Integração de lavoura e pecuária reduz infestação de caruru em plantios de soja

Estudo aponta que a implantação do azevém na estação fria pode reduzir em até 90% a infestação da planta daninha e destaca a importância de estratégias integradas de manejo

07.03.2023 | 08:43 (UTC -3)
Felipe Rosa, edição Cultivar
Foto: Felipe Rosa
Foto: Felipe Rosa

Pesquisas da Embrapa, Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul) e da empresa Três Tentos demonstraram que a integração da lavoura de verão com a pecuária no inverno pode reduzir em até 90% a infestação de caruru (Amaranthus hybridus) em soja.

Segundo estudo prévio avaliando a interferência negativa de caruru, uma planta dessa espécie pode causar redução da produtividade da soja na ordem de 4,5% por metro quadrado, no primeiro ano, e de 8,3%, no segundo ano. Além disso, o relato da resistência do caruru ao glifosato, principal herbicida empregado no campo, aponta a necessidade de estratégias integradas de manejo de plantas daninhas para controlar a infestação.

A pesquisa aponta que a implantação do azevém na estação fria pode funcionar como uma barreira física para o crescimento do caruru, pois a palhada resultante da dessecação da forrageira dificulta o estabelecimento desta espécie daninha.

Além disso, a pesquisadora da Embrapa, Fabiane Lamego, recomenda a prática da semeadura direta e o uso de herbicidas pré-emergentes seguindo as recomendações corretas de uso para evitar que o banco de sementes do solo seja abastecido com as plantas indesejadas.

A integração de diferentes formas de controle é fundamental para reduzir a pressão de seleção de plantas daninhas resistentes ao controle químico. “O manejo de plantas daninhas resistentes ao glifosato, no sistema integrado com pastagem no inverno e lavoura no verão, favorece o controle na fase mais crítica (lavoura) e reduz a pressão de seleção de novos biótipos resistentes", ressalta o professor do IFSul, Carlos Schaedler.

Em sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP) no Sul do Brasil, o cultivo de espécies como azevém e aveia-preta no inverno para pastejo, sucedido pela lavoura no verão, já é prática bastante comum. No entanto, é importante realizar o manejo do pasto de forma adequada, respeitando os princípios técnicos para reduzir o fluxo de emergência de plantas daninhas no estabelecimento inicial da soja em sucessão.

De acordo com Marlon Bastiani, pesquisador da Três Tentos, as estratégias integradas de manejo de plantas daninhas dão sustentabilidade ao uso de métodos de controle importantes como o uso de herbicida. “Esse, se bem posicionado e com planejamento na rotação de mecanismos de ação herbicidas, tende a controlar eficientemente as plantas daninhas e atrasar a evolução para novos casos de resistência”, completa o pesquisador.

Dados sobre a pesquisa

Os experimentos foram realizados na Embrapa Pecuária Sul, em Bagé (RS), entre 2021 e 2022, e basearam-se na comparação de três sistemas: o primeiro com implantação de azevém no inverno e simulação de pastejo, com manutenção da pastagem em altura de 25 cm e posterior dessecação para formação de palhada; o segundo, com implantação de azevém no inverno e simulação de pastejo mais intenso, com manutenção da pastagem em altura de 10 cm e posterior dessecação para formação de palhada; e um terceiro com preparo convencional da área com aração e gradagem, sem implantação de pastagem de inverno. Todos os modelos foram sucedidos pelo plantio de soja no verão e avaliação da incidência da planta daninha caruru.

O primeiro sistema, com azevém mantido a 25 cm, proporcionou massa seca de parte aérea (MSPA) equivalente a 4,4 toneladas por hectare (t/ha) na dessecação para semeadura da soja, enquanto a parcela mantida a 10 cm de altura obteve MSPA de 2,7 t/ha. Na área testemunha, sem palhada/resíduo de pastejo e sem uso de herbicida pré-emergente, foram observadas 69,5 plantas/m² de caruru aos 12 dias após implantação da lavoura. Esse número foi reduzido em 48% na cobertura com 2,7 t/ha de azevém, manejado em altura de 10 cm. O melhor desempenho, porém, foi observado na parcela com azevém manejado a 25 cm e resíduo de 4,4 t/ha, onde houve 90% de redução da infestação do caruru na soja. A mesma situação foi observada na pré-colheita da soja, quando foram contabilizadas 42 plantas de caruru/m² no preparo convencional, contra 12 plantas/m² no manejo com azevém a 25 cm e resíduo de 4,4 t/ha.

Estudo prévio avaliando a interferência negativa de caruru mostrou que uma planta dessa espécie pode causar redução da produtividade da soja na ordem de 4,5% por metro quadrado, no primeiro ano, e de 8,3%, no segundo ano. Ou seja, pode ocorrer, na média, redução de 6,4% na produtividade da soja quando há presença do caruru. Na pesquisa realizada na Embrapa, a produtividade da soja também apresentou diferentes resultados em cada sistema. Em um ciclo de estiagem no Rio Grande do Sul, o sistema com maior cobertura alcançou 2,4 mil kg/ha do grão; o sistema com menor cobertura chegou a 1,6 mil kg/ha; enquanto na condição de semeadura convencional foram colhidos 969 kg/ha.

Conforme a pesquisadora da Embrapa, Fabiane Lamego, é essencial manter estratégias de manejo integrado, reunindo técnicas como o uso da palhada para dificultar o estabelecimento das plantas daninhas e a aplicação de herbicidas pré-emergentes seguindo as recomendações corretas de uso, para evitar que o banco de sementes do solo seja abastecido com as plantas indesejadas. Ela também recomenda a prática da semeadura direta, sem revolvimento do solo, fator que estimula as sementes de espécies daninhas presentes e favorece o estabelecimento do caruru. “A integração de diferentes formas de controle é fundamental para reduzir a pressão de seleção de plantas daninhas resistentes ao controle químico,” informa a pesquisadora.

“O manejo de plantas daninhas resistentes ao glifosato, no sistema integrado com pastagem no inverno e lavoura no verão, favorece o controle na fase mais crítica (lavoura) e reduz a pressão de seleção de novos biótipos resistentes. Isso porque se tira o foco exclusivo do controle químico e passa-se a usufruir das estratégias conjuntas da integração”, ressalta o professor do IFSul, Carlos Schaedler.

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