noroeste do RS podem favorecer o cultivo do mirtilo”, avalia Andrá Di Rossi, pesquisadora da Embrapa Uva e Vinho, mas é necessário fazer a correção do alumínio no solo, que limita o crescimento das plantas. “Vamos identificar os microclimas dentro da propriedade e fazer a amostragem do solo para testar o cultivo do mirtilo, previsto inicialmente para 10 hectares”, conta o consultor técnico Araquém Ranzeto.

O projeto com mirtilo prevê o abastecimento do mercado interno, nacional e regional, além de avaliar outras possibilidades como kiwi e azeitonas. Atualmente o estado do RS é referência para investidores estrangeiros em pequenos frutos, com iniciativas bem sucedidas na costa doce e na serra, com a produção gaúcha voltada à exportação para suprir a demanda de pequenos frutos durante o inverno europeu.

“Enquanto o inverno na Europa e nos Estados Unidos limita a produção de frutas, nosso inverno sul-brasileiro é propício para a produção de pequenos frutos e citros. Esta condição ambiental favorece as exportações”, explica Casiane Tibola, pesquisadora da Embrapa Trigo, .

Dependência da monocultura

“A soja tem se mantido atrativa, mas não podemos depender apenas de uma cultura. Qualquer problema climático ou mesmo oscilação no mercado pode inviabilizar a propriedade”, considera o investidor Massimo Bucchi.

Além de diversificar a matriz produtiva na propriedade com pequenos frutos, Bucchi pretende movimentar a área com grãos também no inverno, investindo em cereais para forrageamento animal. “Vamos experimentar os trigos para pastejo, que terão dupla finalidade: cobrir o solo, reciclando os nutrientes; e alimentar o gado gerando uma segunda renda na integração lavoura-pecuária”, conclui o técnico Araquém Ranzeto.

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